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Líder islâmico defende uma vigilância apertada

O presidente do Conselho Islâmico de Moçambique (Cislamo) defendeu, ontem, "uma vigilância apertada à proliferação de mesquitas" e associações islâmicas criadas sem o conhecimento das autoridades, alertando para a "infiltração" de pregadores que espalham o radicalismo.

19/04/2021  Última atualização 06H40
Aminudin Muhammad defende escrutínio dos locais de cultos para evitar aproveitadores do Islão © Fotografia por: DR
"Não é de hoje o alerta para uma vigilância apertada à proliferação de mesquitas que não são conhecidas pelo Governo nem por nenhuma associação islâmica em Moçambique", afirmou Aminudin Muhammad à Lusa.
Muhammad defende que o escrutínio aos locais de culto é importante para evitar o aproveitamento do islão por "gente estranha" que promove uma "má doutrinação de jovens", como está a acontecer na província de Cabo Delgado, Norte do país, onde os "autores da violência usam o islão para lançar o caos".

O responsável religioso defendeu que só podem ser autorizadas a praticar cultos as mesquitas que se comprometem com os princípios e os valores do islão e as leis do país. "Quando não se presta atenção ao que se passa nessas mesquitas novas criadas fora do controlo das autoridades, é fácil infiltrar-se gente estranha e de fora do país com ideias negativas de vida em sociedade", acrescentou. O controlo, prosseguiu, deve ser exercido sobre qualquer fé religiosa, porque "o perigo pode vir de qualquer lado quando a religião é deturpada".

Aminudin Muhammad rejeitou a ligação entre o islão e a violência armada em Cabo Delgado, apontando o interesse pela delapidação de recursos naturais como provável razão da acção de grupos armados na região. "A maioria das vítimas da guerra em Cabo Delgado é muçulmana e há muitas mesquitas destruídas. Aquilo não tem nada a ver com o islão", acrescentou.

O presidente do Cislamo apontou a coincidência entre o início da violência armada em Cabo Delgado com a presença de multinacionais de gás natural na região, para dar substância à ideia de que o interesse em recursos está por detrás do conflito. "Não tínhamos instabilidade em Cabo Delgado antes do início dos projectos de gás natural, mas agora que estão lá as multinacionais a situação piorou", afirmou.

Muhammad notou que os promotores da violência armada no Norte do país desprezam os princípios e valores do islão, chegando a entrar calçados nas mesquitas, o que viola os princípios básicos da religião, além de "pronunciarem mal as palavras e frases tipicamente ligadas ao islão". "O islão tem séculos em Moçambique e nunca foi causa de violência. O islão em Moçambique sempre promoveu a concórdia com ou-tras religiões", sustentou.

O presidente do Cislamo afastou ainda suspeitas de que estudantes moçambicanos de escolas corânicas estejam envolvidos na radicalização de jovens no Norte de Moçambique. Muhammad reiterou que as entidades islâmicas moçambicanas alertaram as autoridades sobre a presença de fiéis com "um comportamento estranho" nas mesquitas antes do início da violência, em 2017, mas esses avisos "foram ignorados".

 
Ataques desde 2017

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes e 700 mil deslocados. O mais recente ataque foi feito a 24 de Março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.
Sábado, três pessoas morreram e 11 ficaram feridas, na sexta-feira, na sequência de tumultos no distrito de Alto Molócue, na província da Zambézia, Centro de Moçambique, informou fonte policial, citada pela Lusa.

As vítimas foram atingidas por balas perdidas quando a Polícia tentava repor a ordem após um tumulto que terá sido originado por informações falsas que davam conta da existência de um cativeiro com crianças raptadas numa residência na vila de Alto Molócue, disse Sidner Lonzo, porta-voz da Polícia.

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