Entrevista

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Comandante reafirma missão de defesa da integridade territorial

Engrácia Francisco

Jornalista

A modernização dos equipamentos técnicos e as infra-estruturas, assim como a capacitação contínua do efectivo foram apontados como o principal foco da Força Aérea Nacional (FAN), segundo o general Virgínio António da Cunha Pinto, comandante da Força Aérea Nacional, na entrevista ao Jornal de Angola, em alusão aos 48 anos de existência daquele ramo das Forças Armadas Angolanas, que hoje se assinala

21/01/2024  Última atualização 08H11
© Fotografia por: Edições Novembro

Como avalia a Força Aérea Nacional, 48 anos após a sua criação?

A avaliação que faço dos 48 anos da Força Aérea é que, durante esse período de existência, desde a criação, em 21 de Janeiro de 1976, enquanto órgão importante das Forças Armadas Angolanas, alcançou vários ganhos nos diferentes domínios, como a conquista da paz, formação e apetrechamento com meios aéreos e a criação de infra-estruturas.

Por isso, estamos em condições de cumprir com as missões que nos cabem, quer na defesa e protecção do espaço aéreo, como também as secundárias, ou seja, aquelas em tempo de paz, que se cingem no socorro das populações vítimas das grandes calamidades naturais, assim como a evacuação de sinistrados e outros.

 
Pode-se garantir uma vigilância aérea eficaz, em caso de tentativa de violação do espaço aéreo?

Do ponto de vista de vigilância do espaço aéreo, os meios hoje são modernos e já não acontece como no passado. Temos uma organização que nos permite fazer o acompanhamento do movimento todo. Em função dos meios técnicos que existem, a cobertura do espaço aéreo, na sua totalidade, tem níveis. De forma geral cumprimos com o nosso papel.

 
O controlo do espaço aéreo é exclusivo da FAN ou já é partilhado com a aviação civil?

Do ponto de vista da vigilância do espaço aéreo, na vertente militar, é da nossa responsabilidade e estamos a evoluir para a partilha com as estruturas civis, tendo em conta que, há bem pouco tempo, foram apetrechados com meios modernos. Pelo que, temos trabalhado em conjunto, mesmo em relação ao Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto.

 
Que transformações significativas o ramo sofreu ao longo dos 48 anos?

Os aspectos mais significativos, para nós, sempre foram o homem, a formação, as infra-estruturas para os poder acomodar e a técnica, para que possam operar com os meios modernos que são atribuídos. Estes são os grandes ganhos que tivemos durante os 48 anos.

 
Neste período, quais foram as principais conquistas?

Foi essencialmente na formação do homem. Hoje temos, dentro da Força Aérea Nacional, quadros valiosos e capacitados para lidar com as técnicas complexas com as quais operamos. De forma resumida, foi o homem, infra-estruturas e o apetrechamento com técnicas.

 
O Presidente da República inaugurou, recentemente, o Centro de Vigilância Marítima. A FAN está preparada para garantir o acompanhamento e vigilância do espaço marítimo?

A isso nós chamamos de Sistema Integrado de Vigilância do espaço marítimo. Estamos a preparar os quadros que vão operar com os meios e, no momento oportuno, estaremos em condições para o cumprimento desta missão, que é a observação da faixa costeira, e transmitirmos os dados para o Centro Nacional de Coordenação da Marinha, que foi inaugurado pelo Presidente da República, João Lourenço, para depois, com força e meios, actuarmos para não permitir que violem constantemente as nossas águas.

 
Há uma migração da técnica da FAN, que era fundamentalmente de origem russa, para a Ocidental. Os quadros estão a adaptar-se a essa mudança?

Sempre tivemos a simbiose dos dois tipos de técnicas. A logística, do ponto de vista de acomodação, e técnica que possuímos vai ser necessário algumas intervenções, mas o que recebermos, ela vai se adequar.

 
Isso significa dizer que se deixa a técnica da Rússia?

Não. Sempre tivemos os dois tipos de técnicas, sendo a dominante a da Rússia e não há ideia de abandonar. 

 
Ainda em termos de técnicas, qual é o top da Força Aérea?

O nosso top é o avião de combate da FAN SU/30K, com uma grande capacidade para  cumprir missões quer de combate aéreo, quer de  ataque ao solo.

 
Tem capacidade de intercessão a nível do nosso território?

Apesar da localização das bases, o raio de acção do avião permite-nos cumprir com êxito as missões.

 
Ainda sobre a modernização, a Força Aérea projecta a construção de novas bases?

Do ponto de vista de criação de novas bases, ainda não temos novidades, vamos manter as que temos no país.

 
A Base do Negage vai ser reabilitada?

Temos em carteira, a partir dos órgãos superiores, como o Ministério da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria. Temos ali um núcleo de tropas e paulatinamente vamos fazer algumas obras de reabilitação e aumento da capacidade de formação e instrução básica militar.

 
Qual é a principal missão da Força Aérea em tempo de paz?

A nossa principal missão continua a ser a defesa da integridade nacional, a defesa do espaço aéreo e as missões secundárias que são o apoio e ajuda às populações, em caso de calamidades naturais e não só.

 
E como é que o ramo está a acompanhar os avanços tecnológicos que o mundo hoje conhece?

Não podemos ficar atrás. O objectivo é acompanhar a evolução tecnológica com as técnicas modernas. Temos feito muita leitura para obtermos os conhecimentos que o mundo, hoje, possui, do ponto de vista da técnica nas distintas Forças Armadas do mundo.

Como está o processo de formação do efectivo?

A formação do nosso efectivo é feita no exterior e no interior do país. Em Angola, temos um Instituto Superior da Força Aérea, onde damos formação para a promoção a capitão, oficial superior e comando e direcção. Temos a Escola Militar Aeronáutica e os Centros de Instrução Básica, em Saurimo, na Cahama e Negage.

 
Como é feito o ingresso na Força Aérea?

O primeiro passo é a recepção do indivíduo, cumpre os procedimentos e, se apresentar requisitos para a FAN, passa para os centros de instrução, para a formação básica.  Depois da formação,  seleccionamos os profissionais com perfil para piloto técnico, defesa antiaéria e outras especialidades a nível do ramo.

A estrutura satisfaz a procura, porque também nos apoiamos no exterior do país, principalmente com a Rússia, com quem temos uma boa cooperação  na formação de quadros em várias especialidades de asseguramento.

 
O que tem a dizer sobre o processo de rejuvenescimento do efectivo?

Do ponto de vista do rejuvenescimento do efectivo, com essas instituições, quer as que estão no país, como no exterior, damos a possibilidade aos efectivos da classe de oficiais superiores, capitães, subalternos e até praças que passaram para a reforma sejam substituídos pela nova camada de jovens que assumiram os cargos.

 
Sente que esses novos efectivos estão a receber bem as missões?

Sim. Sentimos que existe neles o espírito de aprender a todos os níveis e isso nos dá segurança. Aqueles que apresentam algumas dificuldades, insistimos nos diferentes níveis de formação.

 
Como está o interesse de mulheres na FAN? Até que ponto o órgão incentiva as mulheres?

Nós incentivamos bastante as mulheres. Temos pilotos de helicópteros, de aviação ligeira que, inclusive, participaram no desfile da tomada de posse do Presidente da República. Muitas estão a ser capacitadas com formações para ascenderem a outros tipos de aeronaves, principalmente a aviação de transporte. Não temos só o pessoal navegante técnico, mas também nas outras áreas de asseguramento, como nas telecomunicações, logística, posto comando. Portanto, a presença feminina sente-se com muita força nas diversas especialidades da FAN.

 
Quais são os grandes desafios e metas da FAN?

É cumprir com aquilo que está estabelecido nas directrizes do Presidente da República, investir mais na modernização dos equipamentos e, principalmente, no homem e ter sempre como foco aquilo que nos cabe, que é a defesa da integridade territorial, em conjunto com outros ramos das FAA, e a vigilância do espaço aéreo.

 
Nesta data, que mensagem deixa aos efectivos e aos jovens que pretendem ingressar nas FAN?

Aos nossos efectivos, peço que continuem a trabalhar com empenho e dedicação nas tarefas das diferentes áreas que ocupam, porque o ramo em que nos encontramos exige muito de nós.  Aos jovens, a nossa palavra é de foco na formação que lhes vai capacitar para ingressarem nos diferentes ramos das FAA. Devem ser humildes, porque, para cada um de nós, chega o momento de servir a Pátria e, neste momento, devem entrar com o espírito de cumprimento de missão, porque os cargos não são eternos e, a qualquer momento, podem vir a  substituir-nos.

Perfil

General Virgínio António da Cunha Pinto é natural da província de  Luanda, formado em Defesa Antiaérea, na Rússia. Ingressou nas Forças Armadas Angolanas (na altura Forças Armadas Populares de Libertação de Angola) em Dezembro de 1974.

Cunene acolhe acto central

O município da Cahama, província do Cunene, acolhe, hoje, o acto central das comemorações do Dia da Força Aérea Nacional, a ser presidido pelo chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), general de Aviação Altino dos Santos. Este ano, as comemorações decorrem sob o lema "Rejuvenescer com esperança no futuro”.

História da Força Aérea Nacional

A Força Aérea Nacional foi fundada a 21 de Janeiro de 1976, tendo como missão principal a defesa e vigilância do espaço aéreo nacional e a integridade territorial da Nação angolana.

Ao longo da sua existência, a Força Aérea atravessou várias etapas de desenvolvimento.

Numa primeira etapa, procedeu-se à integração de alguns quadros de relevo, provenientes da Guerrilha, com a finalidade de organizar o processo da fundação da Força Aérea.

Simultaneamente, procedeu-se à mobilização, recrutamento, selecção e incorporação de cidadãos formados, quadros pilotos e técnicos, que serviram a Força Aérea Portuguesa e Direcção de Transportes Aéreos(DTA).

De seguida, procedeu-se à ocupação das Instalações Aeronáuticas, com a finalidade de alojar o pessoal recentemente incorporado, acondicionamento de equipamentos e diversa tecnologia.

 Segunda etapa

Numa segunda etapa, procedeu-se à implementação da Estrutura Orgânica do Ramo, aquisição e emprego dos primeiros equipamentos, tais como aeronaves, radares de vigilância e artilharia antiaérea, bem como ao início da campanha de recrutamento de jovens estudantes levado a cabo em diversos estabelecimentos de ensino e à reorganização das Bases Aéreas de Luanda, Negage e Saurimo.

Entre 1977 e 1978, organizam-se as primeiras esquadras operacionais de ALL-III, MIG-17, de transporte e reconhecimento com aeronaves do tipo Northatlas, DC-3, Cessna e Islander.

Outros eventos de relevo

 A partir de 1978, regista-se a chegada dos primeiros quadros nacionais formados em Cuba e na ex-União Soviética, a recepção e implantação do Sistema de Defesa Antiaérea e da Rede de Radares de Vigilância do tipo P-37, P-15, P-12 e PRV-11.

 Ocorre, igualmente, a criação das Esquadras Operacionais de caça, equipadas com aeronaves MIG-21, de helicópteros, equipadas com aeronaves MI-8, de patrulhamento marítimo, equipadas com aeronaves FOKKER-27 e Hércules C-130 e incremento de aeronaves na Esquadra de Transportes do tipo YAK-40, AN-12 e AN-26.

Em 1979, regista-se a chegada da 1ª Brigada de Mísseis de Médio Alcance, formada na ex-União Soviética e instalada na Região Sul do país, constituindo, assim, um vector essencial na Defesa Aérea.

Em 1981, é criada a Escola Nacional de Aviação Militar Comandante José Maria Paiva "Bula” no Negage, como resposta às necessidades de pessoal aeronáutico, no interior do país.

Em 1985, é criada a Escola Nacional de Aviação Ligeira Comandante Nzembo Faty "Veneno”, no Lobito, com características diferentes da anterior.

Entre 1985 e 1988, a Força Aérea foi reequipada com Meios Aéreos e de Defesa Antiaérea, tecnologicamente evoluídos: MIG-23, SU-22, SU-25, PC- 7, PC-9, MI-17, MI-25, MI-35.

Toda a extensão do território nacional passa a ter uma cobertura de radar total, registando-se, nesta altura, o aumento da capacidade do controlo do espaço aéreo e de Defesa Antiaérea.

Nesta altura, foram então criadas as Regiões Aéreas e de Defesa Antiaérea Norte e Sul (RADAAN e RADAAS). Com essas condições, em 1988/89 foi possível conduzir Operações Aéreas na retaguarda do inimigo, nas localidades de Rundu, Ondangua e Ruacaná, obrigando-o a repensar a sua estratégia.

Nesta conformidade, foi alcançada uma capacidade combativa, contrapondo-se à superioridade aérea, até então detida pela Força Aérea Sul-africana. Este facto determinou a mudança da correlação de forças no teatro operacional, obrigando o Governo do Apartheid a abandonar a opção militar e negociar a independência da Namíbia, com base na Resolução 435/78 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

 
Acordos de Bicesse

 Em 1991, com a assinatura dos Acordos de Paz de Bicesse, abre-se uma nova era. As Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) – Exército Governamental e as Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA) do movimento UNITA, até então envolvidas no conflito armado, são extintas, criando-se as Forças Armadas Angolanas (FAA), únicas, apartidárias e subordinadas ao Estado angolano.

Como consequência, a Força Aérea Popular de Angola/Defesa Antiaérea (FAPA/DAA) foi redimensionada, passando a designar-se Força Aérea Nacional Angolana (FANA), adoptando uma nova Estrutura Organizacional e um novo Sistema de Forças e Meios.

Nesta base, foram reajustadas as tarefas e missões da Força Aérea, no quadro da nova situação.

Assim, a Força Aérea, em conjunto com os outros ramos das Forças Armadas, tem por missão participar na defesa nacional, contribuir para a garantia da independência nacional, da integridade nacional, da liberdade e segurança das populações, contra qualquer agressão ou ameaça externa, no quadro da Constituição, da Lei e das Convenções Internacionais.

Com o reacender da guerra pós-eleitoral, inicia-se o trabalho de reorganização das unidades combativas e de asseguramento, da recuperação da Técnica Aeronáutica, do refrescamento do pessoal navegante e técnico e formaram-se inicialmente duas Agrupações, Luanda e Lubango, e em 1993 cria-se a Agrupação da Catumbela, com aeronaves MIG-21 e MIG-23, SU-22 e SU-25.

Com o desenrolar da guerra, houve necessidade de adquirir novos meios, para dar resposta ao novo cenário do teatro operacional, até à conquista da paz definitiva, a 4 de Abril de 2002.

(in www.faa.ao/fan/historia_cultura_fan)

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