Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
Mafrano, o autor dos textos dispersos que acabam de ser compilados agora na colectânea sobre a antropologia cultural bantu, também escreveu sobre a formação das famílias nas sociedades bantu, desde os primeiros momentos em que o pretendente, ou seja, o jovem apaixonado, vê a mulher dos seus sonhos, pela primeira vez, e vice-versa. Veja o que ele nos descreve num dos capítulos que o leitor interessado pode encontrar na colecção “Os Bantu na visão de Mafrano – Quase Memórias”:
"É o momento decisivo para o pretendente…”
"Está na hora. Tudo pára a um sinal combinado. Desembrulha-se a futa (qualquer coisa como farnel). Macunde guisado, peixe assado, batata doce assada, jinguba, mandioca ou bombó assado – eu sei lá – O rapaz está em pulgas. Vai sentir o coração aos pulos ou um balde de água fria”.
"Pega-se num prato onde se põe de tudo o que há para matabichar. O moço continua em pulgas. Se a portadora do matabicho para o colaborador eventual for a moça – Deus seja Bendito! Isto significa que ela está livre de qualquer compromisso: noivado e até de pretendente. E pode ser dele…”
"Meio caminho andado”.
"Dali ao fim da faina, o moço redobra de energias e trabalha com mais ardor”.
Mais adiante, o autor relata o que chama de "O CASO DA FONTE”, ou seja, uma história sobre os hábitos e costumes matrimoniais entre os bantu.
[Entre os povos bantu] "o símbolo tradicional é a rodilha, palavra que entra em muitos provérbios. A moça vai à fonte pela água, geralmente nunca só, ao chegar à fonte ou ao rio, as raparigas pousam a rodilha numa rocha ou toro e vão encher a bilha (sanga) ou cabaça (mbinda).”
"No momento exacto em que a moça pousou a rodilha, o moço apodera-se dela (da rodilha) e segura-a até que a moça tenha a bilha cheia”.
"Se a moça aproximar com sorriso a cabeça no gesto próprio para que lhe ponha a rodilha na cabeça, ela quer com isto dizer que está livre”.
"O moço sente-se feliz, embora seja apenas meio caminho andado”.
"Quando a jovem está comprometida ou o moço lhe não interessa, deixa a bilha no lugar ou junto à fonte, dirige-se ao cavalheiro e diz-lhe dá-me a minha rodilha”.
"Isto é pior que os apupos que às vezes se seguem. O moço é uauádo (apupado; é onomatopeia: uooooo!!!! Ou uaaaaa!!! que é acompanhada de um bater dos dedos na boca). É um fracasso que muito dói ao moço e nunca mais esquece”.
"O ser uauádo, porém, é raríssimo. Por via de regra, só acontece quando o rapaz é forasteiro e especialmente quando se sabe que é incircunciso”.
Como vê o leitor – escreve Mafrano -, tudo se faz às claras. Não há recadinhos, assobios, namoros clandestinos prévios. Isso entre os Bantu é um crime. O interessado apresenta-se de viseira descoberta; perde ou ganha com dignidade e honra.
Falta, agora, afastar eventuais pretendentes: um garrafão, e o início do namoro (sungui): outro garrafão de vinho.
A tia da moça oferece um jantar ao rapaz, em sua casa, na companhia da sobrinha, já se vê. Quem paga o vinho é o rapaz. Mas isso é para aí um litro ou dois.
Está caindo em desuso a tradicional licença dos moços do Bairro da noiva, quando eles são de sanzalas diferentes. Na vigência desse costume, ou a licença pagava-se ou havia a partida da pedrada de fisga nas pernas do moço.
E pronto: Está aqui a melhor receita para quem quiser festejar com responsabilidade o dia 14 de Fevereiro na perspectiva de um futuro noivado até ao casamento.
In "Os Bantu na visão de Mafrano”, O casamento legal e a concubinagem, Volume I.
Seja o primeiro a comentar esta notícia!
Faça login para introduzir o seu comentário.
LoginEm diferentes ocasiões, vimos como o mercado angolano reage em sentido contrário às hipóteses académicas, avançadas como argumentos para justificar a tomada de certas medidas no âmbito da reestruturação da economia ou do agravamento da carga fiscal.
O conceito de Responsabilidade Social teve grande visibilidade desde os anos 2000, e tornou-se mais frequente depois dos avanços dos conceitos de desenvolvimento sustentável. Portanto, empresas socialmente responsáveis nascem do conceito de sustentabilidade económica e responsabilidade social, e obrigam-se ao cumprimento de normas locais onde estão inseridas, obrigações que impactam nas suas operações, sejam de carácter legal e fiscal, sem descurar as preocupações ambientais, implementação de boas práticas de Compliance e Governação Corporativa.
A ideia segundo a qual Portugal deve assumir as suas responsabilidades sobre os crimes cometidos durante a Era Colonial, tal como oportunamente defendida pelo Presidente da República portuguesa, além do ineditismo e lado relevante da política portuguesa actual, representa um passo importante na direcção certa.
O continente africano é marcado por um passado colonial e lutas pela independência, enfrenta, desde o final do século passado e princípio do século XXI, processos de transições políticas e democráticas, muitas vezes, marcados por instabilidades, golpes de Estado, eleições contestadas, regimes autoritários e corrupção. Este artigo é, em grande parte, extracto de uma subsecção do livro “Os Desafios de África no Século XXI – Um continente que procura se reencontrar, de autoria de Osvaldo Mboco.
O Festival Internacional de Jazz, agendado para decorrer de 30 deste mês a 1 de Maio, na Baía de Luanda, tem já confirmada a participação de 40 músicos, entre nacionais e estrangeiros, e o regresso da exposição de artes visuais com obras de 23 artistas plásticos, anunciou, sexta-feira, em conferência de imprensa, no Centro de Imprensa da Presidência da República, CIPRA, o porta-voz da Bienal de Luanda, Neto Júnior.
A judoca angolana Maria Niangi, da categoria dos -70 kg, consegui o passe de acesso aos Jogos Olímpicos de Verão, Paris'2024, ao conquistar, sexta-feira, a medalha de ouro no Campeonato Africano de Judo que decorre na Argélia.
A representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Angola, Denise António, destacou, sexta-feira, em Luanda, a importância do Governo angolano criar um ambiente propício para a atracção de mais investidores no domínio das energias renováveis.
O Governo do Bié iniciou a montagem de um sistema de protecção contra descargas atmosféricas nos nove municípios da província, pelo elevado número de pessoas que morreram nas últimas chuvas, devido a este fenómeno, garantiu, sexta-feira, o governador Pereira Alfredo.
Nascido Francis Nwia-Kofi Ngonloma, no dia 21 de Setembro de 1909 ou 1912, como atestam alguns documentos, o pan-africanista, primeiro Primeiro-Ministro e, igualmente, primeiro Presidente do Ghana, mudou a sua identidade para Nkwame Nkrumah, em 1945, com alguma controvérsia envolvendo o ano de nascimento e o nome adoptado.
Em quase toda parte da cidade de Luanda, bem como em outras cidades de Angola, é comum ver mototáxis circulando. Em busca de melhores condições de vida, Augusto Kalunga viu-se obrigado a se tornar um mototaxista, superando o preconceito de familiares e amigos para garantir o sustento da sua família e cobrir outras necessidades.