Reportagem

Comuna de Necuto: Regedor convida naturais a reconstruírem as casas nas suas aldeias de origem

A população da comuna de Necuto, na província de Cabinda, tem na agricultura e pesca as principais actividades de subsistência e fontes de rendimento. O excedente é comercializado no mercado fronteiriço Pinto da Fonseca, entre Angola e a RDC. As trocas acontecem todas às quartas-feiras, no mercado fronteiriço, e aos sábados, no centro da sede comunal de Necuto.

17/10/2023  Última atualização 12H11
Com cerca de 12.270 habitantes, a comuna do Necuto está situada a 80 quilómetros a nordeste da cidade de Cabinda e a 36 da sede municipal de Buco-Zau, na província de Cabinda © Fotografia por: Dr

Com cerca de 12.270 habitantes, a comuna de Necuto, adstrita ao município de Buco-Zau, está situada 80 quilómetros a Nordeste da cidade de Cabinda e a 36 da sede municipal.

Em entrevista ao Jornal de Angola, na sede comunal de Necuto, o regedor Augusto Manuel apontou o mau estado das vias de acesso como uma das principais dificuldades que apoquentam a vida dos cidadãos, porque torna difícil a circulação de pessoas e bens, bem como a transportação de produtos do campo para aos centros de consumo.

O regedor Augusto Manuel referiu que a via que apresenta um quadro de degradação mais acentuada é a que começa da aldeia do Peadinge antigo, ao novo, desembocando na aldeia de Colitumbe, numa extensão de aproximadamente 30 quilómetros.

A outra via é a que liga a localidade de Panga-Mongo a Necuto, que também precisa de ser intervencionada, para garantir uma melhor circulação de pessoas e bens, bem como a estrada que começa no centro da sede comunal para a aldeia de Nganda Cango, cujas obras, disse, andam paralisadas há muito tempo.

Devido ao mau estado da via, continuou, os autocarros não conseguem chegar às aldeias para acudir a população. Além disso, frisou, os camponeses não conseguem escoar os seus produtos, porque os acessos às zonas de cultivo há muito deixaram de ser reabilitados. "Os carros não chegam nos campos de cultivo, os agricultores passam muito mal”, lamentou.

O regedor Augusto Manuel disse, ainda, que os aldeões, para contornarem a situação da falta de transporte, recorrem a kupapatas (motorizada de três rodas com carroçaria) ou moto-táxis, como meios alternativos para se deslocarem de um lado para o outro ou para transportarem os produtos do campo para as zonas de maior consumo.

Augusto Manuel entende que o crescimento da comuna de Necuto não depende apenas das autoridades governamentais. "Um papel é reservado, também, à classe empresarial, sobretudo do sector florestal, que explora madeira na floresta daquela localidade detentora de variadíssimas e raras espécies de madeira de valor comercial”, frisou.

"Devem também investir na comuna, para melhorar a condição social das comunidades locais bem como os próprios filhos de Necuto que vivem na cidade de Cabinda e em outras localidades, que devem ir às suas aldeias de origem no sentido de desenvolvê-las”.

O regedor deixou outro apelo para os cidadãos naturais de Necuto, que residem na cidade de Cabinda.

"Convido todos os cidadãos naturais da comuna de Necuto, que habitam na cidade de Cabinda, que venham reconstruir as suas casas nas aldeias e que não se limitem apenas a criticar ou a escrever cartas contra as autoridades governamentais e tradicionais, porque essa atitude em nada ajuda a desenvolver a comuna”, sublinhou.

O regedor falou insistentemente sobre a situação da corrente eléctrica, por ser um dos bens sociais, a par da água, que mais afligem as comunidades locais. Segundo o regedor, os poucos investimentos feitos pelo Governo nesses domínios servem apenas o centro da vila comunal e os quatro bairros circunvizinhos e em períodos muito limitados, o que não satisfaz a deman-da, tendo em conta que a comuna tem 71 aldeias.

"A maior parte das aldeias não tem luz nem água potável para não se falar da iluminação pública”, lamentou.

Entre as coisas positivas, o regedor destacou alguns projectos implementados pelo governo da província, nomeadamente escolas do ensino primário, postos de saúde, energia eléctrica e água potável, bens sociais que, segundo disse, apesar de serem ainda em número bastante reduzido, "já dão um certo alento e esperança à população por dias melhores”.


Governadora promete resolver os problemas

Para se inteirar da realidade social das populações da comuna de Necuto, a governadora da província de Cabinda, Mara Quiosa, visitou a localidade, tendo reunido com os membros do Conselho Comunal de Auscultação Social, que integra as autoridades tradicionais e religiosas, e com a população local.

No encontro com os membros do Conselho Comunal de Auscultação Social, a governadora Mara Quiosa foi informada sobre os problemas que mais inquietam a população, desde a falta de energia elétrica, água potável, vias de acesso, escolas, postos de saúde, ambulâncias, entre outras necessidades.

Em resposta às preocupações, a governadora disse conhecê-las perfeitamente e que o Governo vai resolvê-las na medida do possível. A governadora de Cabinda colocou à disposição dos habitantes de Necuto um grupo gerador de 660 Kva para reforçar o anterior, de 500 Kva, e um sistema de abastecimento de água por gravidade para reforçar os níveis de abastecimento às comunidades locais.

"Viemos colocar à vossa disposição mais um grupo gerador que vem reforçar aquele que já estava aqui instalado, mas que apresentava muitas avarias”, disse Mara Quiosa.

A governadora referiu que com a entrada em funcionamento do novo  gerador foi possível expandir a rede eléctrica e permitir 450 novas ligações domiciliares. "Isso já é muito bom. É sinal de crescimento social”, salientou.

Relativamente ao sistema de água por gravidade inaugurado no Necuto, disse que o empreendimento em causa foi reabilitado e ampliado, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção dos Municípios (PIIM).

"A partir de hoje passamos a ter mais famílias a beneficiar de água potável no Necuto”, disse Mara Quiosa, que reconheceu haver, ainda, muitas outras aldeias com falta de água, garantido que o Governo tudo fará no sentido de paulatinamente colocar tais serviços à disposição das comunidades.

"Sabemos perfeitamente que existem ainda algumas aldeias sem água”, reconheceu Mara Quiosa, acrescentando que com a entrada em funcionamento do sistema gravítico, a situação será ultrapassada.

A governadora tranquilizou a população de Necuto, informando que o Governo da província vai continuar a prestar atenção a outros sectores importantes da localidade, como é o caso da Educação e Saúde.

Mara Quiosa pediu aos habitantes de Necuto no sentido de cuidarem bem dos bens públicos colocados à sua disposição, para que os mesmos possam durar mais tempo e permitir ao Governo desenvolver outras acções.


Educação e Saúde melhoram serviços

O administrador da comuna de Necuto, Rafael Bungo, reforçou a ideia de que "a vida social da comuna de Necuto, aos poucos, vai dando sinais de crescimento”. O sector da educação está em pleno funcionamento, assegurado por nove escolas, que garantem o processo de ensino-aprendizagem até às zonas mais recônditas.

Reconheceu existir ainda insuficiência de professores, situação que poderá ser revertida com a admissão de novos docentes no concurso público que está a decorrer.

O sector da saúde, continuou, dispõe de três postos que garantem a assistência médica e medicamentosa à população. "Quanto à assistência médica e medicamentosa, não temos razões de queixa. Temos sido abastecidos regularmente”, reconheceu.

A comuna de Necuto faz fronteira com a RDC e em função da aproximação geográfica entre os dois países, torna-se vulnerável à imigração ilegal. O administrador Rafael Bungo está ciente disso e afirmou que as autoridades locais têm o controle da situação migratória. Advertiu que só é permitida a entrada no território nacional quem estiver devidamente documentado.

"Apesar de estarmos numa orla fronteiriça um pouco complexa, os órgãos de defesa e segurança estão preparados e prontas para combater a imigração ilegal”, garantiu.


Obras da subestação eléctrica iniciam em breve

O secretário provincial da Energia e Águas, Rafael Paca, anunciou o início, em breve, das obras de construção de uma subestação eléctrica, na sede comunal, incluindo a sua electrificação e das aldeias vizinhas.

A construção da subestação eléctrica vai incluir,

também, trabalhos de alargamento da rede na sede comunal e ao longo de todas as aldeias da comuna, para que a população possa beneficiar da corrente eléctrica nas suas residências.

No que toca ao abastecimento de água, o responsável informou que a sede comunal e os bairros circunvizinhos vão passar a ser abastecidos a partir da ETA (Estação de Tratamento de Água) situada na localidade do Chimbeza primeiro.

A estrutura tem capacidade de produção de 100 metros cúbicos por hora e vai ser auxiliada pelo sistema gravítico totalmente reabilitado no âmbito do PIIM, no valor de Kz 67.249.387,76.

Segundo o responsável do sector da Energia e Águas, o sistema dispõe, ainda, de um reservatório de 150 metros cúbicos e vai abastecer mais de sete mil moradias da sede comunal de Necuto e de nove aldeias, numa extensão de oito quilómetros.

Limitada a nordeste pelo município de Belize, a sudeste pelo município de Cacongo e parte de uma vasta linha de fronteira com a República Democrática do Congo, Necuto tem três regedorias, igual número de sobados, 174 autoridades tradicionais e 71 aldeias.

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