Cultura

Museu do Huambo preserva as memórias dos reinos da região

Estácio Camassete | Huambo

Jornalista

O Museu Regional do Huambo preserva, até aos dias de hoje, as memórias dos reinos do Bailundo, Wambu, Chiaka, Chingolo e Sambo, por via de um leque das primeiras colecções do acervo museológico recolhidas em 1956.

27/05/2021  Última atualização 05H10
Museu Regional do Huambo © Fotografia por: Francisco Lopes | Edições Novembro | Huambo
As peças museológicas, que tratam o passado da tradição umbundo, tinham sido guardadas no núcleo museológico, criado na época, e funcionavam na Câmara Municipal, edifício onde funciona a Administração Municipal do Huambo. O núcleo era apenas aberto em  datas festivas, quando as entidades coloniais visitavam o local.

As peças de memórias mereciam tantos cuidados, por parte dos portugueses, porque retratavam a história e as suas peripécias, durante a época da ocupação colonial, bem como os combates travados nesta época na região do Planalto Central.  
O núcleo, pouco tempo depois de ter ganho muitas peças, em 1957, foi classificado como museu, com a abertura de um espaço definitivo, inaugurado no mesmo ano. O acesso ao recinto, na época, era só para portugueses e uma minoria de negros, conhecidos como "assimilados”.

O edifício, construído em 1916, servia como casa de passagem dos trabalhadores dos Correios e depois passou a ser da rádio. As duas instituições, nos anos seguintes, identificaram outros espaços na cidade para funcionarem.


Visitas dos alunos
Os alunos de diferentes subsistemas de ensino, na província, reclamam o longo tempo em que o Museu Regional do Huambo está fechado ao público, pelo que solicitam  celeridade no processo de reabilitação.
As reclamações foram feitas por alunos do Huambo, ouvidos pelo Jornal de Angola, os quais recordam, com alguma saudade, os dias em que a professora os levava, em fila, rumo a uma viagem ao passado, através de contos dos historiadores, sobre as peças que retratam a vida dos antepassados.

João de Almeida, de 11 anos, a frequentar a 5ª classe, na escola 53, Bairro Académico, disse já ter visitado, por duas vezes, a instituição, nos anos lectivos anteriores, apesar de ter sentido medo de algumas peças no início da visita, mas depois "senti-me confortável e gostei de tudo o que vi”. "Desejo voltar a visitar o museu”, manifestou.

O estudante da 4ª classe, na escola 55, Cidade Alta, Joaquim Cassinda, disse que já visitou o museu, apenas uma vez, mas lamentou não ter realizado, ainda, o sonho de estar no Museu do Huambo, pelo facto de as portas estarem fechadas e sem data definida para a sua abertura. "Se não fosse o problema da Covid-19, na jornada comemorativa do mês dedicado à criança, Junho, poderíamos efectuar uma visita à instituição”, disse. Por este facto, um dos professores apelou aos responsáveis a velarem pela sua reabilitação o mais rápido possível, por ser uma "casa que conserva a memória colectiva do povo do Planalto Central”, destacou.


 Suspensão do financiamento
O director do Gabinete Provincial da Cultura  disse que as obras do museu estão paradas em função de um instrutivo do Ministério das Finanças que orientava a suspensão de algumas empreitadas por falta de garantia de financiamento, resultante da pandemia da Covid-19.

Jeremias Piedade Tchissanga avançou que se está à espera da "resolução desta situação”, garantindo que a recuperação física das obras "está num ritmo bastante acelerado”, pelo que se espera a conclusão do projecto para se "devolver as peças museológicas” que estão, há mais de três anos, colocadas numa sala provisória.

O Huambo só tem museu no município sede da província, mas espera-se que, quando se concretizar o projecto de construção de centros culturais, todos os municípios possam ter, por orientação do Ministério da Cultura, uma secção do museu para expor todo o potencial cultural e outros serviços de cada localidade, acentuou.


 Em obras desde 2018

As instalações do Museu do Huambo estão, actualmente, fechadas ao público, desde 2018, para obras de reabilitação, com o objectivo de se colocar nova cobertura, bem como a montagem de novos espaços para um melhor atendimento, garantiu Festo Sapalo.

O responsável do Museu Regional do Huambo avançou que serão, igualmente, necessários novos equipamentos de exposição das peças, por forma a "preservar o pouco acervo”, que, de momento, está sujeito às poeiras e à má conservação. "Se não tomarmos novas medidas, pode-se perder o pouco que se tem. Muitas peças estão meio estragadas e precisam de ser restauradas”, sublinhou.

O museu, nos anos 80, era "bem enriquecido com o património museológico”, assegurou, com mais de 2500 peças, com exposição bem específica, que retratava a história da tradição oral do reino do Huambo, as armas com que se travaram as guerras contra a ocupação das autoridades coloniais e também tinha mais de dez mil fotografias diversas que retratavam a vida da província e não só.
A guerra pós-eleitoral de 1992 destruiu e vandalizou o Museu do Huambo, causando a perda da maior parte do acervo, contando, neste momento,  apenas com 845 peças e 1.450 fotografias, que retratam a vida da cidade, desde a sua criação até 1975.

 "Este acervo está a merecer muita atenção, uma vez que, no período pós-guerra, se lançou uma campanha de recolha do património desaparecido durante o conflito armado. Mas não deu tão certo, conforme foi programado, embora alguns munícipes, em posse deste material colaboraram e a maior parte nunca tomou a iniciativa de devolvê-las ao museu”.
Estima-se que cerca de 700 peças tenham escapado da destruição, no período do conflito armado, sendo que a campanha de recolha das peças, anunciada aos órgãos da comunicação social, conseguiu reaver mais de cem peças que estavam em posse da população, explicou.

A recolha do acervo visava resgatar as antigas peças, por forma a se enriquecer o museu, para se poder ser o centro de consulta e pesquisa de muitos estudantes, que pretendam procurar saber sobre o passado e a vida dos ancestrais, assim para os turistas que procuram estar informados mais sobre a histórica região do Huambo, antes e depois da Independência.

Festo Sapalo vaticinou que, depois das obras terminadas, o museu vai garantir melhor conforto às peças museológicas e aos visitantes, passando a contar com seis salas de exposição, nas quais vão estar expostas arte sacra, peças de cestaria, agricultura, pesca, caça e de olaria. A maior dificuldade, revelou, é a restauração de mais de 62 peças museológicas que se danificaram ao longo do tempo e que há possibilidade de serem recuperadas.
O museu, quando funcionava em pleno, recebia mais de 70 visitas por dia, com destaque para os estudantes de todos os subsistemas de ensino.

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