Especial

“O país criou uma boa infra-estrutura, mas faltou construir a mentalidade”

Armando Sapalo | Dundo

Jornalista

O arcebispo católico sublinhou que o desenvolvimento deve ser fruto de uma justiça social equitativa, que promova, essencialmente, o bem-estar e o progresso, visando o cresimento com incentivo ao mérito

09/04/2024  Última atualização 09H45
O responsável da CEAST destacou os grandes investimentos para melhoria das vias de comunicação e a reabilitação das estradas nacionais © Fotografia por: DR

O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, reconheceu, sábado, no município de Caungula, província da Lunda-Norte, que ao longo dos 22 anos de paz e reconciliação nacional, o país conseguiu alavancar muita coisa, mediante à criação de boas infra-estruturas, tendo apontado a ausência da construção da mentalidade humana como o "elo mais fraco" nesta importante caminhada para a construção integral da vida dos angolanos.

Em declarações à imprensa,  à margem da festa de Jubileu dos 50 anos de existência da Congregação dos Missionários do Verbo Divino, o também arcebispo de Saurimo sublinhou que a falta da construção integral de uma mentalidade humana e espiritual é ainda o especto deficitário na celebração de uma das mais importantes efemérides em Angola, que é a restauração da paz e da reconciliação nacional.

Questionado em relação à  visão da Igreja sobre estes 22 anos de paz, o prelado católico referiu que a data deve representar toda a disponibilidade de espírito e atitude para acolher o irmão, na diferença, na fraternidade e no perdão, com vista à promoção de um verdadeiro ambiente de reconciliação.

"A nossa visão está expressa em todas as manifestações que temos vindo a fazer ao longo dos anos. A paz não é só o silenciar das armas. A paz tem a ver com a disponibilidade de espírito, com toda a atitude humana que nos deve levar a acolher o irmão, mesmo nas nossas diferenças, devemos cultivar a fraternidade e o perdão, para criarmos um verdadeiro ambiente de reconciliação”, disse o prelado católico, reconhecendo que "é óbvio que a conquista da paz alavancou muita coisa, o país deu um salto de qualidade muito importante. Criou uma infra-estrutura boa, mas faltou construir a consciência” das pessoas.

Para Dom José Manuel Imbamba, o país atravessa anomalias que já deveriam ter sido ultrapassadas, há muito tempo. Sublinhou que tais deformidades fazem com que as pessoas sejam, ainda hoje, reféns de muitas ideologias más, sofram de preconceitos, fomentem intrigas, calúnias, intolerância e outras coisas que retardam o avanço de que o país precisa e clama.

Conforme frisou o presidente da CEAST, a verdadeira paz e reconciliação devem partir da renovação espiritual, que só se concretiza através do reencontro sincero entre as pessoas, para que se evite a repetição dos os mesmos erros do passado.

"Para nós, Igreja, a verdadeira paz e reconciliação deve partir da renovação espiritual. Nós angolanos temos de nos reencontrar connosco mesmos, para não estarmos a repetir os mesmos erros e cair nos mesmos vícios e não conseguirmos dar uma resposta cabal que o cidadão precisa, para poder se orgulhar com o país que tem”, destacou. O arcebispo de Saurimo defende que os cidadãos precisam de oportunidades para se empenharem com o todo o mérito do trabalho e missão onde todos possam concorrer em igualdade de circunstâncias para o bem-estar comum.

 
Realidade do Leste do país

Dom José Manuel Imbamba disse que à semelhança de outras regiões do país, a do Leste também atravessa muitos problemas sociais que carecem de uma intervenção de todos.

O arcebispo de Saurimo recuou no tempo e no espaço e afirmou que entre as principais causas das insuficiências existentes estão, seguramente, a chegada tardia da colonização, evangelização e literacia, incluindo nesse pacote "a desgraça dos diamantes”, factos que levaram à criação de um preconceito para que as pessoas do Leste não vivessem a emancipação social e cívica propriamente dita. Dom José Manuel Imbamba afirmou que existem, ainda, muitas assimetrias sociais que levam ao retardamento do Leste, a par dos atrasos culturais que conduzem os próprios filhos da terra a não trabalharem para o progresso das suas zonas de origem. Disse que, politicamente, tem havido também uma certa obscuridade no querer acertar o passo do desenvolvimento, admitindo que, hoje, a indústria extractiva procura "corrigir o tiro", mas acaba sempre por ser uma rectificação tardia, que devia ter começado muito antes.

Ressaltou, no entanto, que essas correcções são bem-vindas, para que o incentivo ao desenvolvimento comece dos próprios cidadãos.

Para o presidente da CEAST, o desenvolvimento não deve ser como se de um favor se tratasse, é um dever de todos levar isso às pessoas de todo o lado do território nacional, para travar as assimetrias regionais e, consequentemente, os ódios, as invejas e as intrigas.

O arcebispo católico sublinhou que desenvolvimento deve ser fruto de uma justiça social equitativa, que promova, essencialmente, o bem-estar e o progresso das pessoas, onde as mesmas são chamadas a trabalhar para o crescimento com incentivo ao mérito, descobrindo com isso o valor das suas próprias inteligências e das suas capacidades de realização.

O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) reafirmou que os cidadãos devem beneficiar das mesmas oportunidades de acesso aos bens, serviços e ao desenvolvimento e progresso económico e social. Dom José Manuel Imbamba sublinhou que o país não produz riqueza para determinadas culturas ou regiões, produz riqueza para todos.


Destacadas melhorias  nas estradas nacionais

O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) admitiu que o Executivo angolano fez grandes investimentos para a melhoria das vias de comunicação, realçando as obras de construção e reabilitação das estradas nacionais.

Todas as províncias estão bem interligadas, disse o prelado, antes de apelar à necessidade de haver reconhecimento por parte das forças vivas da sociedade do esforço que o Governo fez para que as capitais provinciais estejam bem servidas em termos de infra-estruturas rodoviárias.

Dom José Manuel Imbamba referiu que o mesmo não se pode dizer em relação às vias secundárias e terciárias, pois há ainda muitos municípios, incluindo comunas, que ainda estão isoladas por causa da degradação das estradas.

Dom José Manuel Imbamba co-celebrou a missa jubilar dos 50 anos da Congregação dos Missionários do Verbo Divino com Dom Estanislau Marques Chindecasse, bispo da Diocese do Dundo.

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