Economia

Especialistas desdramatizam queda de 21% nos diamantes

Pedro Narciso |

Jornalista

O professor de Markting Internacional Stover Ezequias e o economista Paulo Santos disseram, ontem, ao Jornal de Angola, que a redução na produção diamantífera no país “não é dramática”, mas avisam que é fundamental “desenhar uma estratégia de relançamento da actividade”.

18/03/2024  Última atualização 08H45
O subsector de Diamantes pretende ultrapassar os 10 milhões de quilates brutos © Fotografia por: DR

Os académicos reagiram assim aos números da Endiama, divulgados na sexta-feira pelo secretário de Estado dos Recursos Minerais de Angola, Jânio Correia Víctor,  e que apontam para a queda de 21%  na produção de diamantes em 2023, reflectidas nas receitas brutas das exportações de 1,5 mil milhões de dólares,  o que perfaz uma  redução de 20% em relação a 2022.

O professor de Markting Internacional,   Stover  Ezequias,  alerta que estes resultados podem "afectar a balança comercial” caso não seja desenhada uma estratégia de "relançamento da actividade”.

Stover  Ezequias lembra igualmente  que, "sendo o sector Diamantífero estratégico para o país, representando a maior fatia, cerca de 96% da produção de mineração em Angola, constitui uma parte significativa das exportações”.

"Havendo menos receitas de exportação pode significar uma diminuição das entradas de moeda estrangeira, o que pode resultar em déficits comerciais, pressionando a moeda nacional e afectando as reservas cambiais”, adverte Stover Ezequias.

Esta  linha de análise é também defendida pelo economista Paulo Santos para  quem "o baixo preço dos diamantes no mercado mundial registado com a baixa procura durante a COVID-19 levou a certo desinvestimento no sector, facto que estará a manifestar-se com a queda da produção das gemas preciosas em Angola”.

O pior cenário, avisa Paulo Santos, é a garantia da extensão do tempo. "Parece-me haver dois factores a afectar negativamente o sector, nomeadamente o baixo preço e a baixa produção, o que poderá levar mais tempo e esforço para recuperar”, reforça.

O economista também avalia o impacto que pode causar os resultados negativos  na economia: "Certamente impactará negativamente as receitas desse sector e do OGE em geral”, atira.

Um outro economista, mas que insistiu falar sob anonimato, acredita que a recente visita do Presidente da República à China pode atrair novos investidores, um optimismo sublinhado pelo comportamento do mercado asiático em crescimento.

A China representa 5% das vendas de jóias com diamantes.

Quando interrogados sobre os prejuízos que a queda dos diamantes podem representar à economia , todos afirmam que  "não é dramática”.

Durante a cerimónia de apresentação das realizações do subsector diamantífero em 2023, o secretário de Estado anunciou que Angola comercializou 9,39 milhões de quilates de diamantes brutos, ressaltando, ao mesmo tempo, que as exportações de diamantes atingiram cerca de 9,91 milhões de quilates, representando um aumento de quase 12% em relação ao ano anterior.

Jânio Correia, tentando explicar as projecções,  sublinhou que este subsector pretende ultrapassar os 10 milhões de quilates de diamantes brutos.

A Rússia  é o líder mundial na produção de diamantes de qualidade em bruto, com 29% da produção global. Segue-se o Botswana com 16%, o Canadá  (12%), a RDC (12%),  a Austrália (10%),  a África do Sul (8%) e Angola atingindo os 7% (dados de 2020).

 Embora cinco dos sete maiores países produtores de diamantes estejam em África,  é a Índia que lapida mais diamantes. Há 800 mil indianos dedicados a esta actividade.


Comentário
Os diamantes são eternos

É sabido que os negócios dos diamantes não estão lá muito brilhantes. Mas, é cedo para fazermos uma comparação com a queda histórica dos preços de 2008, motivada pela crise mundial.

Nesse ano, o mercado dos diamantes em bruto inspirava a plenos pulmões uma sucessão de duas décadas de aumentos de preços. O travão teve o nome Lehman Brothers.  Em Setembro de 2008, o banco norte-americano abria falência. A crise financeira e económica pôs a nu problemas que, já antes, fermentavam na esfera dos diamantes. Os produtores acumulavam grandes reservas de gemas; assumiam dívidas excessivas. A jusante, as empresas de lapidação enfrentavam o endividamento. E, as vendas de diamantes chegaram a derrapar 20% nos Estados Unidos, país responsável por cerca de metade da procura mundial destas pedras de carbono puro. Da Ásia ainda chegava alguma esperança. O crescimento económico da China e da Índia poderia preencher a procura. A quebra no Oriente, ainda que ligeira, diluiu as expectativas. Os preços dos diamantes caíram 30% e o seu  comércio passara de 37 mil milhões de dólares, em 2007, para 30 mil milhões. E, a produção caiu de 168 para 161,8 milhões de quilates.

 O Botswana que assenta um terço do seu Produto Interno Bruto no mercado dos diamantes percebeu as implicações económicas e sociais devastadoras da crise.

"Angola na qualidade de país produtor espera que rapidamente os preços dos diamantes se estabilizem e venha a dar um novo dinamismo aos produtores que já estavam a entrar para uma fase de desespero”, dizia na altura o porta-voz da ENDIAMA.

Em suma, nada se assemelha à redução de 21% da produção de diamantes em 2023, explicada detalhadamente pelo secretário de Estado dos Recursos Minerais de Angola, Jânio Correia Víctor, atribuindo-a às melhorias nos serviços e na instalação da Sociedade Mineira do Luele (Luaxe),  maior projecto diamantífero do País - inaugurada recentemente pelo Presidente João Lourenço - , com uma perspectiva de produção de 628 milhões de quilates.

Razões  de sobra  para puxar aqui o lustro do lema da De Beers, a gigante sul-africana dos diamantes, fundada por Cecil Rhodes em 1888 que  já chegou a controlar quase 40% do mercado mundial: "Os diamantes são eternos”.

Pedro Narciso-Editor de Economia


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