Opinião

Facetas de um Março de contrariedades

Guimarães Silva

Tempo e espaço são componentes que podem aferir que a vida acontece todos os dias e que os humanos são os administradores, que registam os bons e maus momentos, onde a interação com a mãe natureza é o ponto forte, que se opõe a outros tantos fracos, ao passo que as oportunidades, quase sempre em número reduzido, estão do lado oposto aos constrangimentos, estes, sempre em quantidades assustadoras.

24/03/2024  Última atualização 07H00
Nisto de tempo, humanos e natureza, o mês de Março, o terceiro do calendário é descrito como de ritmo moderado depois da curva de final de ano, em que o Janeiro, conta sempre como dois meses acoplados, porque lento; o Fevereiro, é diminuto, mas nem por isso rápido, para a dinâmica dos humanos, que querem sempre correr à busca de condições que propiciem vida folgada, apesar das contrariedades sempre presentes que mexem com as nossas inteligências.

Todos os dias de Março, enfrentamos desafios de vária ordem. Diariamente, somos postos à prova diante de vicissitudes; confrontados com boas e más notícias, que rompem com o entusiasmo que o simples despertar nos empresta para a conquista de mais um dia. As más notícias, sempre em grande número, são sempre uma barreira à motivação, principalmente quando anunciam o fim da esperança, traduzida em morte.

Março deixa-nos alguns marcos pouco abonatórios. As chuvas em quantidades industriais desalojaram e empobreceram famílias. Em alguns casos provocaram fatalidades. Os obituários são sempre contra pesos e pesares para as famílias, amigos e conhecidos, sempre movidos pela curiosidade de saber o que realmente existe no além, já que a partida para a outra dimensão enluta e entristece os próximos.

Exímios à boa maneira

Justino Handanga, a voz lírica do Kilapanga, com tons e sons em Umbundo refinado no berço dos Ekuikui no Mbalundu, deixou-nos inesperadamente a 18 do corrente. Calou-se de vez o timbre que entoou o "te amo mais do que a própria vida!”. Simplesmente um hino ao amor. Seguramente, a maior valorização ao feminino, aqui enaltecida acima da vida.

Sentimo-nos traídos pela partida extemporânea, sobretudo sem aviso prévio. De igual modo, comovidos. O anúncio de que deixou um quantitativo de acordes musicais inéditos prontos para consumo, não verga a dor dos fãs, que esperavam mais poesia, mais do seu timbre de voz, mais música e o posicionamento em palco, uma presença, única, com simbolismo num misto do tradicional e do modernismo à boa maneira angolana.

Neste Março, precisamente, no marco 19 do calendário, encheu-nos de tristeza a partida para outra dimensão de Amândio Adão Clemente, jornalista de fina fibra, com posicionamento único na arte de informar e comunicar, sempre esgrimindo o carácter nato, que trouxe do berço, não permitindo pisadas nos calos, perfídia e bajulação de quem quer que fosse.

O Amândio era sim um multifacético nisto de trabalhar as fontes para a recolha de dados informativos, na ânsia de cumprir a fiel missão de comunicar com os leitores dos tablóides, um exercício que fazia há uma trintena de anos, ultrapassando vicissitudes de vária ordem, para que os textos escritos na rainha Ginga ou nas estranjas cumprissem o deadline da Redacção.

A isto juntava-se a ingrata missão de competir com a gramática concebida por uns tantos poucos escribas, quando tinha que "catanar” o português pouco escorreito, aqui no desempenho da ingrata missão deeditor; um misto de mau da fita (quando critica o mau desempenho dos clubes, quando não programa reportagens à estranja, quando é rigoroso, quando revela que as verdades não têm partidos, quando não promove os subordinados que ainda não cresceram) e de bom samaritano, quando chefe de banca.

Ainda assim, sempre esgrimiu os seus argumentos de razão, alto e bom som, à boa maneira de um natural da comuna de Botomona, ao município de Icolo e Bengo, com o seu olhar que faíscava e voz de gigante embravecido. Nos últimos tempos "pavoneava-se”com uma pera oxigenada, porém natural; um testemunho dos 65 e picos de existência.

Do músculo efeminado

O mês foi ainda espaço para o posicionamento musculado e determinação das mulheres, compenetradas na vanguarda  para mostrar o quanto valem. Sempre achei este exercício de pompa e circunstância um pouco despropositado, ante as vantagens que a mãe natureza dá ao sexo feminino. Primeiro, elas são as obreiras da vida, nasceram todos os humanos do planeta (os in vitro, têm igualmente gâmetas femininos). Segundo, o testemunho do seu papel de vantagem, como líderes começa em casa, depois no trabalho. Duas tarefas que não descartam e cumprem com zelo todos os dias, ao passo que o bicho homem (foge do simples lavar pratos).

Por outra,estão em maioria e possuem veia política há séculos (arma de arremesso que os masculinos pensavam ser exclusivo para quem usa calças) e podem competir de igual para igual com os masculinos para cargos de mando no planeta. Têm charme e encanto; precaução na gestão e no volante do carro. Sabem rir, dançar e intuir. Aparentam fragilidade, mas são exímias em conhecer os pontos fracos da anatomia dos machos para levar vantagem num confronto a dois, quando a inteligência supera o músculo.

Janeiro foi mês da revolta da Baixa de Cassanje. Fevereiro foi o início da Luta Armada.Março foi o do seguimento da insurreição para a conquista da independência nacional. O pai, função suis generis no tecido social teve igualmente honras e notoriedade, num mês em que o seu papel é quase sempre escrutinado.  A greve geral para ficar em casa aconteceu entre 20 e 22. O 23 de Março está aí para mostrar à África Austral que na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul estava a continuação da nossa luta, o que resultou na catadupa de independências e liberdades para os respectivos povos.

Efemérides que dão a ver a importância do capital social angolano, com o género em linha de conta e à janela de oportunidades, um leitmotiv (motivo condutor)para todos que acreditam no país.Este Março foi marcante.

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