Reportagem

Município da Baía Farta celebrou 58 anos

Arão Martins / Benguela

Jornalista

A denominação “Baía Farta” reserva na sua essência aquilo que a terra tem de melhor, de mais nobre, admirável e proveitoso. Entre o sublime e o belo, a sede do município da Baía Farta, conhecida como uma zona piscatória, ergue-se sobre uma extensa região costeira com características excepcionais

17/12/2023  Última atualização 12H38
© Fotografia por: Arão Martins | Edições Novembro

A corrente fria de Benguela garante à Baía Farta abundância em peixe e a qualidade das salineiras, o que a leva a ser considerada o maior centro piscatório da província, responsável pela introdução de mais de 80 por cento do sal que é produzido no mercado nacional.

As praias tranquilas e o relevo costeiro da Baía Farta oferecem uma diversidade elevada com referências como a Enseada do Cuio, Baía dos Elefantes, Baía Azul e Caota, que foram, até este domingo, apresentadas e divulgadas numa feira com exposições para atrair investidores, no âmbito dos 58 anos desde que aquela urbe ascendeu à categoria de município, celebrados a 13 deste mês.

Itinerários igualmente atraentes da Baía Farta são as salinas da Macaca, Calombolo e Chamume, situadas na Cidade do Sal. Mais a norte, está o Parque Natural da Chimalavera, principal reserva natural da província de Benguela, a caminho do Dombe Grande.

A administradora municipal da Baía Farta, Miraldina Torres, disse que a capacidade produtiva da Baía Farta pode dar um contributo muito valioso no programa de diversificação da economia e da dieta alimentar. A responsável esclareceu que reza a história que Baía Farta, nome que deriva da configuração geográfica da região, resulta da abundância e fartura de pescado no passado. Pela portaria 14.061, de 13 de Dezembro de 1965, a Baía Farta ascendeu à categoria de município.

 
População heterogênia

A população da Baía Farta é originária de diversos pontos do interior do país, designadamente os Amboim, vindos do Cuanza-Sul, os Va Mbalundo (Huambo) e os Va Tchilengue (Huíla) e os Mukuissi (Namibe), de cujo cruzamento resultou o povo Mundombe, considerado como autóctone da região.

A população da Baía Farta é estimada em mais de 136.297 habitantes, segundo dados do censo geral de 2014.

O historiador João Jorge David explicou ao Jornal de Angola que o nome Baía Farta deve-se à configuração geográfica da localidade, que representa uma Baía, a que se juntou o nome "Farta”, devido à fartura de peixe de que desfrutavam os primeiros habitantes.

No centro da vila, indicou o historiador, situava-se o bairro da Capipa. Segundo ele, é neste ponto onde vieram morar os primeiros nativos angolanos que formaram a Baía Farta.

"Veio para cá, originário do Dombe Grande, propriamente da localidade do Cuio, o nativo António Viya, que se fazia transportar numa chata rudimentar e se instalou no que é hoje o bairro Capipa, onde começou a fazer a pesca à linha”, disse.

Acrescentou que nas proximidades, se instalou a actividade pesqueira de iniciativa de um cidadão português que se chamava Rodrigues, mas que devido à sua estatura baixa ficou conhecido por Rodrigues Cambuta.

"É aqui onde nasce a Baía Farta, que foi se estendendo mais para a direita, onde se juntaram, primeiro, os mundombes, seguidamente vieram os cidadãos de Benguela pela costa marítima, atravessando a zona do Sombrero, a Caotinha, a Caota, a Baía Azul, e instalaram-se na praia até mais ou menos próximo do actual estaleiro moderno e formaram o bairro que deu origem à Baía Farta”.

Baía Farta, segundo o historiador, é portadora de uma cultura respeitada e considerável dos mitos da província de Benguela, onde se destaca o ekuenje (evamba, na língua local) e o efico, considerados como ritos de iniciação e de puberdade. Tem danças tradicionais tchinganji, caviúla, simberta e mbulonganga.

O município possui quatro comunas: Baía Farta (sede), Dombe Grande, Equimina e Calohanga. No sector do turismo destaca-se o Parque Regional da Chimalavera, com as lindas praias da Baía Azul, Ponta de São José, Macaca, Praia da Lua, Baía dos Elefantes e Baía dos Pássaros. O município possui um parque hoteleiro com mais de 260 camas, distribuídas em hotéis, lodges e hospedarias.

O potencial turístico estende-se às estações arqueológicas do Dongo e Catchama. Quanto a monumentos históricos e sítios, destacam-se: Paróquia de São José, Ruínas do Cuio, Luacho e outros.

O hoteleiro Jorge Gabriel disse que a Baía Farta tem um hotel de 4 estrelas, com todas as condições, tem restaurantes à beira mar, espaços livres para aqueles que queiram acampar e outros lugares que considerou de "verdadeiro sossego”.

"Tudo isto é o que temos para poder oferecer, para além daqueles que gostam de prática submarina poderem fazer mergulho. Tudo isto, você encontra na Baía Farta”, informou.

Reconheceu que, nos últimos anos, a Baía Azul tem sido o cartão de visita de toda a província de Benguela, "porque para além de ser um mar único, dos que eu conheço a nível do mundo, tem outras características: um mar que é uma autêntica piscina, um mar sem ondas, calmo, com águas cujas temperaturas estão acima de 28 a 30 graus. É o único que eu conheço no mundo com essas qualidades e especificidades”, disse, acrescentando que "essa costa” pode proporcionar um bom peixe e um bom marisco a todos os turistas.


Actividades económicas

O município da Baía Farta destaca-se pela pesca semi-industrial e artesanal. Segundo dados fornecidos pela Administração Municipal, a região conta com uma frota moderna composta por mais de 50 embarcações de cerco distribuídas por 16 empresas, que garantem emprego directo a 6.890 trabalhadores e com uma captura média de 248 mil toneladas ano, com destaque para a sardinha e o carapau.

Os empresários que actuam no ramo reconhecem que a base de sustentabilidade do povo angolano é o peixe e que mais de 80 por cento do peixe consumido no país sai da Baía Farta, cujas empresas são de referência, com capacidade para abastecer o mercado nacional.

Já o sector salineiro conta com seis salinas com uma área de mais de 10 mil hectares que garantem emprego directo a mais de 3.800 trabalhadores, com uma média de produção de 400 mil toneladas ano de sal.

O empresário Adérito Areias, uma das referências na produção de sal, através das Salinas Calombolo, explicou que até finais deste ano, a produção vai chegar "tranquilamente” a 150 mil toneladas. "O nosso objectivo é esse. Poderá se dar o caso de que a quantidade seja mais, dependendo do clima”, perspectivou.

Adérito Areias afirmou que o seu grupo salineiro já está a enviar sal, embora em pouca quantidade, para a República Democrática do Congo (RDC). "Para nós, Angola já está coberta completamente, neste momento o nosso foco é fazermos a ‘concorrência’ com a Namíbia e meter o sal no Congo”.

No sector agrícola, na Baía Farta, destaca-se o cultivo do milho, feijão, banana, tomate, cebola e pimento, com uma área arável de 138 mil hectares e uma produção média anual de 670.562 toneladas de produtos diversos, segundo fonte da Administração Municipal, afecta ao sector.

O vale do Dombe Grande é um contributo valioso na produção alimentar, já que uma das suas maiores riquezas é a água. O Dombe Grande, no geral, produz milho, feijão, tomate e cebola, durante todo o ano, segundo a administradora municipal Miraldina Torres.

Eduardo Candeias, que produz culturas variadas, disse que acompanha, também, as estações. "Acabei de fazer feijão há pouco tempo, estou neste momento a produzir batata doce e banana. Já tenho feito milho com regularidade e agora vou arriscar um pouco de cebola”, disse.

Sobre a pecuária, a Baía Farta controla uma população bovina estimada em 480 mil, entre bovinos, caprinos, ovinos e suínos. O empresário e criador de gado Álvaro Eugénio reconheceu que a Baía Farta tem um pasto rico.

"A região da Baía Farta, especificamente a comuna da Calohanga, tem condições óptimas, com pastos naturais que proporcionam ao boi manter o peso estável ao longo do ano”, garantiu, para acrescentar que "hoje já se consegue produzir reprodutores bons que são vendidos a criadores nacionais”.

No âmbito do seu aniversário, a Administração Municipal da Baía Farta iniciou o processo de colocação dos primeiros topónimos (sinalização dos nomes das ruas), nas principais artérias da vila.

O processo de sinalização visa facilitar a identificação de ruas, o que de certa forma irá tornar mais prática e segura a locomoção dos citadinos, sobretudo dos visitantes.

A Baía Farta, salientou a administradora municipal, já deu muito peixe. "O nosso mar já foi muito mais rico. Como sabemos, ultimamente, o nível de pescado diminuiu muito, devido a vários factores, muitos deles já são conhecidos pelo Ministério das Pescas, que promete tomar medidas severas, sobretudo, devido à violação do período de veda”.


Retomar a salga e a seca do peixe

A sociedade civil do município da Baía Farta aconselhou que se retomasse a escala, salga e seca do peixe, e, consequentemente, a devolução das viseiras para a cadeia alimentar das espécies marinhas, além de outras medidas necessárias.

Manuel Dias, que leu a mensagem da sociedade civil na cerimónia pública das comemorações do 58º aniversário da ascensão da Baía Farta à categoria de município, disse que de há algum tempo a esta parte, têm-se registado níveis baixos de captura.

"Apesar do fenómeno, temos acompanhado as políticas implementadas pelo Governo e pela classe empresarial para mitigar os problemas”, destacou, reconhecendo que, fruto dos projectos implementados, vai ser possível aumentar a produção e qualidade do sal.

Relativamente ao sector da Agricultura e Pecuária, salientou, têm sido aplicadas políticas satisfatórias para a produção agrícola familiar e mecanizada, com vários projectos de distribuição de meios e inputs agrícolas. No dizer de Manuel Dias, o ganho permitiu a constituição de várias associações e cooperativas a nível do município.

Manuel Dias referiu que, no sector da Saúde, há melhorias significativas com a construção do Hospital Geral, assim como o aumento de médicos, enfermeiros, funcionários administrativos e postos médicos nos bairros.

Quanto à Educação, Manuel Dias salientou que a sociedade civil do município reconhece que é o sector que mais cresceu, com a construção de mais escolas, a par da elevação dos níveis de ensino.

Sobre o sector da energia, frisou que houve um incremento considerável, com a construção da Estação Fotovoltaica e da subestação eléctrica, o que permitiu a expansão da rede domiciliar e a iluminação pública em vários bairros.

"Registam-se algumas dificuldades na distribuição da água, bem como no critério de cobrança à população. Pedimos melhorias” no sector, pediu.


"Boa terra para investir”

O município da Baía Farta tem condições para qualquer empresário fazer os seus investimentos.A administradora municipal Miraldina Torres disse que além do sal e do peixe, Baía Farta tem muitos recursos minerais, como são os casos do quartzo, gesso, calcário e da ureia usada na correcção dos solos.

A Baía Farta, indicou, é um município com muitas potencialidades no sector pesqueiro, salineiro e da agricultura.Miraldina Torres explicou que a Baía Farta desempenha um papel fundamental na balança económica da província de Benguela, em particular, e do país, em geral.

Além do peixe e sal, no município produz-se muito feijão, milho, cebola e tomate que já saem da região em grande escala para outras províncias do país e, inclusive, para o exterior.

 "A nossa força não está apenas nas águas profundas dos nossos mares, nas quais extraímos o peixe e outros recursos marinhos. A nossa força, mais do que se pode pensar ou imaginar, se estende pela vastidão das nossas terras e solos aráveis espalhados pelas comunas, lá onde o nosso povo labuta”, afirmou a administradora municipal, que destacou, também, a bravura e a força do povo baiano.

A construção da cidade da Baía Farta, salientou, "está ligada a um longo percurso histórico, com muitos dos seus filhos e filhas, de modo heróico e patriótico, a se debateram para uma Baía cada vez melhor”.

Segundo a administradora municipal, a Baía Farta, "actualmente, vai-se esculpindo, vai se polindo, se esmerando a cada dia que nasce, ganhando a imagem de uma cidade mais dinâmica, apresentando-se diariamente numa terra aberta ao progresso social e económico, fruto do suor e trabalho de seus filhos distribuídos pelas mais distintas profissões, quer pescadores, peixeiras e quitandeiras, quer desportistas, zungueiras, artistas, carpinteiros, pedreiros e professores, entre outros”.

 
Os vários traços

São vários os traços que caracterizam o povo da Baía Farta e a sua terra. Para a administradora municipal, o coração sempre aberto, generoso e hospitaleiro é a característica do povo, que sabe acolher sem reservas os visitantes.

"Temos um povo que não se cansa de construir a sua dignidade através do trabalho. É um povo possuidor de uma rica terra que se evidencia pelo seu potencial turístico e hoteleiro na Baía Azul, Praia da Lua, Praia da Macaca, as Praias do Chamume ou na orla marítima Sul, a Baía dos Elefantes, a Baía dos Pássaros…”

O município da Baía Farta, frisou Miraldina Torres, além do potencial salineiro, é rica em fauna e flora, potente em recursos naturais, como calcário, gesso, quartzo, argila, grafite, mica e  terras aráveis que proporcionam a prática eficaz da agricultura e pecuária e uma terra "potente” para a actividade pesqueira, dada a vastidão e amplitude das suas praias.

Miraldina Torres defendeu que a construção da Baía Farta deve continuar a ser uma obra colectiva, uma empreitada social na qual todos devem procurar fazer parte e não simplesmente uma obrigação do Executivo.

"Não devemos nos sentir isolados. Todos nós somos os construtores legitimamente indicados para que a Baía Farta atinja o patamar que todos nós ambicionamos”, defendeu, solicitando que não se deve deixar a Baía Farta à deriva, ao sabor dos ventos, carente de um verdadeiro projecto de desenvolvimento e de planeamento estratégico.

Reconheceu os desafios que o povo enfrenta, sobretudos os ligados à juventude, principalmente na área do emprego, água potável e da luz eléctrica.

A administradora municipal da Baía Farta, dos vários projectos realizados e concluídos, citou a reabilitação e apetrechamento de postos de saúde, sistemas de águas, jangos comunitários, hospitais, bem como a entrega de kits de agricultura para cooperativas de jovens da comuna da Kalohanga, e de pesca para cooperativas de antigos combatentes do Chamume, entre outros.

Além dos projectos concluídos, a administradora municipal da Baía Farta disse que existem outros que estão em curso, como é o caso da construção de balneários públicos na zona turística da Baía Azul, do polidesportivo no bairro Alto Liro, dos onze tanques de água na comuna-sede e na zona da orla marítima Sul.

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