Desporto

Integridade física dos atletas motiva a desistência do país

Rosa Napoleão

Jornalista

A preservação dos atletas de eventuais situações graves dentro do tatame motivou a direcção da Federação Angolana de Artes Marciais Mistas (FAMMA) na decisão de retirar a Selecção Nacional dos Jogos Africanos que decorrem em Accra, Ghana, até 23 do corrente.

20/03/2024  Última atualização 10H26
Direcção da Federação justificou a decisão tomada em Accra © Fotografia por: Eduardo Cunha | Edições Novembro

Em conferência de imprensa, realizada ontem, no bairro Morro Bento, Armando Diogo, presidente da direcção da instituição, disse ser "inadmissível o acto de colocar no tapete atletas amadores a competirem com profissionais".

"Infelizmente, o nosso órgão não teve conhecimento deste módulo. Saímos para a competição e somente no local nos deparámos com esta situação. Os nossos atletas eram todos amadores e não podíamos consentir que lutassem com profissionais. A nossa campeã mundial Stélvia Ruanha, de apenas 13 anos, estava alistada para lutar com uma profissional de 20 anos. Isso chega a ser um acto criminoso”, reiterou.

O dirigente declarou que a decisão de retirar a Selecção Nacional dos Jogos Africanos foi anunciada e consentida pelo chefe de Missão, António da Luz.

"Tivemos o cuidado de comunicar o assunto ao chefe de Missão Angolana. Eu, pessoalmente, orientei que se fizesse isso. O mesmo percebeu os riscos que corriam os atletas e concordou connosco. O Governo do Ghana também desconhecia o fenómeno e, através do seu presidente da Federação, apoiou-nos, protestou e retirou, igualmente, uma parte dos seus atletas amadores da prova", explicou.

 
Defesas dos títulos são as prioridades

Armando Diogo ressalta estar a pensar agora nos outros compromissos internacionais que a Selecção Nacional tem pela frente.

"Não valia a pena arriscar os atletas, uma vez que temos em vista o Campeonato Africano para a defesa do título na Namíbia, o Campeonato do Mundo em Abu Dhabi também na defesa do título mundial e o terceiro Mundial em Paquistão. Lembro que somos a quarta melhor Selecção do mundo. Atingimos a classe mundial com poucos atletas e não podíamos arriscar perder isso nessa prova africana. Até agora, o MMA conseguiu cumprir com todos os pressupostos do controlo antidoping. Somos a única organização mundial que recebeu o selo da guarda”, aclarou.

Stélvia Munhanha, -44kg; Daniela Mandanji, 52.2 kg; Lassaleth António, 61.2 kg; Maria Kitoco, 70.3 kg; Wilson Manuel, 56.3 kg; Tulunda Miguel, 70.1 kg; Stanislau Wezy, 83.9 kg; Mário de Melo, -93 kg, são os atletas da Selecção Nacional. José Gomes, Mário Rodrigues, Nini Pedro  e Sousa José acompanharam o conjunto.


LICENÇA DE EXIBIÇÃO
Organização do MMA estava em mãos alheias

Armando Diogo explica que alguém passou a licença de exibição das artes marciais a uma organização empresarial que trabalha com objectivos comerciais e esta não pautou pela preservação da qualidade do evento.

"Trata-se de uma entidade conhecida por GAMA com sede na Holanda e na Rússia. Infelizmente, não olharam pelas regras. Para além de colocarem atletas amadores a lutar com profissionais, trouxeram árbitros sem os mínimos exigidos (isso se viu num vídeo). A mesma organização também não realizou os testes médicos”, aclarou.

O presidente conta que a delegação angolana de MMA deparou-se com uma documentação que convidava a Federação Africana a unir-se num acordo de cooperação com ele, a fim de adquirirem lucros.

"Nós rejeitámos de imediato em forma de pretexto. Estávamos dispostos a competir apenas, se retirassem a assinatura deste acordo de exclusividade, com várias irregularidades”, aferiu.


"Caso angolano” é tema de debate em Joanesburgo

Os fenómenos ocorridos nos Jogos Africanos de Accra e a retirada da Selecção Nacional de Artes Marciais Mistas vão ser temas de debate na reunião de concertação dos representantes da Federação Internacional (IMMAF) e da Confederação Africana (AMMAC). Armando Diogo, presidente da Federação Angolana de MMA, já se encontra em Joanesburgo, África do Sul, palco do encontro que decorre no próximo fim-de-semana.

Na agenda, o dirigente angolano, nas vestes de director da Zona, vai questionar para obter informações mais pormenorizadas sobre moldes de programação e organização do torneio de artes marciais mistas dos Jogos Africanos de Accra e quem passou a autorização à entidade organizadora sem garantias de que situações parecidas acontecessem.

"Não podemos, em nome do dinheiro, estragar aquilo que é o bem-estar da modalidade marcial.  Isso foi feito com outras modalidades, mas conseguimos fazer frente. Precisamos pôr um ponto final a isto”, desabafou Armando Diogo.

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