A ministra das Finanças chefiou uma delegação angolana que participou, desde segunda-feira passada até domingo, em Washington, nas reuniões de Primeira do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à Rádio Nacional e ao Jornal de Angola, Vera Daves de Sousa fez um balanço positivo das reuniões – oitenta, no total –, sendo que, numa delas, desafiou a Cooperação Financeira Internacional (IFC) a ser mais agressiva e ousada na sua actuação no mercado angolano. O vice-presidente da IFC respondeu prontamente ao desafio, dizendo que até está a contar ter um representante somente focado em Angola e não mais a partilhar atenção com outros países vizinhos na condução local do escritório do IFC. Siga a entrevista.
Kaissara é um poço de revelações quase inesgotável, como a seguir verão ao longo desta conversa, em que aponta os caminhos para um futuro mais consequente da modalidade; avalia o presente das políticas adoptadas sobre a massificação e formação. Mostra-se convicto de que o país pode, sim, continuar a ser a maior potência africana do Hóquei em Patins
A sexóloga e estrategista de Protocolo de Prevenção contra a Violência Sexual, Paula dos Santos revelou, em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, que 90 por cento dos casos de abuso sexual acontecem no ambiente familiar e 70 por cento das vítimas de estupro em Angola são crianças e adolescentes entre os 7 e 14 anos.
De que forma olha para o fenómeno violência sexual no nosso país?
A
violência sexual, em Angola, está relacionada a questões culturais e
socioeconómicas. Porque, a sexualidade consciente, ainda é um tema que faz
muito barulho nas pessoas. Na verdade, é um assunto de grande importância para
uma sociedade como a nossa, sobretudo pelo facto de sermos provenientes de
muitos anos de guerra e ainda vivermos as mazelas desta guerra. Temos,
claramente, situações voltadas para a sexualidade que precisamos resolver.
A que situações se refere?
Precisamos
construir mentes, porque, quando estamos a falar de sexualidade, estamos a
falar sobre seres humanos. Somos produto do acto sexual, mas a sexualidade não
se baseia simplesmente no acto.
Em que se baseia a sexualidade?
A
sexualidade é sobre o nosso comportamento, sobre quem somos e sobre a forma
como nos entendemos enquanto pessoa. Sobre como nos conectamos com o universo e
interagimos uns com os outros.
Acha importante a educação sobre sexo?
Com
certeza. Precisamos desconstruir o conceito que temos sobre a sexualidade.
Hoje, temos indivíduos com várias fracturas emocionais e vítimas de uma vida
sexual não saudável. Temos indivíduos a estuprar crianças, porque também foram vítimas. Não resignaram o
trauma.Ou seja, as pessoas feridas ferem outras pessoas quando não se curam das
dores. E o meu trabalho, enquanto sexóloga, tem incidido também sobre as
vítimas de estupro.
Devemos entender tal comportamento como uma consequência da ausência de educação sexual?
Sim.
As pessoas não aprenderam sobre educação sexual. Não aprenderam sobre os
limites do seu próprio corpo e sobre como respeitar os limites do corpo de
outrem. Temos uma dualidade, onde uns agridem porque foram agredidos e, outros,
porque não aprenderam sobre limites. Não aprenderam sobre os limites que devem
impor ao seu próprio corpo.
A questão do tabu não é um obstáculo à educação sexual?
Muito
se fala sobre o tabu. Mas, o que é o tabu, afinal? Tenho dito que o tabu é bom,
de certa forma, porque tem dupla função: controlar o profano e preservar o
sagrado. Precisamos quebrar esse tabu, do medo de falar sobre isso. Porque
enquanto esse medo existir, as crianças e os adolescentes vão continuar a
ser abusadas e estupradas, como mostram
as estatísticas.
Tem convivido, também, com o tabu durante o seu trabalho?
Claro!
Durante os últimos anos da minha carreira tenho estado a trabalhar com
crianças, no que diz respeito à educação sexual. É de lamentar quando tens uma
palestra com crianças a chorar, porque só naquele dia perceberam que tinham
sido abusadas. Teres crianças a desmaiar, porque só naquele dia conseguiram dar
o seu grito de socorro. Só naquele dia conseguiram soltar a sua voz e dizer que
vivem isso dentro de casa. É de rasgar o coração.
Há muitos casos de estupro pelo país?
Temos
percorrido o país. Estivemos, muito recentemente, no município do Tômbwa, na
província do Namibe, para uma palestra sobre educação sexual, onde, enquanto
falava para crianças, numa turma de meninos entre os 10 e 17 anos, percebi que
havia mais de quatro crianças a chorarem dentro da sala e falávamos exactamente
sobre os tipos de abusos.
Quando é que estamos em presença do estupro?
A
maioria de nós associa o estupro à consumação do acto sexual onde há
penetração. Existem formas de abuso quando a criança não tem lacerações na pele.
Pode haver casos de abuso sexual sem violência?
Existem
abusos que não deixam marcas físicas, mas deixam marcas emocionais e profundas.
Quando me aproximei de uma destas crianças numa das minhas palestras e disse
para ela: fala para a tia o que queres contar, ela disse assim para mim: "tudo
que a tia está a contar, o meu tio faz comigo à noite. Ele entra no meu quarto,
destapa a minha manta e começa a me apalpar nas partes íntimas. Já falei com a
minha mãe e ela disse que eu é que sou muito assanhada, que estou a inventar
coisas, porque o tio só foi me tapar”.
Existe alguma explicação para o comportamento desta mãe, indiferente à queixa da filha?
Conseguimos
até perceber que existe aí uma mãe que não sabe que o toque abusivo é, também,
uma das formas de violação sexual. Ou seja, percebemos que as nossas crianças,
até ao momento da nossa palestra, não sabiam que o toque abusivo é uma forma de
violência sexual.
Torna-se muito mais difícil para a criança abusada quando não encontra protecção da própria mãe...
Com
certeza. Ela sente-se constrangida, mas não tem maturidade emocional para
perceber o quão errado aquilo é. Há constrangimentos na criança, mas há aquele
tio que diz: "sobrinha, o tio ama-te”. Mas o tio deveria fazer parte da nossa
rede de protecção contra o abuso sexual, sobretudo às nossas crianças. É alguém
que deveria nos proteger.
Cita, como exemplo, o caso de um tio, mas o estuprador pode ser qualquer um. Certo?
Certo.
Mas temos casos em que é o tio que vem e começa pela boca da criança, elogiando:
"és muito linda, sabes que o tio te ama”, depois vai descendo para os mamilos.
Tive a infelicidade de atender uma mãe e os seus três filhos que foram
violentados pelo primo adulto, e quando perguntei à mãe se tinha feito a
denúncia, ela disse que não podia para não destruir a família. Estamos em
presença de um caso em que a mãe é omissa porque ela sabe que as crianças foram
abusadas e preferiu deixar o agressor à solta, por questões culturais, proteger
a família.
Sente que os pais estão a falhar, nesse aspecto?
Mas,
já não é apenas responsabilidade dos pais, mas também da sociedade. Estamos a
viver uma decadência de valores gravíssimos. Temos uma problemática grande.
Hoje, quantos são os pais que falam com os filhos sobre a privacidade, os
limites do seu próprio corpo ou algo muito básico? Quantos pais falam para os
filhos sobre quais os órgãos que carregam? Temos crianças que não sabem
diferenciar o órgão genital masculino do feminino.
Pelo meio há, ainda, a questão da pedofilia...
A
questão da pedofilia já foi retirada do livro das doenças mentais. Não tem
cura. Por isso mencionei a necessidade de reconstruirmos mentes. Precisamos nos
refazer. Quando falávamos das várias formas de abuso, há exemplos de adultos
que obrigam crianças a tocarem nas suas partes íntimas. Recentemente, nos
confrontamos com uma notícia sobre um senhor de 46 anos, que ejaculava na boca
das crianças. Isso é falta de educação sexual. A criança não percebe que está a
ser abusada.
Que sinais nos podem ajudar a perceber que uma determinada criança sofreu algum abuso sexual?
Uma
criança que tenha sofrido algum tipo de abuso, sem se fixar simplesmente na
questão do estupro com a penetração, ela apresenta comportamentos sexuais
atípicos. Aquela criança que chega diante das outras e tem atitudes que faz
questionar se aprendeu onde. As brincadeiras de papá e mamã. Os pais que estão
lá em casa, não sabem que manter relações sexuais, sem se certificar se as
crianças estão a ouvir ou a ver, também é uma forma de violação. É usurpação e
importunação sexual contra a criança.
Existem estes descuidos, infelizmente...
Certo.
E quando perguntares à criança onde aprendeu, vai dizer que vi a minha mãe ou
pai a fazer assim e assim. Outro exemplo, é aquela criança que chega e quer
brincar com os órgãos genitais da outra. A criança é um reprodutor nato de tudo
que vê e aprecia.
As marcas emocionais também são um sinal?
Claramente.
Uma criança que se mostra extremamente retraída, que do nada parou de se
exprimir. Chora constantemente ou está acanhada. A criança que está sempre a
dormir ou sempre com sono. De repente, tornou-se rebelde. E o que é que os pais
fazem? Desatam a dar porrada na criança, e não sabem que, às vezes, a abusadora
é a baba da creche.
Existem também mulheres a abusar sexualmente de crianças?
Sim.
Mas quando falamos de abusos, nos remete apenas aos homens. Temos muitas
mulheres abusadoras. Amigas da mãe que obrigam os filhos das amigas a mamar nos
seios delas. Estimulam o órgão genital dos meninos. O abuso sexual está em todo
o lado.
De que forma podemos atacar este problema?
Com
educação e formação. Vamos começar do básico. Apelar aos pais para que falem
com os filhos sobre a sexualidade. Mas, alguns pais me dizem: "Mas, Dra. Paula,
o que é que vou falar para uma criança de três anos?” É simples. Explica à
criança que o órgão genital que ele ou ela carrega é pénis ou vagina. Depois, é
preciso que conversemos com as crianças sobre os limites do seu próprio corpo.
Que não devem ser tocadas nas partes íntimas. Quais são as partes íntimas do
nosso corpo: a boca, mamilo, vagina, pénis e o ânus.
A criança precisa saber isso?
Sim,
a criança precisa saber disso. Porque, quando já falamos de partes íntimas,
estamos a colocar uma barreira, para que ninguém possa tocar. É preciso mesmo
estabelecer limites. É a primeira lição que a criança deve aprender. Depois
vamos evoluindo. Quando a criança vai para o quarto de banho, é importante
ensinar a ela que deve fechar a porta e, se alguém quiser entrar, deve bater na
porta.
Atitudes como estas, fazem toda a diferença...
Fazem
toda a diferença num ambiente caseiro. Porque, se é normal para a criança,
enquanto estiver a fazer uma necessidade no quarto de banho, alguém entrar e
sair, ela não vai assustar. O agressor não está distante. 90 por cento dos
casos de abuso sexual acontecem no seio familiar, por pessoas que conhecem a vítima.
70 por cento dos abusos são praticados contra crianças dos 7 aos 14 anos.
Esses casos são reportados?
A
maior parte dos abusos que acontecem no seio familiar não são reportados.
Porque a vítima vive sob o medo de represálias, vergonha, instalado pelo
próprio agressor. O abusador diz: "se você contar vou te matar, vou matar os
teus pais”. E a criança só quer proteger, inconscientemente, o pai ou a mãe que
está a ser ameaçada. Ela não tem maturidade para perceber que ficar calada vai
propiciar outra situação de abuso. Muitas vezes já ouvimos pessoas que foram
abusadas durante cinco a oito anos pelo pai ou pelo padrasto.
A situação é muito mais grave do que se imagina...
E temos, ainda, crianças que foram tiradas do seio familiar, do interior do país, e chegam a Luanda para serem ‘masseca’, como chamamos, e são abusadas pelo marido da senhora que a trouxe. Como controlar isso? Fica muito difícil.
"A
rede de protecção primária está a falhar”
Em
que se resume a vossa acção, perante toda esta problemática social?
O
trabalho que estamos a fazer é ajudar a criar uma rede de protecção externa,
porque a rede de protecção primária, que é dentro de casa, está a falhar.
Existem instituições do Estado vocacionadas à assistência e protecção à
criança.
Qual é a relação que mantêm com estas entidades?
O
MASFAMU tem um departamento e já fizemos alguns trabalhos juntos, em torno da
província do Namibe, onde estivemos em tournée. Fomos, igualmente, ao Lubango,
estivemos em Malanje e passamos por várias províncias e instituições de ensino,
com o propósito de conversarmos com as crianças e fazer este rastreio.
Estivemos, também, no Uíge, Huíla, Namibe, além de Luanda.
Qual tem sido o impacto do vosso trabalho?
Durante
o trabalho que temos feito nestas localidades, percebemos que os professores
precisam de entender que são a principal rede de proteccão externa, porque é na
escola onde as nossas crianças passam a maior parte do tempo. Se há uma falha
na rede de apoio primária, que é no seio da família, então a criança tem a
escola para recorrer. Mas, para isso, precisamos deixar bem claro às crianças,
por meio da informação e educação sexual, qual é o protocolo de segurança.
Falar e tratar das coisas pelos nomes, faz parte do protocolo de segurança.
Protocolo de segurança?
Sim.
A vagina tem muitos nomes. É ‘menininha’, ‘joaninha’, e mais alguma coisa. O
pénis idem. Um exemplo prático: se a criança foi abusada pelo tio ou padrasto,
por exemplo, e o tio disser que se ela contar vai matar o pai ou a mãe, não
quer dizer que vai matar também o professor. O cérebro da criança processa que
só não pode contar aos pais. Então, ela, quando recorrer à professora e disser
que o tio brincou com a sua ‘joaninha’, a professora não sabe que ‘joaninha’ na
casa daquela criança refere-se ao órgão genital. Logo, temos uma quebra do
protocolo de segurança da criança.
Desta forma, fica complicado passar a mensagem...
Por
isso, sempre que passo numa instituição, peço aos professores para que tenham
um olhar clínico e de humanidade, para perceber que todo o comportamento
atípico de uma criança pode ser sinal de uma situação de abuso. Essa criança
pode estar numa condição de risco.
Qual é o procedimento, quando constatam a existência de uma criança em situação de risco ou que esteja a ser abusada?
Temos
criado caixinhas, fazemos a impressão dos semáforos do toque com o número
15015, que é de denúncia gratuita para as situações de violência contra a
criança. Costumamos sensibilizar as crianças a recorrerem a estes meios, caso
não consigam encontrar protecção no seio familiar.
E naqueles casos de crianças que habitam em zonas de difícil comunicação?
Nestes casos, de crianças residentes em zonas remotas, pedimos e sensibilizamos para que vão a uma Esquadra de Polícia mais próxima, isso, se não obterem ajuda dentro da escola, caso o abuso sexual tenha acontecido no seio familiar.
"O abusador não tem rosto”
Que
trabalho concreto fazem com os pais?
Entramos
nas comunidades para sensibilizar os pais a não se calarem diante do abuso,
independentemente de o abusador ser alguém de uma classe económica mais alta,
porque, algumas vezes, acontece que o abusador dá um dinheiro à família e a
denúncia não é feita.
A sexualidade não tem a ver apenas com sexo. Certo?
Claro
que não. Tenho a plena certeza de que todos já nos deparamos com um vídeo de
uma criança a dançar de uma forma erotizada. Aqui já começamos a perceber que a
sexualidade não tem mesmo só a ver com o sexo. É algo mais amplo. A criança
está a dançar e sabemos que quem está a manusear o smartphone é um adulto. A
plateia é adulta, que ficam a bater palmas e a fazer os ditos "adoços”.
Considera este tipo de comportamento perigoso?
Sim,
porque neste meio, temos adultos que têm atracção por crianças. O abusador não
tem rosto. Onde há crianças, há abusadores. Mas há quem diga: as pessoas têm um
olhar maldoso, trata-se apenas de uma criança. Eu diria que não! Toda a vez que
a criança é colocada numa roda, para fazer uma dança erotizada ou sensual, como
as que temos visto, estamos a ensinar as crianças que o corpo dela não é um
corpo, é um objecto, que pode gerar felicidade a outras pessoas.
Objecto como?
Ela
passa a acreditar que sempre que quiser causar felicidade a outras pessoas, só
precisa usar o seu corpo. Vamos buscar o histórico de algumas crianças com este
comportamento e vimos que a linguagem é adulta, a fala e a postura é de gente
adulta.
Acha que o Código Penal deveria ser mais duro com a criminalização deste fenómeno, como forma de desincentivar a sua prática?
Tenho
muitos amigos juristas, que chamo de homens do Direito e a nossa discussão tem
sido frequente em relação a isso. Só os pergunto: quando é que a pena para
estes crimes vai aumentar? Não há como decretar a pena de morte a estas pessoas?
A nossa Constituição não consagra a pena de morte...
Não.
Mas, penso que já devia ser introduzida, porque ainda é muito leviana a pena
para os crimes de violência sexual contra a criança, que é considerado crime
hediondo. Não se pode aceitar que crianças de 8 ou 9 anos estejam como
trabalhadoras do sexo. Algum adulto está por detrás disso. A isso chama-se
exploração sexual. É uma forma de violência.
Há algum caso, em especial, que lhe tenha marcado?
Tive
um caso no consultório, de uma criança cujo vizinho estimulava o órgão sexual
dela. E a criança passou a gostar daquilo, porque sentia prazer. O órgão
genital, quando estimulado, dá prazer. Mas a criança não tem maturidade para
perceber que aquilo é abuso. O abusador pode levar seis meses, um ou dois anos,
até chegar o dia da consumação. Durante este processo ele vai coagindo a
vítima. Alguns são pacientes. Hoje tocou na boca, amanhã no mamilo e, depois
diz: deixa ainda o tio ver a tua cueca ou a tia ver a tua cueca, até ter o
consentimento consciente da criança e consumar o acto.
Tudo isto longe do olhar dos pais...
Os pais saem de manhã e só voltam à noite, a que horas é que têm tempo para perguntar à criança como é que passou o dia? Esta criança de 9 anos, depois passou a procurar o adulto. E quando confrontamos este adulto, sobre o assunto, responde que ela é que vinha ter comigo. O abusador escolhe a sua preferência, entre muitas crianças que brincam na rua, e diz assim para sua presa: fica aqui, que o tio vai te dar uma prenda, e ela aceita.
"Na
indústria da pornografia infantil as fotos que mais vendem são de bebés”
De
que forma os casos de estupro e abuso sexual chegam ao vosso conhecimento?
Acabamos
por descobrir, porque estas crianças partilham com outras. O tio fulano costuma
me fazer isso. Nunca te fizeram? Eu gosto. Quando vimos uma criança toda vistosa,
a desfilar de modo adulto o que é que dissemos: uau toda bonita! Elogiamos e
ainda aplaudimos. A criança deve brincar como criança e falar como criança,
vestir-se como criança e fazer tranças de criança.
A forma de comunicação dos pais com os filhos também exerce alguma influência?
A
primeira agressão acontece dentro de casa. Como é que os pais se comunicam com
os filhos? Vou te partir sei lá o quê! A linguagem da comunicação dos pais para
com os filhos já é agressiva. Aos rapazes os pais olham para eles quando já
estão a crescer, e dizem: você então já engravida. Os pais chegam a uma criança
de seis anos e dizem assim: você tem de começar a pegar estas miúdas. O menino
começa a crescer com a mentalidade de que, para ser considerado macho, tem de
pegar todas as mulheres.
Acha que é uma linguagem perigosa?
Claro
que sim, porque amanhã, quando tiver uma oportunidade, vai forçar. Precisamos
começar a ensinar aos nossos filhos que a vida é também feita de não! Muitos
destes homens e mulheres que estão habituados a violentar crianças não estão
acostumados a ouvir não. Eles fazem aquilo porque precisam alimentar o seu
próprio ego. O que perpetua a questão do abuso contra menores é a pornografia
infantil. Quem posta as fotos dos nossos filhos somos nós mesmos.
Desaconselha a postagem de fotos de crianças nas redes sociais?
Claramente.
Saiba que, na indústria da pornografia infantil, as fotos que mais vendem são
de bebés. Existem sites que os pedófilos vão apreciar e nunca sabemos quem é
quem. É tão amplo o tema, porque temos pessoas que olham para uma criança à
distância e, enquanto observam a criança, masturbam-se. O amigo do pai é um
tio, que coloca a criança no colo e tem erecção. Como é que estamos a treinar
os nossos filhos? Temos mulheres adultas que chegam ao nosso consultório e eu
choro.
Porquê?
Porque
leram uma publicação minha a falar de abuso
e entenderam que, afinal, quando sentavam no colo do tio fulano e
sentiam algo duro, era abuso. E só estão a tomar consciência agora. O nosso
cérebro tudo comunica e tudo se programa. O trauma está lá. Só precisa de ser
activado.
Qual tem sido o impacto do vosso trabalho junto das comunidades?
O
impacto tem sido muito positivo. Em qualquer uma destas províncias saímos com o
compromisso de fazermos o acompanhamento dos rastreios que temos estado a
fazer. Identificamos crianças em situação de risco e crianças que sofreram ou
continuam a sofrer abuso, mas não têm acompanhamento. Nestes casos, damos este
seguimento.
Qual é a reacção das crianças face à vossa presença?
Vimos
um olhar de esperança nestas crianças. Porque uma criança quando cai na sala de
educação sexual, está a dizer-nos: estou aqui, sou sobrevivente de estupro, me
salva. "Uma das meninas de 17 anos, com quem interagimos, foi abusada e
espancada duas vezes. Disse-me: Dra. Paula, tira-me daqui, porque já tentei
colocar um fim à minha própria vida”.
Nota-se já algum desespero desta criança...
Esta
é a outra fase que não prestamos atenção. A fase do enfrentamento do estupro,
que as vítimas precisam de ultrapassar. O pós-estupro. Tentativa de suicídio,
depressão, falta de vontade de viver e de fazer as coisas. Porque o estupro é o
único crime que a vítima se culpa.
Como assim? Pode explicar melhor?
Porque
a nossa sociedade, quando alguém é violentada, qual é a pergunta que é feita
primeiro: estavas onde àquela hora? Vestiu o quê? Quando já fazemos estas
perguntas, estamos a querer justificar o acto. Ninguém tem o direito de me
abusar, porque estou de roupa curta ou por estar a andar à noite. Sou um ser
humano livre. É preciso que as pessoas tenham a consciência de que a luta
contra a violência sexual é de todos nós e um trabalho a ser feito por todos.
Não podemos ignorar o facto de na casa de um vizinho entrar muitos adolescentes
e ficarmos tranquilos. O entra e sai de adolescentes deveria nos causar alguma
preocupação.
Os factores económicos têm alguma influência?
Há,
de facto, o aspecto da questão económica. O condicionamento da vítima. "Se você
aceitar eu vou te dar isso e aquilo”. Essa é, também, uma forma de abuso,
porque ela não tem outra alternativa. Temos aqui, em Viana, crianças que
aceitam ser violentadas, fazer sexo oral no adulto, em troca de um sambapito ou
50 kwanzas. Isso está a acontecer. É uma dura realidade. Por extrema pobreza,
fome. Quando vier alguém que encontra a criança nesta condição e lhe der cem
kwanzas, ela vai aceitar.
Qual é a experiência que têm tido fora das zonas urbanas?
Tivemos a experiência de Kissama e Catete. Entramos naquelas escolas para fazer o rastreio e constatamos haver situações de risco, em que as crianças não têm transporte, não se alimentam devidamente e podem facilmente ser corrompidas, percorrem longas distâncias numa mata, para chegar a escola ou para sair de casa e, neste trajecto, temos ali predadores. Sensibilizamos as crianças para que andem em grupo, sempre que estejam a sair ou a ir para escola. É o que nos resta. Precisamos fazer alguma coisa.
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LoginEm entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, fez a radiografia do sector, dando ênfase aos avanços registados em 22 anos de paz. Neste período, houve aumento do número de camas hospitalares, de 13 mil para 41.807, e da rede de serviços de saúde, que tem, actualmente, 3.342 unidades sanitárias, das quais, 19 hospitais centrais e 34 de especialidade. Sobre a realização de transplantes de células, tecidos e órgãos humanos, a ministra disse que, com a inauguração de novas infra-estruturas sanitárias e a formação de equipas multidisciplinares, o país está mais próximo de começar a realizar esses procedimentos
Assume-se como uma jornalista comprometida com o rigor que a profissão exige. Hariana Verás, angolana residente nos Estados Unidos da América há mais de 20 anos, afirma, em exclusivo ao Jornal de Angola, que os homens devem apoiar as mulheres e reconhecer que juntos são mais fortes e capazes de construir uma sociedade equitativa e próspera. A jornalista fala da paixão pela profissão e da sua inspiração para promover as boas causas do Estado angolano, em particular, e de África, em geral.
Por ocasião do Dia Nacional da Juventude, que se assinala hoje, o Jornal de Angola entrevistou o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Isaías Kalunga, que aconselha os jovens a apostarem no empreendedorismo, como resposta ao desemprego, que continua a ser uma das maiores preocupações da juventude angolana.
No discurso directo é fácil de ser compreendida. Sem rodeios, chama as coisas pelos nomes e cheia de lições para partilhar com as diferentes áreas e classes profissionais. Filomena Oliveira fala na entrevista que concedeu ao Jornal de Angola em Malanje sobre a Feira Agro-industrial, mas muito mais da necessidade de os organismos compreenderem que só interdependentes se chegará muito mais rápido aos objectivos.
Pelo menos 21 pessoas morreram na sequência de um naufrágio que ocorreu no Rio Lufira, na zona sudeste da República Democrática do Congo (RDC), tendo 11 dos passageiros conseguido salvar-se, noticia hoje a agência espanhola EFE.
O Festival Internacional de Jazz, agendado para decorrer de 30 deste mês a 1 de Maio, na Baía de Luanda, tem já confirmada a participação de 40 músicos, entre nacionais e estrangeiros, e o regresso da exposição de artes visuais com obras de 23 artistas plásticos, anunciou, sexta-feira, em conferência de imprensa, no Centro de Imprensa da Presidência da República, CIPRA, o porta-voz da Bienal de Luanda, Neto Júnior.
A judoca angolana Maria Niangi, da categoria dos -70 kg, consegui o passe de acesso aos Jogos Olímpicos de Verão, Paris'2024, ao conquistar, sexta-feira, a medalha de ouro no Campeonato Africano de Judo que decorre na Argélia.
A representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Angola, Denise António, destacou, sexta-feira, em Luanda, a importância do Governo angolano criar um ambiente propício para a atracção de mais investidores no domínio das energias renováveis.
O artista plástico, João Cassanda, com a obra “Mumuíla Feliz”, e o escultor Virgílio Pinheiro, com a escultura “Piéta Angolana”, são os vencedores da 17.ª edição do Grande Prémio ENSA-Arte 2024, tendo arrebatado uma estatueta e um cheque no valor de seis milhões de kwanzas.
Nascido Francis Nwia-Kofi Ngonloma, no dia 21 de Setembro de 1909 ou 1912, como atestam alguns documentos, o pan-africanista, primeiro Primeiro-Ministro e, igualmente, primeiro Presidente do Ghana, mudou a sua identidade para Nkwame Nkrumah, em 1945, com alguma controvérsia envolvendo o ano de nascimento e o nome adoptado.