Opinião

Insuficiência renal uma doença silenciosa!

Bernardino Manje

Jornalista

Os rins são órgãos internos do corpo humano pertencentes ao sistema urinário, com várias funções, entre as quais filtrar do sangue todas as substâncias tóxicas e outras não tóxicas que estejam em excesso na circulação sanguínea, incluindo os líquidos (água, essencialmente), formando, assim, a urina e, com isso, eliminá-las.

17/03/2024  Última atualização 05H55

São fundamentais para o funcionamento adequado do corpo humano, sendo, por isso, necessários cuidados para se garantir o bom funcionamento. Dentre tais medidas, destaca-se a ingestão de água e o consumo reduzido de sais que são responsáveis pela danificação dos rins.

Quando os rins não são bem cuidados, perdem a capacidade de efectuar as suas funções básicas. Quando se chega a este estágio, estamos perante uma insuficiência renal, que pode ser aguda (IRA), quando ocorre súbita e rápida perda da função renal, ou crónica (IRC), quando esta perda é lenta, progressiva e irreversível.

A Associação Internacional de Nefrologia (médicos especializados no tratamento dos rins) organiza, todos os anos, eventos que visam celebrar a Semana Mundial do Rim, que sucede em simultâneo com o Dia Mundial do Rim, que se celebra na segunda quinta-feira do mês de Março. Este ano, o tema escolhido é "Melhorar o acesso aos serviços de Saúde e melhorar o conhecimento sobre a doença”.

Sem prejuízo do tema proposto, em Angola, o Colégio de Nefrologia da Ordem dos Médicos escolheu o lema "Educar mais sobre a doença do rim para diagnosticar mais”. Uma escolha feliz, se tivermos em conta os dados avançados pelo presidente daquele colégio, em entrevista ao Jornal de Angola, por ocasião da efeméride. José Malanda revelou que mais de 70 por cento dos doentes renais no país recebem o diagnóstico de forma acidental, quando, por exemplo, são levados ao hospital por outra patologia. Isso acontece porque apenas dois por cento dos doentes renais sente alguma coisa nos primeiros estágios da doença. A maioria dos pacientes, quando sente alguma coisa, é porque a patologia já está avançada, porque a insuficiência renal é uma doença silenciosa.

No mundo, cerca de mil milhões de pessoas estão afectadas pela doença, sendo que a prevalência da IRC é de 9 a 13 por cento. Em Angola, existem cerca de três mil pessoas a fazerem hemodiálise (tratamento que consiste na remoção do líquido e substâncias tóxicas do sangue, através de um método como se fosse um rim artificial), revelou José Malanda, sublinhando que, deste número, aproximadamente 2.800 pacientes já estão em sistema de diálise regular, a chamada "hemodiálise crónica”.

O presidente do Colégio de Nefrologia da OMA não descarta a possibilidade de o número de pessoas com insuficiência renal ser bem maior, pois muitos nem sequer sabem que a têm. Só o saberão, eventualmente, quando forem ao hospital e receberem o diagnóstico e, muitas das vezes, já num estágio avançado, pronto a fazer a hemodiálise.

Por isso, o lema escolhido pelo Colégio de Nefrologia pretende que a população tenha mais conhecimento sobre os problemas do rim, principalmente os factores de risco para a insuficiência renal para que as pessoas possam fazer o diagnóstico precoce e, caso tenham a doença, comecem a fazer o tratamento muito mais cedo, evitando chegar ao estágio quatro ou cinco, onde já é obrigatório fazer sessões de hemodiálise regulares ou transplantes de rins para não morrerem.

Mas é sempre preferível evitar que se chegue a esta fase porque, além do desconforto (o paciente deve fazer três sessões por semana, que totaliza 12 por mês), a diálise é um processo bastante oneroso. Segundo o médico José Malanda, cada sessão custa entre 600 a 700 dólares. Se, por exemplo, o doente tiver anemia, que são mais de 90 por cento dos casos, precisará fazer uma injecção semanal, quinzenal ou mensal de uma hormona chamada "eritropoetina” ou as suas variantes. Só uma ampola deve custar até 150 dólares! E mais: além da sessão de diálise, o paciente precisa de um bom valor nutricional. Para isso, deve comer antes, durante ou depois da diálise, tem de ter transporte do centro para o levar e trazer, sempre que fizer as sessões. Contas feitas, tudo isso pode rondar à volta de 400 dólares por mês. É, de facto, muito dinheiro. Por isso, o melhor é privilegiarmos a prevenção que passa pelo diagnóstico precoce.

 

* Director Executivo-Adjunto

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