Sociedade

Forma de realojamento desagradou as famílias

O realojamento não está a ser um “mar de rosas” para seis das 17 famílias desalojadas há cerca de 60 dias, por risco de desabamento, de um antigo edifício do Baleizão, e transferidas, quarta-feira, para o Zango IV, município de Viana, província de Luanda.

25/02/2019  Última atualização 16H50
Apesar de receberem novas moradias, há descontentamentos © Fotografia por: Eduardo Pedro | Edições Novembro

Uma das seis famílias está a viver ao relento, por não ter sido contemplada com uma moradia no Zango, enquanto membros de cinco das outras são obrigados a repartir duas casas que receberam, uma realidade com a qual não esperavam.
Ao relento está Constância Luvunga, 36 anos, mãe de três filhos, de 10, 13 e 18 anos, respectivamente. No edifício evacuado, vivia num espaço que desabou há anos, razão pela qual foi acolhida por uma vizinha, em cuja casa viveu até ao dia em que a Comissão Administrativa da Cidade de Luanda decidiu retirar as famílias por risco de desabamento do imóvel.
A tristeza era visível no rosto de Constância Luvunga, quando o Jornal de Angola chegou ao Zango IV e encontrou-a junto aos pertences, entre mobiliário, electrodomésticos e roupas, tomados pela chuva, um dia depois de terem estado expostos ao sol ardente e à poeira.
Enquanto chovia, a mulher foi amparada por vizinhos, mas contra a sua vontade, uma vez que não quis ficar distante dos bens.
Constância Luvunga disse estar “muito triste” por ter sido abandonada à sorte, apesar de a sua situação ser do conhecimento da equipa ligada ao processo de registo e transferência para o Zango IV. Por não querer que o sofrimento que vive seja extensivo aos filhos, enviou os três para a casa de parentes.
A moradia onde Constância Luvunga vivia com o pai e a madrasta desabou, tendo sido acolhida por uma vizinha, enquanto o pai e a esposa abandonaram o imóvel.
O pai,Daniel Luvunga, actualmente com problemas de saúde e a viver em casa de um familiar, também não recebeu casa no Zango, embora seja um dos mais antigos moradores do edifício, além de ter integrado a comissão que participou nas negociações com a Administração do Distrito Urbano da Ingombota, que culminaram com a entrega de moradias no Zango IV.
“Reparti uma casa com o meu pai durante 14 anos”, conta Constância Luvunga, que disse ter abandonado a moradia por ter ficado inabitável. “O nosso espaço continuou inabitável”, prossegue a senhora, que admite ter sido afastada do processo de realojamento por má-fé. Segundo ela, é do conhecimento dos técnicos que estiveram à frente do processo de realojamento que é herdeira de um apartamento no antigo edifício do Baleizão.
Constância Luvunga revelou ter recebido garantias de um membro ligado ao processo que o seu problema tinha solução. “Já no Zango, pedi explicações ao engenheiro e ele não sabia o que me dizer. As colegas ficaram a gritar com ele quando se aperceberam da minha situação”, descreveu a senhora, que disse não saber para onde ir.

Famílias descontentes
As irmãs Lima, uma de 56 anos e outra de 46, são obrigadas a repartir a mesma moradia por terem vivido debaixo do mesmo tecto, no Baleizão, um argumento invocado pela Administração do Distrito Urbano da Ingombota e reprovado por ambas.
Cada uma das irmãs tem a sua própria mobília e não cabe na casa que receberam por ser pequena, razão pela qual alguns haveres permanecem na rua. Isabel Lima e Paula Lima estão insatisfeitas porque acham que mereciam receber duas moradias. “A nossa casa era grande, foi dividida em vários compartimentos”, contou Isabel Lima, confirmando que a sala era o único espaço partilhado, porque “as nossas famílias são numerosas.”
Adelina Madureira, outra moradora, afirmou que foi “praticamente obrigada a assinar um documento de transferência e, com isso, aceitar que o meu filho, que vive em regime de união de facto, e um outro vivessem comigo na moradia que recebi no Zango IV”.
No total, vivem na mesma moradia oito pessoas, entre as quais uma irmã de Adelina Madureira, duas sobrinhas e um neto.