Opinião

Feriados prolongados

Luciano Rocha

Jornalista

O ciclo repetitivo do calendário, mesmo sem ser igual para todos, continua a cumprir a missão de se despegar diariamente de uma folha, que tanto pode ser levada pelos ventos do esquecimento, como eternizar-se na galeria dos históricos.

04/04/2024  Última atualização 07H10
Folhas há de sinais com a mesma significação em diferentes países de vários continentes, como, por exemplo, linguagens, pronúncias, hábitos e tradições, mas, também, outros dissemelhantes, embora coincidentes quanto a rigores e sacrifícios salientados no decurso das comemorações de determinadas datas, principalmente religiosas. Estes casos ocorrem, por exemplo, na Páscoa de tradições cristãs. Estranhamente, com introduções que nada têm a ver com fé.

Aqueles excessos são, bem vistas as coisas, mesmo que involuntariamente, facilitados pelos  responsáveis governamentais de cada país, quando promoverem fins de semana prolongados a começarem e terminarem antes e depois das datas oficiais das comemorações, incitando, desse modo, à pândega desregrada e a todas consequências nefastas que ela provoca. Quais? Entre tantas, "acidentes” rodoviários provocados e evitáveis apenas acontecidos devido à euforia gerada pelo álcool  ou qualquer outra substância consumida em momentos de inconsciência, inimiga invariavelmente do bom senso.

Os epílogos daqueles dramas são muitos, raramente, contudo, a merecerem palmas. São leitos de hospitais ocupados por estropiados, que ficam a dever à vida aprendizagens e ensinamentos, consoante idades e conhecimentos, em suma sonhos sequer adiados. Pior - ou melhor? - apenas a morte.

O Mundo, após as fileiras de feriados prolongados, nunca ficaria melhor, mesmo que não sucedessem desastres causadores de deficiência irrecuperáveis e óbitos. A produção laboral, em todos os ramos de actividade, sem excepções, continuava ressentir-se, com agravamentos no desemprego, abandono escolar, exportações e importações, custo de vida, pobreza, miséria, insubordinações, aproveitamentos políticos.

Todas as medalhas têm duas faces, pelo que faz sentido o argumento dos feriados prolongados poderem beneficiar as economias de parte substancial dos países, pois a ausência de alguns "trabalhadores” nas empresas que lhes pagam os salários torna-as menos dispendiosa. Quanto mais não seja com a redução dos gastos em Internet, telefones, electricidade, água, papel, tinteiros. A que se juntam "conversas de vizinhas” sobre vestuário, telenovelas, supermercados, restaurantes, carestia de vida - ainda se queixam, mal agradecidos -. pedintes incomodativos a cada esquina, enfim um rol de vulgaridades comuns à pequena-burguesia impreparada seja de onde for.

A questão - ou uma das questões - é que neste mundo frenético que habitamos tudo se sabe ao instante e não há investidor, digno desse nome, seja de onde for e esteja onde estiver, que não saiba, de cor e salteado, prós e contras das economias, desde as mais às menos cotadas.

O autêntico investidor é criterioso quanto aos quadros que admite, mas, igualmente, generoso. Apaparica-os, não lhes dá motivos de queixa. Se os envia para fora de portas, instala-os em bons hotéis, quer que frequentem restaurantes de primeira e tenham locais de diversão. Em todas aquelas unidades servidas por profissionais altamente qualificados, não arremedos.

A segurança pública é outra área com a qual é exigente. Não equaciona que quadro a trabalhar para ele, seja de que área for, se preocupe com o que quer que seja a não ser as tarefas para a qual foi contratado.

O autêntico empresário  tem quem lhe faça contas e apresente minuciosos relatórios sobre investimentos em curso, tal como aqueles que perspectiva. O caso das excessivas folgas, em uso em várias sociedades em praticamente todos os continentes, como sucede em tempo de Páscoa, a que aludimos no início da crónica , não lhe agrada. Retarda-lhe planos, fá-lo ter de pagar horas de trabalho não executadas substituídas, oficialmente,por dias de folia.

Os autênticos empresários lêem relatórios sobre segurança pública, confirmam o pagamento forçado de folgas, medem prós e contras. Quantos aceitam trabalhos nestas condições?

Em jeito de remate, desfazendo leituras de eventuais leitores mais apressados que podem ter intuído que o autor se refere concretamente ao nosso país, esclareça-se que "não apenas”, lembrando que, por exemplo, os problemas da segurança pública ou da falta dela, e dos feriados prolongados estendem-se a, cada vez mais países, também eles, pelo menos parte, são, como Angola, constitucionalmente laicos.

Parafrasiando João Lourenço: mais trabalho e menos conversa.      

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Opinião