Entrevista

Entrevista

“Somos o município candidato para ser a capital económica da província”

Casimiro José | Quibala

Jornalista

Quibala assinalou, segunda-feira , 15 de Janeiro, 50 anos desde que foi elevada à categoria de cidade, em 1974. Entrevistado pelo Jornal de Angola, o administrador municipal, João Daniel Nunes, diz que o município, que no tempo colonial foi um dos celeiros da então Província de Angola, quer resgatar a mística do passado. Por isso, pretende ser a capital económica da província do Cuanza-Sul

16/01/2024  Última atualização 08H10
© Fotografia por: Edições Novembro

Senhor administrador, 50  anos desde   a  elevação da Quibala  à categoria de  cidade, que balanço faz?

Em primeiro lugar devo agradecer pela entrevista, que julgo ser pertinente, e também pelo facto de o Jornal de Angola estar sempre presente nas diferentes etapas de existência da nossa cidade e do município, em geral, o que nos orgulha bastante.
Respondendo à sua pergunta, a cidade da Quibala liga o Norte ao Centro, e Sul Leste do país, daí a sua importância estratégica, não só na província do Cuanza-Sul, como no país em geral, por isso merece uma atenção especial do Executivo.


E como é que a Quibala evoluiu nos últimos 50 anos?

Volvidos 50 anos, Quibala é uma cidade em franco desenvolvimento, nos mais variados domínios, fruto dos investimentos que vão sendo feitos, através dos projectos e programas de âmbito central e local. Mas, acima de tudo, vamos desbravando o caminho para que alcance o seu pleno desenvolvimento.

 
O que é que foi feito e o que há ainda por se fazer?

Na verdade, sem desprimor para as fases anteriores, o ciclo de desenvolvimento da cidade da Quibala e do município, em geral, teve início em finais de 2020, com a entrada em funcionamento da subestação eléctrica, que trouxe enormes benefícios, quer para as instituições públicas, como para as empresas do sector privado e, acima de tudo, para os habitantes da cidade, por terem conhecido uma nova realidade. Ficou para trás o desgaste financeiro com custos em combustível e lubrificantes, mas também começaram a surgir iniciativas empresariais, nos vários domínios.

 
Há outras subestações em construção?

Sim. Foi a pensar no futuro e, em função das potencialidades do município da Quibala, que está em curso a construção de duas Subestações eléctricas, uma com capacidade de 220/60, para sustentar grandes indústrias, e outra de médio porte com capacidade de 60/30. Como vê, tudo está a decorrer para dar resposta aos desafios de curto, médio e longo prazos.


Que mudança a subestação trouxe para o sector produtivo?

O sector produtivo também começou a beneficiar desse bem (energia eléctrica), através do programa de electrificação do meio rural, que está a ser implementado pelo Ministério da Energia e Águas. Mas não é tudo, porque, além da iluminação pública, que garante a segurança dos munícipes e transeuntes, a vida pública conheceu um novo rumo.

 
Novo rumo?

A par disso, devo assinalar que, com a energia eléctrica, a Quibala consegue atrair novos investidores nos vários domínios.
Dos ganhos, não é tudo, porque decorrem as obras de construção do Instituto Médio Agrário da Quibala que, quanto a nós, vai fortalecer a cadeia formativa, por termos já implantado, no município, uma escola de formação básica do ramo Agrário.

E quanto à disposição de bens e serviços?

Quanto à disponibilização de bens e serviços, estamos bem, com a implantação de lojas no Centro Logístico e de Distribuição (CLOD), onde as Fazendas Nova Agro-Líder, Santo António e Kambondo exploram as respectivas superfícies comerciais para a venda de farinha de milho, óleo vegetal, feijão, carnes, ovos e outros, todos de produção local para a venda pública, o que responde à procura.

 
O que tem a destacar em termos de ganhos no sector Social?

No sector Social, os ganhos também são imensos, porque o município conta com uma rede escolar e sanitária, que vai dando resposta às necessidades. Mas, mesmo assim, ainda temos pela frente enormes desafios, como a construção de mais salas de aula, centros e postos de saúde, melhoria da assistência médico-medicamentosa, apoio às camadas vulneráveis, como pessoas de terceira idade, viúvas e órfãos, entre outros.

 
Qual é o impacto que o PIIM teve no sector social?

O sector Social é dos que mais resultados alcançou, fruto dos projectos do PIIM(Plano Integrado de Intervenção nos Municípios) e de outros programas, que deram o ar da sua graça.
Concluímos nove acções do PIIM, que incidiram na construção de duas escolas do ensino primário, com sete salas de aula, sendo uma na aldeia de Cacungulo, arredores da sede municipal, e outra na sede da comuna do Cariango, a ampliação da sede administrativa do município, reabilitação do anfiteatro Club, e a reabilitação e apetrechamento do Hospital municipal da Quibala.
Ainda neste quadro, concluímos a construção do sistema de drenagem das águas pluviais da reserva fundiária da Quibala, adquirimos os equipamentos para o saneamento básico do meio, além dos equipamentos para o apetrechamento dos postos de saúde espalhados pelo município.

Os sectores da Educação e Saúde receberam alguma atenção especial?

Os sectores da Educação e da Saúde sempre mereceram a nossa atenção, com a construção de salas de aula e recrutamento de novos professores. Quanto ao sector da Saúde, a prioridade recaiu na reabilitação de postos de saúde e, através de concursos públicos, continuamos a reforçar o quadro de pessoal, com novos enfermeiros e pessoal de apoio hospitalar, bem como o fornecimento de meios e equipamentos para o funcionamento pleno do Hospital municipal e dos postos de saúde espalhados pelo município.

 
Pode avançar números?

Em termos quantitativos, o sector da Educação cresceu, com uma rede escolar de 36 estabelecimentos de ensino, corpo docente com 585 professores e 27 mil alunos frequentam o presente ano lectivo.
A merenda escolar é outro ganho a assinalar, estando a beneficiar 14 mil alunos. Por contarmos com parceiros sociais, a meta é todas as escolas do ensino primário serem contempladas.


Podemos dizer que Quibala caminha às mil maravilhas?

Não, é possível afirmar isso, se tivermos em conta que, na vida, o mal e o bem caminham juntos. A cidade da Quibala e o município, em geral, passaram por tempos difíceis durante o conflito armado, por isso, há ainda a registar algumas sequelas, que se vão esbatendo com acções que desenvolvemos.

 
Quais são as principais preocupações da Quibala?

Estamos preocupados com o abastecimento de água potável, cuja situação é do domínio das autoridades competentes, sobretudo do departamento ministerial. Uma equipa do Ministério da Energia e Águas já identificou uma fonte, através do rio Pombuigi, para a construção de um sistema de abastecimento de água potável para a cidade da Quibala. Julgamos que o actual cenário do deficiente abastecimento do precioso líquido tem os dias contados.


Há outras situações que vos inquietem?

Outra situação que nos inquieta é do estado das vias de acesso que ligam os centros de produção para os mercados de consumo, situação que concorre para a deterioração dos produtos nos campos e encarecimento ao consumidor final. Contudo, esforços vão ser feitos para encontrarmos caminho para a resolução desse e de outros problemas que ainda nos afligem.

 
Não existe um programa para pintar as fachadas de alguns edifícios da cidade com marcas de deterioração?

O que se passa é que os edifícios que se encontram nessas condições têm proprietários, com documentos que atestam a sua titularidade, mas não fazem o seu real aproveitamento. Continuamos a apelar para fazerem alguma coisa que possa inverter o actual quadro. Caso a situação persista, o caminho a seguir é o da Lei, que estipula a expropriação por utilidade pública, para mudarmos o quadro, o que vai conferir à cidade uma imagem digna.

 
Já foi dado algum passo nesse sentido?

Já era tempo para fazermos isso e demos tempo para um dia não sermos acusados de usurpadores, até porque o Estado é um ente de bem. Repare que as instituições públicas apresentam nova face, porque beneficiaram de acções de reabilitação. Temos de ser corajosos para que Quibala apresente um casco urbano desenvolvido, com a remoção das marcas do conflito armado.

 
O que é que o município tem a oferecer aos investidores?

O nosso slogan é "Quibala, um lugar certo para o investimento seguro”, e a explicação desse slogan tem sido demonstrada pelos empresários que, mesmo nos momentos difíceis, escolheram este município para investir, e os factos revelam que foram bem sucedidos.
Estou a falar das fazendas Kambondo, Nova Agrolíder, Mato Grosso Camama, Santo António, Kianda e outras, que atingiram altos patamares e competem com empresários de outras paragens, o que faz jus ao nosso slogan.

 
Há ainda muitas oportunidades para os investidores?

A nossa cidade é ainda virgem em termos de oportunidades de investimento, desde iniciativas de projectos de restauração, instalação de indústrias extrativas e transformadoras, empreendimentos para prestação de serviços e outras. Quanto ao município, este tem terras aráveis e água abundante que, aliado ao clima favorável, propicia o cultivo de todo tipo de cereais, oleaginosas, tubérculos, citrinos e outros.
O desenvolvimento da cidade da Quibala, e do município em geral, deve aliar-se a investimentos múltiplos, que abarquem todos os sectores da vida social e económica.

O que tem a dizer sobre o turismo?

Tendo em conta as potencialidades turísticas que o município ostenta, temos de olhar para a dinamização da rede hoteleira, que é incipiente. Não temos hotéis, estando aberto ao investimento privado. Algumas fazendas, como Nova Agrolíder, Kianda e Rubick acolhem turistas na vertente Agro-Turismo, mas não dão resposta cabal às solicitações dos turistas, quer nacionais, como estrangeiros. Numa altura em que o Estado angolano deu abertura a mais de 90 países, Quibala pode ser o destino e de escolha de muitos turistas.

 
Que apelo deixa para os empresários?

Lançamos um apelo aos empresários, sobretudo do ramo Hoteleiro, que escolham a Quibala para investirem e, tal como nos outros ramos, serão bem-sucedidos. Somos um município com uma mão cheia de oportunidades, que propiciam um investimento seguro.

 
Como está o município em termos de arrecadação de receitas fiscais?

A arrecadação de receitas está a ganhar maior impulso, fruto dos impostos pagos pelos empreendimentos agrícolas instalados no município, que vão produzindo bens e serviços, bem como a geração de empregos, com destaque para as empresas Nova Agrolíder, Fazendas Santo António, Cambondo, Mato Grosso Camama, Vissolela, Nuviagro e outras.


Que outras tarefas estão em carteira para Quibala voltar a sorrir?

As tarefas estão alinhadas ao Plano Nacional do Desenvolvimento (PND), que constitui o instrumento de orientação para o desenvolvimento. Estamos a trabalhar para colocarmos em marcha o programa de desenvolvimento da cidade e do município em geral, em vários domínios, com destaque para a dinamização do turismo, construção de infra-estruturas sociais, captação de investimentos para a construção de hotéis e unidades industriais, habitação e outras que vão conferir dignidade aos munícipes.
Para se ter uma ideia, Quibala foi um dos celeiros da então Província de Angola, durante a vigência do regime colonial. Foi responsável pela produção de uma gama de produtos alimentares e de sisal, que alimentava grandes indústrias. É nesta perspectiva que vamos resgatar a mística do passado e colocar o município nos altos patamares.


O que é que já foi feito neste sentido?

Podemos dizer que já estamos com meio caminho andado, se tivermos em conta os investimentos feitos no ramo agro-industrial. Basta olhar para os produtos produzidos, transformados e processados localmente, como os bens de primeira necessidade. Julgamos que estamos a caminhar de forma segura.

 
Então, Quibala aspira vir a ser a capital económica da província?

A realização de feiras na nossa cidade trouxe vantagens e somos o município candidato para ser a capital económica da província. Temos demonstrado que podemos ser, tendo em conta o que a cidade da Quibala e o município em geral, ostenta. Pensamos que faz sentido sermos a capital económica do Cuanza-Sul.

 
Quais são os principais desafios que ainda há para atender os anseios dos munícipes?

Os desafios são, como disse atrás, imensos, mas a grande prioridade recai para a construção de mais escolas, recrutamento de mais professores, atrair o empresariado nacional e estrangeiro, construção de recintos para a massificação do desporto em todas as modalidades, assistência aos grupos vulneráveis, apoio com insumos o sector produtivo familiar e outros.

Que apelo deixa para os munícipes?

Deixo um apelo de esperança, de paz e de harmonia. Os 50 anos de existência da nossa cidade devem engajar todos para a mesma direcção. Os desafios que temos pela frente só serão resolvidos se continuarmos unidos, fortes e com o espírito empreendedor de todos, sem excepção. Aos naturais e amigos da Quibala, que se juntem à festa e contribuam para o desenvolvimento de uma Quibala de que todos se orgulhem.

 
Que actividades foram marcadas para assinalar os 50 anos da cidade?

Por ocasião da jornada comemorativa dos 50 anos, desde a fundação da cidade da Quibala, temos um programa que engloba actividades culturais e recreativas, concurso de gastronomia, e corrida de motos.
Quibala foi elevada à categoria de cidade, ainda no tempo colonial, em 15 de Janeiro de 1974, através da Portaria nº4678, pelo então Governador-Geral, passando a  ter a sua autonomia, sob comando do tenente José Filgueira de Sousa, tendo sido apelidado pelos nativos por Kipiaca.
Quanto à origem do nome, fontes orais e escritas revelam que o nome surge quando Thumba pretendeu visitar a sua irmã Samba. No encontro de cortesia com as autoridades coloniais. Questionada sobre a razão da sua presença na região, respondeu em língua local que "Ngatoca Kutala Kuipala Kya Samba”, que traduzido para português significa "Vim cá ver a face da minha irmã Samba”. Com a influência da língua portuguesa o termo  Kuipala deu lugar a Quibala, que se mantém até hoje.

 
Preservação da cultura

Alguns traços da cultura da região da Quibala prevalecem até aos dias actuais. Um dos factos marcantes é o ritual de embalsamar os sobas, depois de falecerem, cuja rotina segue sem retirar a veneração da pedra de Mbanza-Katumbi, onde se encontram erguidas as campas de pedras com a forma geométrica singular.

Outro poder tradicional, só exercido pelos sobas da região,  tem a ver com o domínio da chuva, estando instituída uma autoridade chamada Kuku-A-Tchoko,  a quem está incumbida a responsabilidade de velar pela chuva. Cabe a essa autoridade controlar os efeitos nefastos das chuvas.

No passado, essa autoridade tinha o poder de aplicar sentença de morte, através de relâmpagos, contra autores de furtos que se recusassem a confessar a autoria do acto.

 
Superfície e população

O município da Quibala, na província de Cuanza-Sul, tem uma superfície de 10.280 quilómetros quadrados, conta com uma população de 142.057 habitantes, segundo dados do Censo de 2014. É limitado, a Norte, pelo município de Libolo, a Este pelos municípios do Mussende e Andulo(província do Bié), a Sul pelos municípios da Cela e Ebo, e a Oeste pelos municípios de Quilenda e Quiçama(Luanda). É constituído pelas comunas sede, Cariango, Dala Cachibo, Lonhe e posto administrativo de Katofe.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Entrevista