Opinião

Processos contra Trump marcam calendário eleitoral nos EUA

Filomeno Manaças

Quer Donald Trump venha a ser condenado quer venha a ser absolvido dos crimes de que está a ser acusado, as eleições presidenciais norte-americanas, a realizarem-se este ano, a 5 de Novembro próximo, ficarão na história pelos contornos político-judiciais que estão a marcar o pleito.

01/03/2024  Última atualização 06H00
O calendário eleitoral está, na prática, a ser pautado pelos múltiplos processos judiciais contra o ex-Presidente, que vão desde casos em que teve de responder por crime de difamação (e perdeu, tendo sido condenado a pagar uma indemnização), aos que envolvem acusações de tentativa de subverter os resultados das eleições de 2020 e posse ilegal de documentos secretos. Processos, estes últimos, que deverão começar a ser julgados segunda-feira (04.03), mas que poderão prolongar-se até Outubro.

Trump tem procurado tirar proveito dessa situação, colocando-se na posição de mártir, afirmando estar a ser vítima de uma "elite corrompida” e de uma "justiça politizada”. E, de facto, conhecedor dos meandros do marketing político e comercial, tem conseguido manter em alta a sua popularidade, com as sondagens a indicarem ter uma vantagem de cinco pontos sobre Joe Biden, entretanto encurtada para três nos últimos dois meses.

Favorito entre os republicanos, a maior parte dos quais continua a bater na tecla de que as eleições de 2020 foram "roubadas” e, por isso, o ex-Presidente (2017-2021) merece uma segunda chance, Donald Trump continua embalado nas primárias, vitória atrás de vitória, para ser consagrado o candidato republicano às presidenciais de Novembro.

Iowa, New Hampshire, Carolina do Sul e Michigan confirmaram Trump. As desistências de vários concorrentes, entre eles Vivek Ramaswamy, Tim Scott e Ron DeSantis, este último governador da Florida e considerado um adversário de peso capaz de fazer frente ao ex-Presidente, acabaram por deixar caminho quase livre para Trump.

Quase livre porque Nikki Haley, ex-embaixadora nas Nações Unidas no mandato de Trump, prefere continuar na corrida apesar dos resultados desfavoráveis que tem somado, dos quis os melhores foram em New Hampshire e os menos bons no próprio Estado (Carolina do Sul) onde foi, por duas vezes, governadora.

Além de não concordar com o ex-Presidente em vários assuntos, Haley avança como argumentos para não desistir o facto de ter tido bom resultado em New Hampshire, apesar da derrota; de as sondagens revelarem, de forma inequívoca, que a maior parte do eleitorado defende uma nova geração de candidatos, mais jovens, por oposição a Donald Trump (que tem 78 anos) e Joe Biden (81 anos). Alega, ainda, que tanto Trump como Biden não estão à altura dos desafios que os Estados Unidos têm e terão de enfrentar, num mundo que está em chamas e numa enorme desorganização.

Para os analistas, Haley (51 anos) mantém-se na corrida porque está à espreita de uma oportunidade. Se Donald Trump for condenado pelo Supremo Tribunal e vier a ser considerado inelegível, seria, então, a candidata em melhores condições para representar o Partido Republicano.

Entre os democratas, apesar do apoio à recandidatura de Joe Biden, não se esconde os receios em relação à sua idade avançada, em particular aos sinais de fadiga que já apresenta.

A chamada super terça-feira, a acontecer no dia 5 de Março, em que 16 Estados e 874 delegados estarão em jogo, vai permitir definir melhor o quadro para a disputa eleitoral de Novembro próximo.

Os republicanos estão, entretanto, a jogar em todos os tabuleiros. De acordo com o site Observador, terça-feira, no final de uma reunião com o Presidente Joe Biden, o líder da maioria republicana no Congresso norte-americano, Mike Johnson, disse que os congressistas estão "activamente a procurar soluções” para um novo pacote financeiro que permita mais ajuda à Ucrânia, mas salientou que a prioridade do Partido Republicano será sempre combater a imigração ilegal na fronteira com o México.

Os congressistas republicanos têm recusado aprovar um pacote de segurança nacional, no valor de 95 mil milhões de dólares (cerca de 88 mil milhões de euros) que reforça ajuda à Ucrânia, a Israel e ao Indo-Pacífico, alegando que, antes desta medida, o Governo deve acautelar o controlo da imigração. Como consequência, a ajuda financeira e militar à Ucrânia está neste momento bloqueada.

No âmbito desse braço de ferro entre republicanos e democratas, paira também - adianta o mesmo site - a ameaça de uma nova paralisação do Governo, se o Congresso não aprovar um aumento da capacidade de dívida federal. O financiamento governamental para a agricultura, transporte, construção militar e alguns serviços para veteranos expira hoje. Já o financiamento para os restantes departamentos governamentais - Pentágono, Departamento de Segurança Interna e Departamento de Estado - expira a 8 de Março, um dia depois de Biden proferir o discurso sobre o Estado da União.

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