Em Angola, como em muitos países do mundo, o 1º de Maio é feriado nacional e costuma ser celebrado com marchas e comícios, em que se fazem discursos reivindicativos de direitos dos trabalhadores. Não é uma data qualquer.
Hoje, a nossa Nação e, particularmente, a comunidade jurídica assinala um ano da entrada em funções dos juízes de garantias, magistrado com dignidade constitucional que, entre nós, passou desde 2 de Maio de 2023 a ter a responsabilidade de salvaguardar os direitos individuais de qualquer pessoa alvo de investigação por um suposto acto criminal derivado da sua conduta.
Os acontecimentos recentes na localidade do Longa, município do Cuito Cuanavale, província do Cuando Cubango, levam-nos a uma série de questionamentos.
Desde logo, o que levaria um angolano adulto e que conhece um mínimo da história de vida da nossa querida pátria, das provações por que passamos para chegar aonde chegámos, deixar-se influenciar por argumentos político-partidários ou até ideológicos, ao ponto de atentar contra a vida de um concidadão?
O que estaria por detrás de tão ignóbil acto? Pergunto-me, porque sabemos todos que dessa situação ninguém aproveita. Em boa verdade, deixa-nos a todos em maus lençóis. Por isso, recuso-me a entrar no jogo das acusações. Nem me falem em motivações político-partidárias (ou até ideológicas), que hoje até soa ridículo fazê-lo.
Podemos, eventualmente, falar de aproveitamento político de questões de convivência étnica, quiçá, mal resolvidas, a nível da região. Mas, nada que o inquérito mandado instaurar não venha a esclarecer e ajudar a responsabilizar os criminosos.
Situações como essas geram uma percepção completamente oposta a de uma Angola como destino de paz e de estabilidade e, acima de tudo, um parceiro internacional confiável. Não é certamente isso que se quer de um povo que há poucos dias celebrou 22 anos de paz e de reconciliação, e prepara-se para celebrar 50 anos de independência.
Disse-o, bastas vezes, que em Angola, toda a ameaça à paz e à estabilidade política, tão duramente conquistadas, deve ser combatida e anulada. O que se passou no Longa deve merecer o mais vivo e inequívoco repúdio, antes mesmo de se chegar a conclusões sobre eventuais autores morais e materiais.
Confesso-me incapaz de esconder a minha frustração, por ter que escrever sobre este tema, quando já aqui tinha vertido algumas linhas sobre a Alemanha, terra onde se passou o Holocausto e, no sentido de que a história jamais se volte a repetir, os cidadãos são obrigados a conhecer o que se passou desde os 12/13 anos de idade. Falei, ainda na edição passada, do Ruanda e os desafios que ainda enfrenta 30 anos após o massacre em massa de tutsis, tuás e hútus moderados, num saldo de mais de 800 mil mortes, naquela que terá sido a maior tragédia da história daquele país africano.
Tinha planeado falar sobre o Dia da Juventude Angolana, nomeadamente sobre as razões das políticas da juventude não serem (e nem tinha como ser) uma responsabilidade exclusiva dos poderes públicos. Queria muito poder reflectir sobre o associativismo juvenil e o avanço conseguido graças ao esforço colectivo, na despartidarização do 14 de Abril sem, no entanto, anularmos a identidade político-ideológica do seu patrono.
Os ideais de Hoji-ya-Henda são imortais e apartidários, assim como o seu exemplo de comprometimento com os fundamentos de paz, justiça e de liberdade, que devem ser amplamente divulgados sem rótulos político-partidários, a bem do nosso bem-maior que é ANGOLA.
Queria poder falar de como esse efeito está a ser conseguido, apesar de às vezes, como é normal, se verificarem alguns recuos, principalmente quando nos surge alguém, absolutamente fora de contexto, que se julga politicamente mais sensível e decide molhar a sopa. A propósito, até hoje espalho-me aos rios quando me recordo de um colega que, ao tentar justificar-se de uma trapalhada, algo do tipo que nem ele próprio conseguia entender como foi capaz de o fazer, admitia-o, finalmente, com o aforismo segundo o qual "durante o dia todos nós temos os nossos cinco minutos de estupidez e a sabedoria está precisamente em não ultrapassar esse limite”.
Queria falar de um 14 de Abril em Paz e Reconciliação. Duas efemérides que, por ironia do destino, acontecem espaçadas por apenas por 10 dias. Esperava divertir-me ao escrever estas linhas, uma vez que associar essas duas datas históricas, além de fácil, é quase automático. Não fossem, os jovens, a força motriz de qualquer sociedade. Em Angola, foram os jovens que empunharam armas para lutar pela Independência, pela defesa da soberania e da integridade territorial, e, depois de conquistada a paz, aqueles que com a sua força, capacidade e inteligência ajudaram a cimentar a democracia e alavancar a economia.
Mas os recentes acontecimentos do Cuando Cubando deixaram-me pensativo. Teremos feito o bastante para que em Angola não voltemos a registar vítimas de violência por motivações político-partidárias? Porque precisamente naquele dia e naquela localidade? Haveria alguma hipótese, por mais remota que fosse, de evitarmos essa situação? São perguntas que nos devemos colocar, mesmo que em silêncio, pois parece que a nenhum angolano de bem interessa que esses episódios voltem a fazer parte do seu dia-a-dia. De contrário seria entregar, como se diz, o ouro ao bandido…. Dar crédito àqueles que se recusam a ver obra feita no caminho pela paz e reconciliação, apregoando aos quatro ventos que parámos no tempo.
Mais de duas décadas depois do enterrar do machado de guerra, entenda-se, o assinar do acordo de paz definitiva para Angola, é absolutamente inadmissível que nos noticiários ainda se fale em vítimas de violência por motivações políticas ou até ideológicas.
Nenhuma organização política deve querer o seu nome e a sua imagem associada a actos vergonhosos como o que se registou no Longa. Não se trata de ser mais rápido a alhear-se das culpas, que é outra coisa. Há que condenar e repudiar primeiro, porque doutro modo, não avançamos.
*Jornalista
Seja o primeiro a comentar esta notícia!
Faça login para introduzir o seu comentário.
LoginTrinta e dois anos depois do estabelecimento das relações diplomáticas, Angola e Coreia do Sul voltam, como que a ser desafiadas não apenas a dar prova da excelência dos laços, por via do reforço das ligações já existentes, mas também a descobrir novas áreas de interesse comum.
Assinalou-se esta semana os cinquenta anos do 25 de Abril e também do início do processo de descolonização das chamadas colónias portuguesas em África. Passados cinquenta anos, dificilmente poderíamos imaginar que chegássemos ao nível de glorificação do Colonialismo e elogio da civilização colonial português a que se assiste no espaço público angolano.
Os desafios do mundo hodierno têm exigido das Organizações a adopção de uma filosofia de trabalho de excelência e comprometimento, baseada no cumprimento escrupuloso da lei e na inclusão de princípios éticos, bem como de responsabilidade social nos seus planos estratégicos para a satisfação dos interesses do público no contexto social.
A vandalização de bens públicos tomou contornos alarmantes. Quase todas as semanas, são reportados casos do género.Bens ou infra-estruturas que consumiram avultadas somas em dinheiro para serem construídos, são destruídos, quer para a busca fácil de dinheiro, quer por pura maldade. Os sectores da Energia e Águas, Transportes, Telecomunicações, Saúde e Educação têm sido os principais alvos.
Angola e a Organização das Nações Unidas (ONU) lançaram, esta terça-feira, em Luanda, o projecto Diálogo Nacional sobre o Financiamento para o Clima, sob o lema “Promovendo Investimentos Sustentáveis em Angola”.
O Serviço de Protecção Civil e Bombeiros (SPCB) do município de Dala, província da Lunda Sul, realizaram segunda-feira (29), uma campanha de sensibilização aos banhistas que frequentam o rio Tchiwumbue.
A multinacional Huawei e Academia do Empreendedor de Luanda, assinaram, esta terça-feira, um memorando de entendimento no âmbito da formalização da parceria estratégica entre as duas instituições.