Entrevista

Prado Paim: “Preciso de apoio para financiar o meu disco”

Analtino Santos

Jornalista

Prado Paim é um nome de destaque da cultura e do nacionalismo angolano que procura apoios para editar o seu primeiro CD, que está a ser gravado com a Banda Maravilha. Prado Paim é um nome de destaque da cultura e do nacionalismo angolano que procura apoios para editar o seu primeiro CD, que está a ser gravado com a Banda Maravilha.

30/04/2023  Última atualização 08H11
© Fotografia por: Luís Damião | Edições Novembro

Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, falou da sua trajectória artística, do seu envolvimento na revolução que levou Angola à Independência e de outros aspectos da sua vida artística e pessoal. Papá Bolingó, como também é tratado pelos seus apreciadores mais antigos, tem o dia 3 de Março de 1974 como sendo especial, porque neste dia recebeu o Disco de Ouro pela venda de 15.500 cópias do single onde constam os temas "Bartolomeu” e "Engrácia”.  
O artista recebeu-nos na sua casa de madeira, no Bairro Mota, Sambizanga, que não foi difícil de localizar, pois na rua 12 de Julho Papá Bolingó é uma referência. O velho músico confidenciou-nos que comprou a casa com parte dos direitos autorais pela venda das 15.500 cópias do seu single



Domingos Prado Paim, ou simplesmente Papá Bolingó, obrigado por este momento especial...
Eu é que agradeço, meu caro jornalista. Para mim é uma grande satisfação saíres do teu sítio de produção e vires para a minha humilde casa. Espero que leves boa impressão pela forma como o recebi aqui no Sambizanga.

Esta casa tem história. Pode partilhar como a adquiriu?
Olha, comprei com o dinheiro da venda do single "Bartolomeu”. É o resultado  da primeira tiragem. Saí do Bairro Cuca e comprei esta casa aqui no Mota, onde estou até hoje.

Sempre no Sambizanga. Há quanto tempo nesta zona?
Estou desde 1949. Conheço bem o Sambizanga,  desde o Bairro Operário até à Petrangol. Nunca saí daqui. Também parece que não me querem tirar daqui, como vês, a minha casa está neste estado. Para um cantor como eu, com muito prestígio no país mas a viver numa casa de madeira... Eu não sei o que fiz.

Mesmo com o seu prestígio e percurso não tem apoios?
Não sei o que se passa comigo, se alguém passa por trás, só Deus sabe. Olha, as pessoas sabem o que fiz, o partido (MPLA), o Governo e muitos dirigentes, todos sabem o serviço que eu fiz. Sempre informo e tudo que eu faço sai no jornal, eles ficam a saber, por isso admiro por que não me chamam para pelo menos darem-me uma casa. Por exemplo, nem meio de transporte tenho. Para me deslocar dependo da boa vontade de amigos e dos apertos nos táxis, mas os outros recebem carros e casas. Sinceramente, não sei o que se passa comigo. Agora com o Camarada Presidente João Lourenço... qualquer dia ele pode pensar em mim e me dar alguma coisa em nome do partido. Estão aí generais que eu é que ajudei para irem ao Congo e se eu fosse traidor lhes teria feito mal. Uns já não estão entre nós, como o Afonso Van Dúnem "Mbinda” e o "Mona”.

Porquê apenas agora a gravação de um CD?
Porque antes não apareceu ninguém para abrir as mãos e ajudar, dar uma luz verde. Jesus Cristo, o Filho de Deus, deu-me a luz que é o Marito, da Banda Maravilha, que se ofereceu. Ele conversou comigo, dizendo que a Banda Maravilha está disposta a gravar o disco a custo zero. Ele disse que depois de gravarmos todos os temas ele entregará a maquete e assim poderei arranjar um empresário para editar o disco.

Neste momento, do que é que Prado Paim necessita?
Preciso de apoio para financiar o disco, o meu primeiro CD. Na era colonial, gravei dois singles. Faço este apelo aqui no Jornal de Angola e, mais uma vez, agradeço muito o gesto do Marito e dos seus colegas da Banda Maravilha.

E o que vamos encontrar neste disco?
Música boa, como "Novidade de Santana” e "Juliana” no estilo Rumba, "11 de Novembro”, um Semba, "Lamento de Paulo”, "Di Voto” e outras. Olha, tenho muitas músicas. Neste momento  já ultrapassei, porque quero gravar tudo que tenho para, quando o Senhor me chamar e embarcar para nunca mais voltar, as minhas obras ficarem registadas. Tenho muitos Sembas e Rumbas bonitos, mas ainda continuo a criar.

Parece que as chuvas de Abril trouxeram sorte ao Papá Bolingó, com vários espectáculos...
Sim, e até entrevista no Jornal de Angola (risos). Por exemplo, no domingo antepassado estive no Miramar com o Conjunto Dizu Dietu e foi uma festa e tanto. Beleza grande a forma como o público me recebeu, de maneira diferente, eles demonstraram amor. Ouviram e viram um kavavô em palco com a mesma voz do passado. E eu continuo a ensaiar, porque me convidaram para mais duas actividades no Golfe e depois regresso ao Miramar.

O que se passa?
Nem sei como estão a aparecer, parece que estão a receber o sonho de Jesus Cristo. Fechar o mês com duas actividades no mesmo final de semana é algo que não acontecia há muito tempo. Penso que Jesus está comigo neste momento.

Fale-nos do início da sua trajectória artística...
Olha, eu nasci a 14 de Janeiro de 1942, em Caxito, e fui andando com os meus pais. A vida musical começou nos finais dos anos 1940. Cantava sozinho com um reco-reco e depois venho para Luanda, já estava na música, mas não em grupos. O primeiro foi o Lambulas do Ritmo com o José Agostinho, viola solo  Victorzinho, "Papa Russo, Passos” como homem da puíta e Samba na caixa. Na altura, tocávamos o nosso Semba e Rumba. Éramos do bairro da Lixeira, que depois ficou bairro Cuba, em 1959, quando Fidel Castro fez a revolução e chegou ao poder. Eu acompanhei o seu discurso no meu rádio Hitachi que era muito potente e apanhava várias estações: Rádio Moscovo, Voz do Ghana, Guiné Conacry, Tanzânia e outros países que ajudaram Angola. São estes mesmos países que eu cito na música "Mensagens para os Presidentes”. Quando nós decidimos mudar o nome do bairro para Cuba existiam cerca de 19 células do MPLA.


Um nacionalista na clandestinidade


Como foi o seu envolvimento na luta clandestina?
Exactamente. Fui preso e quase morri. Por sorte isso não aconteceu porque tinha os meus avôs em peso naquela época e estas coisas da tradição tinham peso. Os meus velhos sempre lutaram para a minha sobrevivência, tanto que ninguém me tocava ou me batia nas prisões. De maneira que sobrevivi na prisão da PIDE das Mabubas. O alferes que me prendeu recomendou para que os sentinelas não abrissem a minha cela. Durante a noite ouvia vozes de pessoas a serem massacradas, a morrerem, mas comigo nada acontecia.

E porquê que não vai ao Congo?
Porque quando estava a sair, tivemos de resolver um problema. Depois de andarmos uns 40 quilómetros dentro da mata sofremos uma emboscada e é assim que regressamos até Nambuangongo. Começo a pensar na minha mãe, que já tinha perdido dois irmãos em 1961 e poderia ficar sem filhos.

Naquele momento já cantava temas revolucionários?
Não, mas sempre estive dentro da revolução, meu espírito nasceu nela. Nós já ouvíamos os mais velhos em Kimbundu a dizerem que há um preto angolano chamado Agostinho Neto que está a lutar contra o Salazar e a defender os nossos direitos pela nossa independência. Era a mobilização dos velhos, feita em Kimbundu, e um deles era o Mateus SebastiãoFrancisco, mais conhecido por Mateus Calunga, nome que devia sair um dia no jornal e a sua esposa Guiomar Roberto da Costa. Este homem foi o nosso mobilizador em Caxito e a casa dele era também onde Agostinho Neto ficava quando fosse naquela área.

Prado Paim, porquê Papá Bolingó?
Quando comecei a cantar, os povos de Luanda diziam que eu era congolês,porque tinha cabelo com uma popa, penteado geralmente usado pelos homens que vinham do Congo Belga. Mesmo eu a cantar em Kimbundu, os instrumentistas, quando fossem buscar na escala da música na viola, traziam os ritmos dos manos lá de cima. Gostavam da melodia dos bolingós. Os guitarristas, pelo meu talento, ficavam neste estilo.

Quando foi a primeira vez que apareceu em palco?
Em 1965  ou 1966 e foi no Prenda, na área do Catambor, onde havia uma mulemba. Eu cantava "Novidade de Santana”, "Nzenze-Isabel” e "Engrácia”, quando entrei no Kutonoka, mas tinha outras músicas.

Depois desta estreia, como ficou no meio artístico?
Quando comecei no Prenda, no Kutonoka, fui o primeiro a actuar e quando acabei de cantar os populares todos da Samba, Prenda e arredores  seguiram o ritmo das músicas e pensaram que eu era congolês. Depois fomos à Boavista e todos perguntavam se o moço escuro da popa já havia cantado, queriam ouvir "Nzenze” e "Santana”, um rumba que vai dar muito sucesso. Depois, na Casa de Reclusão no Bungo, outra maka mais e aquilo eram enchentes. Passamos no campo da Académica, Precol, Cazenga, Bairro Popular... e na Floresta do Rangel foi a prova dos nove. A maralha subia em troncos para ver os cantores e foi um estrondo.  Luís Montez teve de me meter no Ngola Cine e no Colonial tive lotação esgotada. Eu era acompanhado pelos Águias Reais, Ngoma Jazz, de Sebastião Matumona, Os Kiezos, Dimba Ngola, África Ritmo e outros conjunos.

História do famoso single "Bartolomeu”

Como surgiu o convite para gravar o single onde constam "Bartolomeu” e "Engrácia”, em 1974?
Olha, o malogradoSebastião Coelho, o dono da CDA, estava a precisar de alguns cantores para gravar e o Carlitos Vieira Dias era o homem indicado para seleccionar os artistas a serem acompanhados pelo Conjunto Os Merengues. Foi ele que disse que existia um artista sem compromisso com qualquer estúdio e era trabalhador do ASMA, o actual R20. Eles enviaram o senhor Viana, responsável pelas Relações Públicas, mas antes falaram com o comandante do quartel, que deu autorização e assim acertámos para a gravação.

Dizem que a indicação inicial era outra...
Na verdade, primeiro era para gravar com Os Gingas, mas o Duia carregou bem no botão do cachet e o Sebastião Coelho não aceitou e assim ele começou a trabalhar com o grupo certo, onde estava o Carlitos Vieira Dias. Este chama o Zé Keno, numa fase em que "Os Jovens do Prenda” estava numa situaçãonão muito boa, o Zeca Tirilene saiu do "África Show”, Joãozinho Morgado, dos "Negoleiros do Ritmo”, Vate Costa, dos "Kiezos” e o seu irmão Gregório Mulato,  dos "Águias Reais”. Este disco foi gravado ao mesmo tempo que o do Carlos Lamartine e o do Teta Lando. Nós somos os artistas que abrimos a Companhia de Discos de Angola - CDA, depois foram aparecendo outros que gravavam noutros estúdios e o Tino Dya Kimuezo, o nosso miúdo que conseguiu fazer a gravação com "Os Gingas”.

Porquê apenas duas músicas?
Eles queriam que eu fizesse um Long Play "LP” mas eu neguei porque não queria estragar o meu reportório e sentia que seria muita responsabilidade, porque tinha músicas pesadas. Por isso só agora estou a afazer um CD, porque está na moda e já ninguém faz álbum de 45 rotações. As minhas músicas não são de brincadeira, eu componho aqui na minha casa, não tenho problema de bater portas para escreverem para mim, eu mesmo faço as minhas canções. A  minha cabeça é mesmo para isso, é um dom de família, as minhas tias foram fundadoras do "Marimba de Quitexe”, em 1943, eram cantoras, o meu tio Rafael Fernando da Silva tocava hungo com mestria e o José Kauique, marceneiro de profissão, cantava quando saísse com a maleta e as velhas o chamavam para cantar. Ele pedia o pano das mulheres, amarrava na cintura e fazia um grande espectáculo, dançava e abanava o rabo tipo uma mulher. Foi um grande cantor.

Fale-nos um pouco da canção "Bartolomeu”, a homenagem ao amigo assassinado?

Um amigo que eu tinha como irmão, morava na zona do João Branco e sempre que eu quisesse ir a um espectáculo ele acompanhava-me, porque eu era diferente de muitos artistas, não gostava de andar com mulheres. Eu tinha uma actividade no Ngola Cine e saí de casa, no bairro Cuba, para o lugar que combinamos e não o encontrei. Por três vezes fui à casa dele e encontro nada. Então tive de apanhar o táxi e cumprir com o contrato, mas no dia seguinte, quando ia trabalhar, encontrei a minha comadre que me deu  a triste notícia da morte do Bartolomeu. Ele tentou defender uma moça que estava a ser violada e foi esfaqueado depois de lutar com o bandido. No dia do funeral, no cemitério da Santa Ana, quando vejo o caixão, começo a lagrimar e a cantar por dentro. Depois, em casa, peguei no meu instrumento e dei alguns retoques. Bartolomeu era um grande amigo e um nacionalista, era da minha célula do MPLA.
Eu primeiro queria fazer um bolero, para ter mais sentimento, mas disse "tem de ser ritmada para animar, porque o meu amigo sempre foi uma pessoa animada. Sempre com o sorriso no rosto quando eu estivesse a tocar violão e ele no bumbo ou no reco-reco”.


Jovens estão a cantar sem "o segredo”
Com todos esses anos de carreira, tem trabalhado com jovens para partilhar experiências?
São poucos. Primeiro foi o Dom Manix, que cantou "Engrácia”, depois o Eddy Tussa pediu "Nzenze”, fez duas versões, mas não me deu nada. Ele veio com promessas "porque vou aparecer depois, kota”, mas depois de gravar tudo acabou. Então assim como vou conseguir abrir a minha mala de segredos para dar aos mais jovens? Não dá mesmo. E eu tenho muita música. Os jovens dizem que estão preocupados com o legado, mas não se aproximam, eles estão a cantar, mas não têm o segredo.

PARA LÁ  DAS LETRAS
Bastidores das músicas de sucesso
"Engrácia” é um dos seus Rumbas mais apreciados...
Engrácia era uma miúda que eu estava a pretender quando saí da tropa, mas uma amiga insinuou-lhe que eu já tinha mulher e quarenta e tal anos, portanto não devia aceitar um velho. A Engrácia "escorregou-me” por causa da amiga e vou arranjar outra senhora. Quando entrei no Kutonoka, foi uma beleza e sucesso muito grande.

"Nzenze - Isabel” é uma história do mato e previsão dos mais velhos...
A Nzenze é a mãe da Esperança, em Kimbundu Palaça, e Nzenze, Isabel. Sempre que canto esta música eu explico e digo "Nzenze, Isabel”. A história é a seguinte: a Esperança era uma moça com os seus dezassete anos, do nosso grupo, ela fazia os seus negócios na Companhia de Açúcar, vendia peixe frito com pão para os trabalhadores desta empresa, que era a maior empregadora do pessoal em Caxito. A Esperança voltava sempre à hora certa em casa mas há um dia que nãoregressava com as amigas. Havia um homem que se apresentou para os pais, mas ela não queria porque se tinha um namorado, diferente dos desejos dos pais. E com este fugiu naquele dia. Quando as amigas chegaram e a mãe pergunta pela filha, elas dizem que ela subiu na bicicleta do namorado e foi para o outro lado do rio. Mais tarde eu passo e encontro a velha sentada na porta, muito triste, e pergunto "Nga Nzenze, o que que se passa?”, ela responde "não me chateia mais, Prado, não sabes o que está a acontecer? Olha, a Esperança (Palaça) fez a vontade dela e foi com o namorado”. Começou a lamentar e fez juramentos, ao bater no chão e à medida que varria, dizia que ela já não era sua filha e que deveria procurar outra mãe. Eu devolvi ao responder que "vocês, as mais velhas, nos ensinaram que podemos ir onde quisermos, mas um dia iremos voltar aqui em Caxito, que é a nossa terra”. Perguntei "como é que vaisdesprezar a Nzenze?”, porque nenhuma mãe aceita perder a filha. Em Kimbundu disse que a sereia do Dande não deita fora um filho no rio.
Olha que a Esperança passou muito mal, afinal uma mãe quando quer matar alguém não precisa de andar no kimbanda, elas têm uma praga grande, por isso cuidado, praticar uma má acção à mãe é um crime grande.
Foi assim que depois comecei a ensaiar com a minha maralha, Os Jovens de Caxito. Para saberem que "Nzenze” foi pensada antes de vir para Luanda. É assim que pego no instrumento, chamo a malta à tardinha e à noitinha vamos à casa da velha. Era noite de sunguilar,  começamos a tocar e quando canto "Nzenze” o velho Leão, pai da Esperança, que estava a descansar, juntou-se às pessoas que estavam no convívio e todos comentavam da seguinte forma: "este um dia, aonde for, será um grande cantor”, o que ficou confirmado.

"Etu Ambundu” é uma afronta ao regime colonial?
Fiz esta canção em 1961. Saía de casa para o serviço, eu estava a trabalhar como ajudante de electricista do malogrado Zé Cambuta, na instalação do terminal doméstico do aeroporto  da DTA. Era o período da matança e eu quando chego à Rua da Brigada sinto o estrondo de um tiroteio atrás. Viro, era um moço que caiu. Continuei a caminhar e depois outro caiu, eu não sabia se avançava, até que cheguei próximo ao Hospital de São Paulo e outro homem morreu. Mesmo assim tomei coragem e cheguei ao local de serviço e expliquei o motivo do atraso. Foi isto que motivou esta canção. Oito dias depois fui convidado para actuar no Ngola Cine e escolhi este tema, mas antes apresentei ao Tino Dya Kimuezo que me aconselhou a não cantar porque poderiam me prender. Eu disse "não serei o primeiro a ir para a cadeia ou a morrer, porque a revolução é sempre assim”. Quando comecei a cantar, a plateia levantou-se e aquilo ficou estremecido. Eu saí do palco, demorei pouco porque eu nãogostava de ficar muito tempo depois da actuação, fui à bilheteira e peguei o meu cachet. Vi uns brancos, indivíduos da PIDE, atrás de mim apenas olharam para me intimidarem, mas não me chatearam e fui para o táxi.

 

"Mensagem aos Presidentes Africanos”, uma canção do tempo do Poder Popular...

Olha, neste tema fui acompanhado pelos Kiezos. Penso que foi no Cine Karl Marx. Nesta música eu pensei o seguinte: o país está independente, nós somos crianças e estamos a ser atacados de Cabinda ao Cunene. Precisávamos de auxílio para a luta e é assim que falo para o Julyus Nierere, da Tanzânia, Samora Machel, de Moçambique, Sekou Touré, da Guiné Conacry, Houari Boumédiène da Argélia, Seretse Khama, do Botswana, Kwame Krumah, do Ghana, Obsajango da Nigéria e outros que sempre estiveram connosco, porque os ataques dos imperialistas e inimigos da revolução angolana eram muitos.

O sucesso desta música também trouxe alguns dissabores. Houve quem ignorasse a mensagem  e dizia que eu estava a colaborar com a reacção, mas o que fiz foi um alerta à segurança, ao pedir auxilio aos países africanos e europeus que sempre ajudaram Angola na luta de libertação. Há um senhor da DISA que julgava que eu estava a colaborar com a reacção, que montou uma vigilância e todos os dias vinha um carro turismo em frente ao meu serviço. E a pergunta era sobre a canção.


Biografia

Domingos Prado Paim nasceu aos 14 de Janeiro de 1942, no Dande, província do Bengo. Actualmente reside no Sambizanga. Serralheiro mecânico de profissão, é conhecido por Papá Bolingó devido à influência congolesa. Nacionalista, patriota, músico, compositor e o primeiro Disco de Ouro da música Angolana, em 1974. Antigo Combatente e Veterano da Pátria, membro do Comité Distrital do MPLA do Sambizanga.

O cantor e compositor assume-se como nacionalista e patriota. Envolveu-se em actividades clandestinas aos 16 anos, em Caxito, na companhia dos amigos Américo de Gouveia Leite, Mateus Sebastião Francisco, Zitinho e Humberto Gouveia Pinto. Por cantar temas de carácter revolucionário, em 1959 começa a ser perseguido pelas autoridades coloniais, por isso emigra para Luanda, proveniente do Dande.

Na capital do país, como trabalhador da Companhia de Cimento de Angola, deu continuidade aos trabalhos políticos contra o regime colonial português, lançando panfletos, mobilizando camaradas, recebendo orientações dos nacionalistas Vidal, Mona, Manuel Alexandre Rodrigues "Kito”, Francisco Conde Victória, Bunde Conde e Pedro de Castro Van Dúnem "Loy”.

"Não deixo de lembrar o período muito duro em que passámos sofrimento, em 1961, quando a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) foi prender-nos em casa do meu irmão, o nacionalista Manuel Paim Neto, juntamente com os nacionalistas e patriotas José Luís de Sá Menezes e António Garcia de Miranda Paim, e muitos outros nacionalistas que a memória me cega e que deram o melhor que tinham por esta Pátria Mãe Amada e Querida Angola”, desabafou o artista.

"Pertenci ao elenco de prestigiados artistas de que fizeram parte os músicos conceituados Rui Mingas, Zeca Afonso, Fausto, Carlos Lamartine e o agrupamento Os Merengues, no Projecto 25 de Abril. Percorremos o país todo em 1974. aquando da vinda do MPLA Movimento do maquis”, recordou o veterano músico.


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