Coronavírus

Por que a vacinação da Covid-19 em países mais pobres está atrasada

Os esforços para vacinar contra a Covid-19 nos países mais pobres tem estado a diminuir, deixando muitos sem defesas contra o coronavírus, numa altura em que o foco da pandemia estar a mudar de países ricos para nações em desenvolvimento, noticia o Wall Street Journal.

22/04/2021  Última atualização 18H41
© Fotografia por: DR
A iniciativa Covax, apoiada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e países ricos, para fornecer gratuitamente vacinas às nações de baixa e média renda, reduziu, recentemente, o número de doses que deviam ser enviadas até ao final de Maio.

Assim, das cerca de 240 milhões de doses previstas, apenas serão entregues 145 milhões, porque a Índia, o principal fornecedor da iniciativa Covax, suspendeu a exportação da vacina, devido o aumento de casos da pandemia no seu território.

Este facto está a aumentar a já enorme lacuna de vacinação entre países ricos e pobres. Enquanto mais de 200 milhões de doses foram administradas nos EUA, a Covax forneceu, até agora, menos de 41 milhões dos dois bilhões de doses planeadas até o final de 2021.

A lenta absorção das vacinas da Covid-19 nos países em desenvolvimento pode criar problemas para o resto do mundo. Os epidemiologistas acreditam que a falha em vacinar grande parte do mundo poderia deixar um grande reservatório do coronavírus circulando, dando-lhe a oportunidade de sofrer mutação e possivelmente espalhar-se para os países desenvolvidos.

As vacinas da Covax, planeadas para o primeiro semestre do ano, seriam fabricadas pelo maior fabricante de vacinas do mundo, o Serum Institute of India (SII), que tem parceria com AstraZeneca, para produzir o imunizante que a empresa desenvolveu com a Universidade de Oxford.

O SII diz que a sua produção também foi restringida por limites impostos pelos EUA sobre a exportação das principais matérias-primas para as vacinas, uma tentativa de Washington acelerar a produção interna.


A falta de clareza dificultou o planeamento

Funcionários dos Centros Africano para Controle e Prevenção de Doenças (Áfríca CDC) e da OMS sugeriram recentemente que os governos devem vacinar o maior número de pessoas com a primeira dose, mesmo que isso signifique um atraso na aplicação das segundas doses e apesar da falta de dados claros de  como a eficácia pode cair sem um reforço.

"Estamos num dilema como Continente”, disse John Nkengasong, chefe do CDC da África, na última semana. "Não podemos prever quando virão as segundas doses e isso não é bom para o nosso programa de vacinação”, disse.

Nkengasong acrescentou que, mesmo sem um reforço, uma dose da vacina da AstraZeneca deve proteger contra a Covid-19 grave. Outros países, entretanto, estão a lutar para administrar as poucas vacinas que têm recebido. Uma razão para a baixa demanda por vacinas em alguns países, dizem as autoridades de saúde, é a decisão de alguns países europeus de restringir o uso da vacina da AstraZeneca a pessoas mais jovens apesar dos relatos de um raro, mas grave distúrbio de coagulação do sangue.

Autoridades sanitárias nos EUA, na semana passada, também interromperam o lançamento de uma vacina feita pela Johnson & Johnson, enquanto investigam relatórios semelhantes. Covax e a União Africana apresentaram grandes pedidos de doses da J&J para o segundo semestre do ano.

"Há muita desinformação por aí e essa mensagem negativa, especialmente na Europa e América são os principais motivos pelos quais as nossas vacinações tiveram um início lento”, disse Diana Atwine, secretária permanente do Ministério da Saúde do Uganda. "O entusiasmo foi baixo porque as pessoas estão a ouvir coisas ruins sobre a vacina”, disse.

O Uganda, um país de 45 milhões de habitantes, administrou pouco mais de 200.000 das 964.000 doses que recebeu em Março. A falta de investimento em logística de vacinação, incluindo envio de mensagens ao público, também adiou o início da campanha.


Novas variantes
Tulio de Oliveira, geneticista da Escola de Medicina Nelson Mandela, na África do Sul, disse que o risco de a injecção se tornar menos eficaz sem um reforço oportuno era especialmente alto para países que lutam contra variantes que podem escapar de anticorpos de anteriores infecções ou vacinação, como as que foram descobertas pela primeira vez na África do Sul e Brasil e se espalhou rapidamente pelos países vizinhos. Mas, ele acrescentou, "Se for a escolha entre nenhuma vacina e uma vacina ... então não se escolhe, tem muito a perder a nível individual. O que se pode perder é a confiança na vacina”, disse.

Os planos de abastecimento actuais da Covax preveem uma retomada das entregas da Índia em Junho, mas o SII disse que depende do declínio do número de casos indianos. A semana passada, a Covax entregou menos de um milhão de doses. A OMS disse na segunda-feira que ainda estava em negociações com o Governo da Índia e não tinha nenhuma indicação clara de quando as entregas seriam retomadas e como muitas doses seriam liberadas.

Alguns países já estão à procura de outro fornecedor. A Indonésia, que registou casos de Covid-19 e mais mortes do que qualquer outro país no leste asiático, pediu a Pequim para ajudar com mais 100 milhões de doses extras de vacinas chinesas, além das mais de 125 milhões que já havia solicitado.

No início deste mês, o ministro da Saúde da Indonésia, Budi Gunadi Sadikin, disse que o Governo havia abordado a questão da entrega da vacina directamente com o chefe da Gavi, um dos grupos da Covax, assim como da AstraZeneca, que também atrasou os pedidos. "Os chineses provaram ser os mais consistentes no cumprimento das suas promessas”, disse Sadikin

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