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A reabilitação das mais de 200 fazendas cafeícolas do município de Quiculungo, província do Cuanza-Norte, é apontada pelo administrador municipal, António Watica, como a principal e mais fiável fonte para a arrecadação de receitas tributáras para os cofres do Estado, de forma a diversificar a economia e melhorar a condição social das famílias camponesas.
Para o efeito, António Watica acredita ser necessário um maior investimento a nível do sector, para permitir a introdução de mudas melhoradas, sacha, poda, armazenamento e transporte da mercadoria para as principais zonas de venda.
Segundo o administrador, actualmente a região conta com cerca de 250 fazendas identificadas, das quais 50 em produção activa, cuja cifra de colheita ronda as 34 toneladas de café por ano.
O administrador referiu que o café no Quiculungo vai dando sinais de retoma, mas lamenta que as pessoas que mais se dedicam à cultura do grão são de idade avançada, sendo que os jovens acham que esse é trabalho de mais velhos ou de pessoas sem escolaridade.
"Os jovens de agora são na sua maioria pessoas nascidas nos anos 90. Nesta fase e, por causa da guerra, muitas famílias fugiram das suas zonas para as cidades, em busca de segurança, factor que quebrou o ciclo da passagem de testemunho de certos hábitos”, lamentou.
Segundo António Watica, em Quiculungo as pessoas que hoje trabalham no ramo da produção de café estão com mais de 70 anos e estão, de forma gradual, a perder o traquejo físico para lidarem com as adversidades exigidas pelo trabalho.
Conta que há relatos de filhos e netos que vão ganhando um certo alento pela profissão, motivados pelos 400 ou 500 mil kwanzas que os progenitores ganham com a venda do produto, o que, na sua opinião, cria alguma ambição dos mais novos.
"Hoje os jovens querem mais é trabalhar em gabinetes mas, apesar disso, assistimos, embora de forma tímida, o interesse de pessoas ligadas ao ramo do café, a escalarem o nosso município com interesse em investirem no sector”, disse.
Preços
actuais incentivam produtores
Para António Watica, a venda do quilograma de café com casca ao preço de 500 kwanzas serve de incentivo às pessoas que estavam cépticas, pelo facto de anteriormente cada mil gramas ser comercializado no valor de 200 kwanzas, o que criava um certo desalento aos camponeses.
Lembra que em Setembro, a Administração recebeu um grupo de empresários franceses que pretende financiar a produção de café, em vários municípios de Angola, incluído alguns do Cuanza-Norte, nomeadamente, Quiculungo, Golungo-Alto e Ambaca.
António Watica acredita que o projecto pode funcionar como propaganda positiva para a reactivação da produção do bago vermelho na região. "O café é um produto de grande valor comercial e económico, basta olhar para o preço de uma chávena nos restaurantes”, sublinhou.
17
toneladas comercializadas entre Janeiro e Setembro
O administrador de Quiculungo informou que entre Janeiro e Setembro deste ano, foram colhidas e comercializadas 17 toneladas de café, embora acredite que haja mais produtos em posse de alguns camponeses, que pode ser superior aos números inicialmente apresentados.
O principal gestor do município lembra que no passado o seu avô colhia, em média, 40 toneladas por ano, enquanto os proprietários das fazendas Kafuta e roça Kuale, juntas, obtinham até 820 toneladas. Para atingir estas cifras, disse é preciso incentivos de vária índole, a começar pela cedência de créditos bancários, que permitam a criação de estratégias para a sacha, poda, colheita e armazenamento do produto.
Informou que há compradores que visitam a região com frequência, o que permite a venda do produto de forma oportuna
Fábrica
de torrefação e
empacotamento
Segundo o administrador, a instalação da fábrica de torrefação e empacotamento de café, criada há cerca de oito anos na sede de Quiculuno, com o nome de Café Cazengo, tem criado alguma polémica no seio de alguns munícipes, por entenderem que a pequena indústria devia ser instalada em Ndalatando, que faz parte do município do Cazengo.
António Watica explicou, contudo, que o café Cazengo foi uma variedade de café robusta, com o nome atribuído na era colonial, devido à sua especificidade, à semelhança do que acontecia com o bago vermelho de Amboim e Ambriz, adaptáveis ao clima tropical úmido, que predomina na região norte de Angola.
Segundo António Watica a variedade do café Cazengo está em decadência, embora ainda se possam encontrar alguns vestígios no Quiculungo, Banga, Bolongongo e Ngonguembo e até mesmo em algumas regiões do Uíge e Bengo.
O proprietário da fábrica atribuiu este nome ao seu estabelecimento em reconhecimento aos tempos áureos da comercialização do Café Cazengo, para manter vivo o interesse da sociedade local pelo grão.
O responsável pela área de torrefacção e embalagem da fábricaCafé Cazengo, Moreira Zanga, que trabalha no projecto há sete anos, disse que a produção não pára devido à oferta constante do produto.
Informou
que actualmente existe um stock de cinco toneladas e 470 quilos de café. A
fábrica funciona com uma máquina de descasque com capacidade de produção de 280
quilos por hora, bem como a embalagem de 12 caixas de café moído diariamente.
O administrador do Hospital Municipal de Quiculungo, Orlando José, informou que a unidade sanitária funciona sem sobressaltos, atendendo as condições de serviços postas à disposição da população, com destaque para o fornecimento regular de fármacos contra as doenças mais frequentes na circunscrição.
Referiu que por causa do factor proximidade, a unidade também atende pacientes provenientes dos municípios da Banga, Bolongongo, Camabatela e Samba-Cajú, com uma média diária de 100 pessoas, que buscam tratamento contra a malária, pressão arterial, pneumonia e febre tifóide.
No terceiro trimestre deste ano, disse, houve o registo de mais de mil casos positivos de malária, dos cinco mil rastreados, tendo realçado que a unidade sanitária tem 54 camas e atende serviços de Consultas externas, Pediatria, Materno-infantil, Raio-x, Laboratório, Banco de urgência, Centro de testagem, tratamento e prevenção de HIV/ Sida e morgue.
Segundo o responsável, o hospital precisa, com urgência, de um médico para atender a área de ecografia, porque existem aparelhos novos que não funcionam por falta de técnicos especialistas.
Aponta a falta de ambulância como a principal dor de cabeça para o sector, visto que por várias vezes viram-se obrigados a usar a viatura do administrador municipal para a evacuação de doentes até Ndalatando.
O director em exercício do Gabinete municipal da Saúde, Minoto Mutange, informou que a região possui 11 unidades sanitárias, com 68 enfermeiros e seis médicos
Educação
O sector da Educação no Quiculungo foi contemplado com 40 vagas que vão ser preenchidas no concurso público de ingresso a ser realizado em Novembro. Segundo o director municipal, João da Silva, com o referido número a circunscrição vai precisar ainda de mais de 100 professores para cobrir as necessidades das 14 escolas existentes, cobertas por 204 docentes, que atendem mais de seis mil alunos, da iniciação ao segundo ciclo.
Para minimizar a carência de material para os alunos, a Administração Municipal de Quiculungo criou uma rubrica para entrega de 1.258 batas grátis aos alunos do ensino primário, cujos
encarregados de educação mostraram incapacidade financeira para a compra do referido uniforme.
Exploração ilegal de madeira preocupa autoridades
A região de Quiculungo tem um vasto potencial de recursos florestais, com predominância para as espécies de madeira autóctone, conhecida por moreira, kibaba e kitibi, localizadas especialmente nas regiões de Kimeia, Tita, Kitini, Zala e Gongolo, Nzambi Kyama e Kiseke, Kianvo e Kimanda.
Mas a madeira local tem sido explorada de forma ilegal por vários grupos de pessoas oriundas de várias partes do país, desde Luanda, Uige, Bengo e não só. Segundo o director do Gabinete Local da Agricultura, José Santa Rosa, no presente ano o comando municipal da Polícia Nacional de Quiculungo deteve 50 pessoas. A maior apreensão foi de 100 tábuas já refinadas, de quatro metros de comprimento cada, destinados ao comércio ilegal.
O responsável explicou que existem apenas dois agentes de exploração de madeira autorizados.
Produção agrícola
No presente ano agrícola, estão inscritas mais de três mil famílias camponesas, que estão a produzir essencialmente feijão, mandioca, amendoim e banana, com uma previsão de colheita de 200 toneladas, mais 100, em relação ao ano passado.
Revelou que a maior parte da produção está a ser desenvolvida de forma manual, pelo facto de existir apenas um tractor, pertencente a uma cooperativa de ex-militares, que cobra 80 mil kwanzas para os trabalhos de lavoura por cada hectare.
José Santa Rosa sublinhou que a abertura de uma escola de campo na região tem permitido o aprimoramento das técnicas de cultivo dos camponeses do município.
Quiculungo é um dos 10 municípios que compõem a província do Cuanza-Norte, foi fundado pelo agricultor e comerciante português Amadeu Mário da Silva Magalhães, em 1914 e desenvolveu-se economicamente por causa da produção do café, que era o principal baluarte da economia da região na época.
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