Reportagem

Moxico: Província com maior extensão territorial ergue-se dos escombros

Samuel António | Luena

Jornalista

A província do Moxico celebra, hoje, 106 anos desde que foi desmembrado do antigo Distrito de Benguela, a 15 de Setembro de 1917, depois de várias expedições militares que culminaram com a ocupação colonial.

15/09/2023  Última atualização 11H56
© Fotografia por: DR

Moxico é a província de Angola com maior extensão territorial, ocupando 17 por cento do território nacional, com uma superfície de cerca de 223.023 km 2. Administrativamente tem nove municípios, a saber: Alto Zambeze, Bundas, Camanongue, Léua, Luacano, Luau, Luchazes, Cameia e Moxico.

 A sede provincial é a cidade do Luena, que concentra mais de 40 por cento da população, num total de 935.649 habitantes da província. Do ponto de vista etnolinguístico, a população é bastante diversificada, com predominância dos grupos Chokwe, Luvales, Ovimbundos, Lunda Ndembo, Luchazes, Bundas e outros pequenos grupos.

A guerra pós-independência que assolou fortemente a região foi um dos factores que atrapalham o progresso e adiou muitos sonhos da sua população.

Terminada a guerra, em 2002, fruto dos Acordos de Paz assinados em Luanda, Moxico tem se erguido dos escombros com a construção de vários empreendimentos sociais. Localidades antes desprovidas de serviços essenciais básicos têm pelo menos uma escola e unidade sanitária.

Esforços que têm sido redobrados pelo Executivo com a adopção de planos de emergência, para atenuar o elevado grau de constrangimentos existentes nos mais variados domínios da vida social e económica da província.

Os vários encontros de auscultação que o Governo da província tem vindo a realizar com as diferentes sensibilidades permitem perceber a grande responsabilidade que o Executivo tem, a fim de atenuar as inúmeras dificuldades ainda existentes.

Os encontros realizados tanto com a juventude, autoridades tradicionais e representantes de várias denominações religiosas insistem sobre a ausência de indicadores de desenvolvimento em quase todos os sectores da Vida Social e Económica da província.


Projectos inseridos no PIIM
Falando do Plano Integrado de Intervenção dos Municípios (PIIM), o vice-governador lembrou que a nível da província foram inscritos 127 projectos, dos quais 70 por cento já concluídos, 20 por cento em curso e os restantes encontram-se paralisados.

Sublinhou que o Governo da província tem se empenhado na implementação e acompanhamento destes projectos, no sentido de reduzir ao máximo a insuficiência de infra-estruturas sociais.

Afirmou que os projectos foram direccionados para a construção de escolas, centros de saúde, iluminação pública, terraplanagem e asfaltagem de algumas vias, acções que, segundo o dirigente, permitiram garantir 1.887 empregos aos jovens locais.


Energia eléctrica
De modo a aumentar a capacidade energética, o vice-governador assegurou que, até ao próximo ano, a cidade do Luena vai contar com um sistema de fornecimento de energia fotovoltaica, com capacidade para gerar 30 megawatts de energia.

A iniciativa, segundo Victor da Silva, vai estender-se aos restantes municípios da província, de modo a proporcionar maior oferta de energia e permitir a instalação de indústrias transformadoras de madeiras e produtos agrícolas.

"Estamos a trabalhar para que o futuro seja cada vez melhor, garantir os serviços essenciais, numa sociedade em que o cidadão possa sentir-se realizado”, concluiu.


Mudanças notáveis

Em entrevista aos órgãos de comunicação social, o vice-governador para o Sector Político Social e Económico, Victor da Silva, afirmou que, apesar de vários embaraços, Moxico não pára de crescer, rumo ao desenvolvimento sustentável. Apontou mudanças notáveis, pelo facto de os programas de maior impacto terem sido salvaguardados, para garantir o acesso da população aos principais serviços sociais básicos.

 O vice-governador lembrou o passado histórico da província, sublinhando que os vários momentos que antecederam a independência nacional, bem como o conflito armado que assolou fortemente a região teve alguma influência na situação actual do Moxico.  

"A província está a erguer-se pouco a pouco para atingir outros patamares. Ainda que o caminho seja longo, o Governo está apostado na construção de infra-estruturas, para servir de base para o alcance do desenvolvimento”, assegurou.

Para o vice-governador, o conceito de desenvolvimento passa, necessariamente, pela construção do homem capaz de corresponder às expectativas da satisfação das necessidades da província, nomeadamente a formação do capital humano, educação, ensino e formação profissional.

Victor da Silva afirmou que o Moxico está a trabalhar para garantir, a todo o cidadão, o acesso à energia, água potável, ensino, assistência médica e aumentar os níveis de produção agrícola.

"Vamos continuar a mobilizar esforços para facilitar a produção agrícola, com a entrega de meios de produção e créditos através dos bancos comerciais, no sentido de fomentar a produção para que a província alcance a auto-suficiência alimentar”, garantiu.


Papel do Caminho-de-Ferro de Benguela
O vice-governador considerou o Caminho-de-Ferro de Benguela um factor importante para o desenvolvimento do Moxico, pois que, além de movimentar o maior número de passageiros, transporta enormes quantidades de mercadorias que facilitam as trocas comerciais entre o Leste e o Litoral.

 Sublinhou ainda as vantagens que a região vai ter com a construção do ramal que vai ligar a Zâmbia através do corredor do Lobito, iniciativas Turístico e promover o desenvolvimento, com a geração de mais receitas e ofertas de emprego. 


Implementação do ensino superior

De acordo com Victor da Silva, a implementação do ensino superior trouxe mais-valias na província. Até 2016, segundo o governante, o Moxico tinha apenas 100 técnicos superiores, mas hoje conta com quatro mil licenciados em diversas áreas do saber.

Lembrou que os sectores da Educação e Saúde foram os mais beneficiados com a implementação do ensino superior, porque careciam de técnicos superiores. A título de exemplo, os institutos médios da província eram assegurados por professores monitores com o nível médio.

Em termos de ganhos, referiu, o Moxico conta, hoje, com três institutos superiores. A diversificação de cursos tem permitido a formação de muitos quadros que estão a contribuir em diversos sectores na província.

Falando sobre a Cultura, o vice-governador afirmou que o Moxico tem uma diversidade cultural bastante rica e o Governo da província vai continuar a estimular estas manifestações, no sentido de promover mais danças, músicas, artesanato, para preservar a identidade cultural do povo.


Programa Kwenda
Sobre o Programa Kwenda, o vice-governador assegurou que desde o início, o programa já beneficiou 160 mil famílias, prevendo-se, até 2024, abranger todas as famílias em condição de vulnerabilidade a nível da província.

O vice-governador apelou a população do Moxico a manter a calma, pois, disse, o Executivo está a fazer tudo para levar a cabo todas as acções que visam garantir o bem-estar das famílias.

Referindo-se aos programas da juventude, destacou a necessidade de se continuar com acções de formação e atribuição de kits profissionais e garantir oportunidade de emprego e pequenos negócios, para a geração de renda no seio das famílias.

"Vamos continuar a implementar estes programas para que os cidadãos possam ter acesso a actividades geradoras de renda e a criação de emprego para outros jovens”, sublinhou.


Bolsas de estudo internas
Em termos de bolsas de estudo internas, Victor da Silva assegurou que mais de 500 jovens de vários institutos superiores beneficiam, desde 2018, deste programa através da Fundação Brilhante, do sector Diamantífero.

No que concerne à Habitação, informou que 900 famílias tiveram acesso a novas moradias na centralidade Heróis de Cangamba e no projecto habitacional 450 casas, no bairro 4 de Fevereiro.


Serviços básicos longe das expectativas

O Jornal de Angola saiu à rua e ouviu a propósito o que os cidadãos pensam e das medidas que devem ser adoptadas para tirar a província da situação em que se encontra.

 Salvador Manassés, estudante, disse que é impossível falar do desenvolvimento numa região onde os serviços essenciais básicos estão ainda aquém das expectativas dos cidadãos e com o registo de várias obras de estradas e de outras infra-estruturas públicas em estado de abandono.

Defendeu uma actividade empresarial forte e capaz de ajudar o Executivo na solução de alguns problemas, como por exemplo, garantir o emprego aos jovens e apoiar algumas iniciativas, principalmente nas comunidades onde as dificuldades são maiores.

Sublinhou que, numa região onde o maior empregador continua a ser o Estado, os sinais de desenvolvimento se revelam cada vez mais escassos e as oportunidades de emprego tornam-se diminutas. Salvador Manassés afirmou ainda que a solução dos problemas que o Moxico enfrenta passa necessariamente pela dinamização da classe empresarial e a promoção de acções que visam incentivar o Turismo, aproveitando as potencialidades existentes neste sector.

Por isto, defendeu a conjugação de esforços de todos os sectores e do apoio dos órgãos centrais do Estado para tornar possível o progresso e o desenvolvimento sustentável da província.

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