Reportagem

Luremo quer contar com mais investidores do sector não diamantífero

Armando Sapalo | Dundo

Jornalista

Localizada a 50 quilómetros da sede municipal do Cuango, Luremo foi um antigo posto militar do então distrito da Lunda, no longínquo ano de 1899. A localidade, que ocupa uma extensão territorial de 4.404 quilómetros quadrados, tem uma densidade demográfica estimada em cerca de 30 mil habitantes.

15/08/2023  Última atualização 08H05
© Fotografia por: Benjamim Cândido | Edições Novembro

Em declarações ao Jornal de Angola, o administrador interino, José Muheto, explica que o Luremo possui inúmeras jazidas de diamantes, mas é consensual entre a maioria dos habitantes que hajam políticas do Governo Provincial para atrair investidores que operem em outras áreas de crucial importância económica com vista a criação de novos postos de trabalho e, por conseguinte, maior qualidade de vida para os cidadãos.

José Muheto é de opinião que as acções prioritárias em termos de captação do investimento privado devem estar sobretudo consubstanciadas nos sectores da Agricultura, Pecuária, Pescas, Hotelaria, Turismo, Cultura, Comércio e Indústria.

Não obstante o Luremo ser uma comuna essencialmente diamantífera, o gestor comunal considera que existem outras potencialidades fora do sector Mineiro carentes de investimentos. Por exemplo, os resultados da aposta na agricultura são visíveis a julgar pelos níveis de produção e o número de famílias envolvidas.

Além de terrenos férteis e virgens, a comuna do Luremo tem o privilégio de ser detentora de uma diversidade de produtos do campo, dos quais se destacam as hortícolas, frutas e cereais, como feijão, milho, tubérculos (mandioca e batata doce), mas a actividade de campo é ainda feita com recurso a meios rudimentares. Em outras palavras, Luremo está desprovido da mecanização agrícola. As 16 associações de camponeses que se dedicam essencialmente à agricultura de subsistência clamam por apoios, para que apostem numa actividade empresarial e sustentável. "Para o aumento da produção local de alimentos, somos capazes de servir os mercados de consumo ao longo da Bacia Hidrográfica do Cuango, que incluem três municípios da zona Sul da Lunda-Norte, nomeadamente, Cuango, Xá-Muteba e Capenda-Camulemba”, disse.

No passado, o administrador diz que a comuna foi dos maiores produtores de tubérculos. Contudo, diante do processo de revitalização, levado a cabo pela Direcção Municipal da Agricultura, Pecuária e Pescas, está "refém” da falta de meios de trabalho e capital humano capacitados para que possa prestar assistência técnica aos produtores. Em função desta realidade, José Muheto lança o repto a todas as forças da província da Lunda-Norte para a necessidade de adaptação aos investimentos que, de facto, a comuna necessita.

Extensa fronteira terrestre e fluvial

Com a República Democrática do Congo (RDC), Luremo partilha uma extensa fronteira terrestre e fluvial que praticamente ocupa metade do território da circunscrição. O limite entre o território angolano, a partir do Luremo, com a RDC, tem a designação de Tunguila.

Com uma extensão de 4.400 quilómetros quadrados, a fragilidade em relação à segurança reside no reduzido número do efectivos da Polícia de Guarda-Fronteira lacuna que propicia a entrada ilegal no país de cidadãos estrangeiros.

A actividade comercial é praticamente inexistente no Luremo e, por isso, a aquisição e obtenção de produtos da cesta básica para o consumo, a população recorre à vila mineira de Cafunfu, num percurso de 35 quilómetros.

O administrador comunal interino sugere que o Governo Provincial da Lunda-Norte, através do Ministério do Interior, deve propor a abertura de um mercado fronteiriço com a RDC para o fomento das trocas comerciais entre os dois povos. José Muheto acredita que a institucionalização de um espaço para o intercâmbio comercial teria vantagens económicas do ponto de vista fiscal e aduaneiro para os cofres do Estado, incluindo um impacto positivo na vida das pessoas com o surgimento de empregos directos ou indirectos.

Na verdade, o mercado fronteiriço ao longo do limite entre a RDC e a comuna do Luremo, menciona o administrador, nunca existiu, sendo que as únicas travessias feitas tiveram a ver com a evacuação de doentes em estado grave para o país vizinho em tratamento médico. Este processo de evacuação é feito mediante uma solicitação às autoridades migratórias dos dois países, que, por sua vez, emitem um "salvo conduto”, documento que autoriza a entrada na RDC.

"O mercado como tal, na verdade nunca existiu, por isso estamos a pedir e sempre pedimos que se faça alguma coisa para termos um espaço adequado para as trocas comerciais. Seria vantajoso para nós, na medida em que iria promover a actividade comercial, aumentar a base tributária das receitas fiscais e aduaneiras, com reflexos na criação de empregos para a juventude”, disse José Muheto, esclarecendo de seguida que da sede comunal do Luremo, até à fronteira, o percurso é de 84 quilómetros.

Os sectores do Comércio, Hotelaria e Turismo, fez saber, deviam ser explorados no Luremo. No entender do administrador comunal, os sectores acima mencionados muito provavelmente podem ser a solução para absorver um grande número de jovens para o mercado de emprego e consequentemente reduzir dos focos de garimpo e imigração clandestina.

Infra-estruturas de impacto social

Presentemente, Luremo carece de infra-estruturas de impacto social, para dar maior qualidade de vida à população. O administrador interino caracteriza de bastante difícil a situação social, política e económica na comuna.

José Muheto aponta que a comuna enfrenta grandes problemas relacionados com as vias de comunicação que estabelecem a ligação entre a sede municipal e a maioria dos principais aglomerados populacionais.

Além de criar sérios embaraços na circulação de pessoas e mercadorias, a falta de estradas dificulta também o escoamento de produtos agrícolas. O gestor municipal aponta, igualmente, a carência de infra-estruturas habitacionais para acomodar os quadros da administração pública. O número reduzido de escolas, professores, médicos, enfermeiros e transportes públicos, figuram do conjunto de dificuldades.

As autoridades locais, conforme sublinha José Muheto, estão preocupadas com os atrasos que se verificam na implantação dos serviços de Justiça e agências bancárias. A ineficiência no funcionamento dos serviços do sector das Telecomunicações e Tecnologias de Informação foi também referida pelo administrador comunal interino ao longo da conversa que manteve com o Jornal de Angola.

"A comuna do Luremo carece de tudo um pouco, daí aproveitarmos para solicitar a intervenção superior para que seja feita uma análise profunda sobre a situação económica e social da comuna a partir dos próximos exercícios económicos, atendendo os propósitos do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM)”, fez menção.

Mais professores e profissionais da Saúde

Contas feitas por quem domina a realidade na comuna, a par de novas infra-estruturas, os sectores da Educação e Saúde precisam de mais professores, médicos, enfermeiros e outros quadros qualificados.

O Jornal de Angola apurou que a rede de estabelecimentos escolares do Luremo é composta por sete unidades, mais concretamente na sede comunal, nas localidades do Calumbo, Mussuco, Curva, Mahango, Pedro Bumba e N’gulia Kama, algumas das quais construídas no tempo colonial. No recém-terminado ano lectivo, o número de professores reduziu de 16 para dez, no quadro da reforma por tempo de serviço da parte de um grupo de dez técnicos que asseguravam o processo de ensino e aprendizagem.

José Muheto avança ter recebido garantias da Administração Municipal do Cuango que em breve vão contar com quatro novos professores. A par da existência de um núcleo da Escola do Magistério Primário, o sistema de ensino no Luremo vai até a nona classe (I ciclo).

"Uma das grandes preocupações, reside no sector da Saúde. A assistência médica à população é assegurada por apenas três enfermeiros em duas unidades sanitárias – Centro de Saúde e o Materno-infantil – para um universo de quatro regedorias, nomeadamente, Mahango, N’gulia Kama, Katxinga e Katolo”, disse.

De momento, está em execução a construção de um sistema de abastecimento de água potável na sede comunal, enquanto no tocante à energia eléctrica a Sociedade Mineira da Luminas instalou um grupo gerador com capacidade de 800 KVA, no quadro das suas acções de responsabilidade social. Neste quesito, José Muheto ressalta que o projecto de energia térmica incluiu também a instalação de postes de iluminação pública.

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