Entrevista

“ Todo o angolano deve levar esta conquista como sendo de grande valor”

Analtino Santos

Jornalista

O músico e compositor Maya Cool exalta mais uma vez o amor por Angola ao colocar no mercado o novo disco de originais, intitulado “Histórias”, cuja sessão de venda e autógrafos está agendada para amanhã, a partir das 8H00, no Parque da Independência, em Luanda.

10/11/2023  Última atualização 08H50
O músico e compositor Maya Cool © Fotografia por: Francisco Lopes|Edições Novembro
O músico escolheu a data e o local para homenagear este momento ímpar da nação angolana, quando Agostinho Neto, a 11 de Novembro de 1975, declarou solenemente a Independência de Angola. "Histórias” foi o pretexto para esta entrevista com Maya Cool, na qual o artista apela à nova geração a dar maior relevância a esta data importante na vida do país.

Parece que a data foi escolhida a dedo. Como tudo aconteceu?

Sim. Ainda este ano, o 4 de Fevereiro e o 17 de Setembro foram as primeiras datas porque foi sempre a minha intenção lançar numa data nacional. Quando vi a possibilidade de lançar este disco a 11 de Novembro, foi como  a cereja no topo do bolo. O 11 de Novembro tem muito a ver comigo, eu nasci no ano da Independência, e lançar nesta data e aqui no Parque da Independência o meu disco que retrata as histórias de Angola, dos angolanos e dos meus colegas artistas, vejo que foi uma grande oportunidade conciliar várias datas que têm a ver com a minha vida. Este lançamento foi a melhor coisa que podia acontecer. Eu tenho dito que o mês de Novembro é muito importante na minha vida porque eu quando emigro para Portugal, saio daqui no dia 10 e aterro no dia seguinte, precisamente a 11 de Novembro de 1991. Neste país onde emigrei à procura de melhores condições e a fugir da guerra, foi lá onde afirmei-me como artista e gravei o meu primeiro disco intitulado "Lágrimas” e todos os outros, incluindo este que agora chega ao mercado. Foi em Novembro de 1975 que alcançamos a Independência Nacional e eu nasci em Janeiro deste mesmo ano.

Estamos em Novembro e "País Novo” tem tudo a ver...

Eu tenho dito que o "País Novo” é uma das letras em que o Matias Damásio esmerou-se. É uma música que nunca vai morrer porque fala da angolanidade num todo, dos seus porquês, o incentivo humano, do acreditar na nossa sociedade, da reconciliação e muito mais. É uma música que eu chamo de hino. Para mim, depois do "Angola Avante” o nosso hino nacional é o "País Novo”, tem tudo a ver. Em todos os concertos canto esta música, porque mesmo quando não levo como reportório as pessoas pedem para interpretar. É uma música que identifica o angolano. Devemos estar orgulhosos por este tema.

Em que circunstâncias Matias Damásio deu-lhe esta música?

Matias Damásio é aquela pessoa que Angola já conhece e é o meu afilhado de casamento. Quando começou a carreira musical foi me oferecer um disco completo, mas só escolhi um tema, não que não gostasse do álbum. Eu disse: "tu precisas aparecer na ribalta, mas eu quero cantar este tema País Novo”. E ele deu-me, embora quisesse me dar o álbum todo. O Matias disse que aquele era  o disco que tinha para eu gravar mas olhei para e disse-lhe que era preciso que aparecesse porque quanto mais fôssemos, melhor. Do disco escolhi "Pais Novo”, que depois ele cantou e ficou muito bem.

Que apelo faz nesta comemoração dos 48 anos da Proclamação da Independência Nacional?

Para todos os angolanos, a Independência representa a afirmação, o nosso reconhecimento no campo internacional. Angola tornou-se Independente em 1975, depois de uma grande luta armada e todo o angolano deve levar esta conquista como sendo de grande valor. Nós, filhos da Independência, devemos levar com muita responsabilidade, e eu faço aqui um apelo sobretudo aos mais jovens que dão pouca relevância, para darem mais valor, porque um povo independente é um povo livre. Valorizar a Independência significa que temos nação, que somos cidadãos de uma Pátria que deve ser amada, independentemente de qualquer coisa. Deve ser amada e não estarmos aqui a apontar a ou b, nem estarmos a criticar situações. Devemos olhar o País e a Independência obriga-nos a olhar o País, este é o conselho que dou aos jovens, que olhem o País com os olhos de ver, independentemente de qualquer coisa, porque a conquista é nossa.

A música teve um papel muito importante naquilo que é a construção da nossa angolanidade. Como olha hoje para a música?

A música é evolutiva, cada dia que passa existem novas canções, sonoridades e tendências, ela é muito dinâmica e não devemos nos resguardar no passado. Devemos dar credibilidade, da mesma forma que deram à minha pessoa quando cheguei com o meu estilo e musicalidade, mesmo com fusão de música cabo-verdiana. Eu devo dar credibilidade também aos novos. A minha única critica é em relação à composição, e às vezes falo e aconselho muito a juventude ater o cuidado com a escrita, que é muito importante. A música é didactica e educativa, ela tem de passar bons princípios. Agora, em termos de instrumentais existe uma tendência e nós temos de seguir os ventos do mundo, tanto política, social ou musicalmente, senão vamos continuar a viver em cabanas e a andar em tipóias. Nós temos de seguir o ritmo do mundo e a juventude está no bom caminho. Também agradeço aqueles fazedores afincados da música macional, como o Kituxe, Os Kiezos, Banda Maravilha, Akapaná, Tunjila Tua Jokota, Yuri da Cunha, Eddy Tussa, Maya Cool e outros que continuam a fazer isto.

Passados 12 anos temos o novo disco, " Histórias”.  O que se passou com o "Invictus”?

O "Histórias” inicialmente estava para ser o "Invictus”, que já havia anunciado na comunicação social, mas depois, por discussão com a minha equipa, porque eu não decido sozinho, decidimos, trocamos para "Histórias”.

Porquê "Histórias”?

É um álbum em homenagem à história do meu país, à tua e à minha, e em várias vozes conta muitas histórias dos angolanos. Não tem apenas a história do Maya Cool, mas o Puto Português vem e acrescenta a história dele na música, idem o Matias Damásio, a Ary, o Konde e a minha filha Malune, que é a mais nova dos convidados”. As histórias estão no semba, kizomba, coladera, balada e tudo mais.

Ao olhar para o anúncio, uma parceria chama atenção, a de Malune, por sinal sua filha. É a passagem de testemunho?

É uma maneira de consagrar a menina, a minha filhota gosta muito de música e eu acredito que ela venha a ser muito mais artista do que eu, porque ela vem de uma geração mais atrevida e quer despontar no mundo. Como pai, sempre apoiei esta iniciativa dela e pensei: porque não ser eu a primeira pessoa a fazer com que saia de facto da caixa e vá para o mundo?. Nós sentámos, conversámos e criámos um tema onde canta pai e filha, que acredito que a nova geração goste porque foi feito por ela e para a juventude.

Será que ela conseguiu levá-la para a praia dela, que é o kuduro?

É uma proposta dela, a Malune é que leva o pai, nós ¬fizemos uma fusão e quando sentamos para fazer a música do meu disco eu realmente disse a ela que gosto muito de kuduro, mas no meu disco não. E ela que sim, mas que podíamos fazer algo equilibrado. Como ela é muito fã da Anna Joyce, propôs algo similar. Malune escreveu a letra e arranjámos um produtor independente, porque eu nem quis fazer a música e cantámos "Assim é o amor", amor de pai e filha, que é um amor incondicional. Ela gosta muito de kuduro, embora ela escute outras vertentes musicais, como André Mingas, Filipe Mukenga, Djavan e outros artistas que nem passa pela cabeça das pessoas que ela aprecia aquilo. Ela é pianista e acompanha-me nos concertos e no dia 25 de Novembro, no Clube S, virá como pianista e também cantora. Então, é uma miúda que quando está em casa toca piano, seguindo Whitney Houston, Djavan e outros artista que ela tenta apanhar.

Mais uma vez Cabo Verde está presente no trabalho de Maya Cool, com a participação de Tito Paris. É uma combinação que funciona, certo?

É verdade, olha eu tinha duas pessoas que eu gostaria de fazer um dueto, Paulo Flores e Tito Paris. Com o Paulo não consegui ainda, acredito que por motivos de agenda. Mas o Tito Paris mostrou-se receptivo e fizemos esta música "Menina Nobreza”. Eu tenho há 15 anos uma composição em parceria com o Luís Rafael, um dos donos da RMS, a editora que lançou o meu primeiro disco. Nós sentámos e fizemos a letra e a música, e eu não me via a cantar sozinho, tinha de ter uma voz cabo-verdiana. Quando cheguei ao Tito e mostrei-lhe o material, ele disse isto é para fazermos já e assim gravamos um tema que também está a fazer sucesso em Cabo Verde. Lá fui solicitado para dois concertos para Fevereiro, Maya Cool e Tito Paris, só por causa da "Menina Nobresa”.

Temos "Minha Princesa”, dueto com Matias Damásio, outra música já conhecida…

Esta música surge num amor entre duas pessoas que têm uma afinidade muito grande, eu e o senhor Matias Domingos Damásio, porque temos uma grande relação de amizade apesar de eu ser o mais velho. Mas temos uma relação de irmãos e então em conversas descontraídas fizemos a "Minha princesa”.

Konde Martins, Puto Português e Ary são outros convidados em "Histórias.  Quais foram os critérios para as participações?

Para mim, os critérios foram muito aleatórios e na música deve haver afinidades. O Konde é um produto meu, "Cantei” e "Dama de Rosa” foram direccionadas por mim. Existe uma cortesia entre nós e foi ele quem criticou-me ao dizer gravava com todo o mundo e mas nunca com ele nada. Então eu disse que era para agora e saiu do nada uma balada. Puto Português é meu sobrinho e no início da carreira dele fui um dos grandes impulsionadores, ele o Nacobeta abriram o meu concerto na África do Sul e outros aqui. Ele frequenta a minha casa, onde tenho o meu estúdio e numa das brincadeiras decidimos fazer uma música que ficou muito bonita, que acredito que será uma das mais escutadas, que se chama "Saudades das vaidades”. Ary é a minha comadre e não estava no plano mas de repende estávamos no estúdio a gravar e agora a preparar o videoclipe.

Este disco também traz o regresso de Maya Cool na produção musical, é isso?

Sim, volto a produzir. Depois de ter optado por dar as minhas composições para outros, porque não queria ser repetitivo. Agora, estando em casa, voltei a me dedicar e a produzir setenta por cento do disco, os outros dei ao Carlitos Tchiemba, Chimbinha, músico brasileiro que trabalhou com o Yuri da Cunha e ao Yoyó, que produziu a música com a Ary. Este disco também marca a estreia da Editora Cassete na produção de discos e o segundo será da minha filha, Malunne.

Com o empurrão de Eduardo Paím, tornou-se numa estrela piô. Que memórias guarda?

Nos anos 80, a Rádio Nacional era o grande divulgador de talentos infantis no país e o homem que fazia os testes para as crianças que iam fazer parte da Sala Piô, chama-se Eduardo Paím Fernandes da Silva, hoje conhecido como Marechal Kambuengo. Ele, naturalmente estressado com tantas crianças que apareciam, entre 300 a 500, chegava uma altura que não tinha muita paciência para ouvir todos porque já estava cansado. Então, quando chega a minha vez, cantei um bocado e mandou-me parar e muito atrevido eu disse que gostava que ele ouvisse bem a minha música. Ele olhou para mim e ralhou-me. Fiquei  desesperado a pensar que não seria apurado. Eu fiquei num canto da escada a esperar que ele saísse e no final de tudo ele manda-me voltar no dia seguinte. Ele, em parceria  com o Leopoldo Baio, fizeram a música "1 de Junho”, que foi a revelação do ano do aparecimento de Lucas de Brito. Devo dizer que de tão extrovertido nesta edição,  porque apresentava um talento impar, gravei também a "Moringa”.  Mas os artistas infantis só podiam apresentar- se uma vez em palco e se tivermos recordações de imagens, as pessoas hão-de ver que no neste ano eu entro a cantar a música "1 de Junho” e depois, por força da Dona Luisa Fançony, no meio da "Moringa” que era apenas para aparecerem os bailarinos, ela empurra-me a mim  e ao Lopes Cortês para cantarmos. Eu fui muito feliz naquele ano de 1988, que foi muito dourado para mim e de muito sucesso, não conseguia sair de casa até à Escola do Che Guevara porque era interpeleado pelas pessoas. Existem histórias que, se tivesse tempo, gostava de fazer um documentário.

Um dos personagens destas histórias é Mamborrô, artista presente no reportório de Maya Cool. O que representa para si?

Representa o sucesso na juventude, porque todos da minha geração, naquela altura,  queriamos ser Mamborrô. Ele surgiu miúdo a cantar com um charme, era um menino muito bonito a cantar, com uma voz suave, letras bonitas e muito fino. Existem dois artistas dos quais queria ser como eles, um é o Mamborô e outro Eduardo Paím, este sempre dizia que deveria ser mais do que eu e tem graça que o Mamborrô também defendia o mesmo. Então, são figuras que sempre admirei, fui fã e seguidor. Em vida, eu pedi autorização para cantar os temas dele nos meus concertos e tinha-me dito que os temas dele também são meus e que fizesse deles o que quisesse e hoje eu canto nos meus shows. Aproveito para informar em primeira mão que está na forja um Show Maya Cool canta Mamborrô,  acredito que será no primeiro semestre de 2024, numa das salas de Luanda.

Fale-nos da relação com os  irmãos Paim…

Sempre foi boa, e só para terem uma ideia, eu vivi com eles durante muitos anos. Porque, quando emigrei para Portugal, quem me recebe de facto, deu-me guarida e condições de vida de facto, chama-se, Eduardo Paím. Eramos os três homens da casa, eu, Nelo e o Eduardo, depois tínhamos a Sandra, a esposa na altura, e os filhos Edy e Carina. Sempre vivi com eles como família, portanto, o Eduardo e o Nelo Paim são os irmãos que a vida me deu.

O que "Lágrimas” significa para si?

É o sonho realizado, a obra que nasceu para dizer o artista está cá, quer fazer, tem vontade e vai continuar a fazer. Foi a primeira minha obra em mãos, devo dizer que tudo no cômputo profissional começa por aí porque anteriormente faziamos músicas mais por emoção, mas para me tornar de facto profissional, foi com o surgimento do "Lágrimas”.

"Sereia”, a carta para Luanda, é uma das músicas que puxa o disco…

É verdade. "Sereia” é a saudade da nossa kianda. Nós podemos viver dez, vinte trinta anos lá fora mas o nosso cordão está aqui, os amigos, o assobio do vizinho para ir jogar à bola, os irmãos, os primos, consanguinidade está tudo aqui, então sentimos falta disto. "Sereia” foi como um grito de lamento para dizer que tenho saudade da minha terra, desejo voltar e ver os meus.

Depois surge o soberbo álbum "Igual a Ti”, um dos discos mais aclamados da música angolana. Há quem diga que é o disco que o consagra. Concorda?

É uma obra que eu achei que era igual a todo o mundo porque todo o mundo ia sentir- se representado por causa dos temas que lá. Foi por isso que eu fiz este disco para dizer que eu sou igual a ti. Este disco e as músicas que lá estão também são iguais a ti. Este é o álbum da consagração porque eu quando gravo o "Igual a Ti” foi o álbum que fez com que as pessoas começassem a me olhar com outros olhos de ver, ou seja, ele afinal é artista de verdade. Porque no "Lagrimas” as pessoas estavam reticientes e diziam deve ser sorte mas no "Igual a Ti” foi mesmo a consagração, como diz o Pedro Benge. Tem muitos sucessos, toca tudo, como "Maka Grande”, "Dia D” e intemporais como o "Junta Ma Nós”

Como foi transformar esta balada em kizomba?

Olha eu ia para o aeroporto para gravar o disco na Holanda e oiço esta música num programa de rádio na RDP África, mas nunca tinha parado antes para escutar. Disse para mi que daria um bom tema porque a letra tinha tudo a ver com aquilo que a gente vivia com os problemas de guerra. E quando cheguei à Holanda procurei o Grace Évora e perguntei se seria possível a gente fazer algo com a música e ele disse que sim. Contactei o Boy G Mendes que mostrou toda a abertura e disse que qualquer um poderia fazer uma versão. Entramos em estúdio e foi um tiro certo, no bom sentido.

Outro tiro certo foi o videoclipe que conseguiu reunir vários artistas angolanos...

Sim. Porque eu aproveitei uma altura onde estavam em Lisboa As Gingas, Kizua Gourgel, Eduardo Paím, Paulo Flores, o tio Bonga, entre outros artistas. Então decidi fazer este clipe e os convidei-os  e eles acataram o meu pedido e fizemos aquele videoclipe lindo.

Hoje, poucos o identificam com o kuduro, mas Maya Cool também deixou a sua marca no kuduro. Recorda?

Exactamente, naquela fase embrionária, eu fui um dos fazedores do kuduro, mas já existia Tony Amado e o Sebem, depois apareceram o Dog Murras e Virgílio Fire, meus primos. Eu tenho o "Cu Mole”, que diz não brinca com o fogo queima, não brinca com o Manuelito das kinanas. Esta música está no "Lágrimas”. Também tenho o "Tio Paixão”, que na verdade é "Kudibita”, fala do Tio Paixão que vendeu um colchão que estão sentado no chão com dinheiro na mão.

Vamos falar de algumas parcerias, primeiro com o compositor, Filipe Zau em "Boca Azul”…

O Filipe Zau, falo aqui como homem de cultura e não o ministro, eu  conheci-o primeiro pelo facto de frequentar a RNA como cantor, onde ele foi um dos compositores de música infantil. Depois, ele vai para Adido Cultural em Portugal, onde também eu estava a viver e ele compunha muitos temas para o Eduardo Paim e um foi este "Boca Azul”. Mas, ele já tinha fechado o disco. Na altura, não havia mais condições da música entrar e é, assim, que o Filipe Zau ligou para o Eduardo a perguntar pelo nosso rapaz meio assanhado, porque parece que ele anda aí a gravar um disco que, tal darmos esta música a ele. O Paím disse que seria uma boa ideia, então fui ao gabinete e ele mostrou me a "Boca Azul”, com guitarra, e no dia seguinte fui gravar com o Nelo Paim.

Outra parceria é o "Maka Grande”,  com Ângelo Boss. Como foi?

Conheço o Ângelo Boss desde a década 80, na Sala Piô, ele a sair e eu a entrar, é assim que, quando decidi gravar o meu disco "Igual a Ti”, ele deu-me muita força e de alguma maneira teve a sua participação, tanto que decidiu dar-me dois temas. Até agora só foi gravada "Maka grande”, em 1998, e há uma outra composição muito bonita que eu ainda pretendo gravar. É muito linda e fala da relação pai e filho.

Em "Ancorô” mais outra parceria da canção infantil e traz o passado do kuduro…

É uma música que também marca, porque o Yuri é aquele menino que recebemos na Rádio Nacional e que rapidamente despontou na cena angolana. É um grande showman, homem de cultura, sensivel à música e o pedido foi meu. Fizemos a música e é um tema emblemático com a produção de Carlitos Tchiema e é das mais caras, pelas exigências do Tchiema e o leque de artistas que participaram na instrumentalização desta música. A participação da Fofandó deu um outro toque e depois fizemos um vídeo clipe que também ficou muito giro, portanto, há uma forte ligação entre mim e ele, e estamos aqui.

Como produtor, Maya Cool também tem muitos sucessos. Pode falar de alguns deles?

Sim, fiz alguns, por exemplo, "Kussokula adobes”, dos Irmãos Almeida”. O disco "Perfume”, do Fernando Santos fui eu quem produziu, tem ainda o cabo-verdiano Punga, que baptizou-me como Maya Cool e muitos. Agora nos próximos anos tenho ideias de pegar artistas da nova geração e outros que são conhecidos no mercado nacional para a produção e edição de discos.

Tem feito versões de temas antigos e agora jovens têm revisitado a sua obra. Como se sente?

Feliz por saber que estou vivo e as pessoas estão a cantar as minhas músicas do mesmo modo que o Yuri fez com Euclides da Lomba. O Constantino fez a versão do "Dia D” e o Yuri da Cunha está a fazer da mesma música, o Helvicy pegou no "Boca Azul”, é muito bom. Eu agora para o disco cantei "Isabel de Saurimo”, de Visconde de Castro, porque os filhos procuraram-me e pediram para honrar o pai deles. Deram me três temas. No passado cantei Calabeto, Lulas da Paixão, Carlos Lamartine, Artur Nunes e já cantei outros porque eu também vou lá sorver dos kotas para grangear o nome Maya Cool.

Outro aspecto é o facto de lançar também alguns instrumentistas e músicos que hoje estão no mercado…

Sim, Yark, Nando Catumbila, Sebastião, José e outros jovens que descobri na igreja Simão Toco. Eu criei uma banda há muitos anos e investi cem mil dolares em instrumentos. Hoje eles são grandes instrumentistas e tocam com quase todos artistas angolanos e nos principais projectos, isto é o futuro. E eu não me arrependeo de ter investido nisso para dar credibilidade a eles, tal como outros fizeram por nós. Devemos pegar nos mais novos assim como alguém me pegou quando era cantor piô e hoje estou aqui, com mis de 35 anos de carreira, porque é assim que a gente cria os filhos.

Com "Tio Paciência” venceu o Top dos Mais Queridos. Como avalia esse troféu?

Eu fui feliz em ser galardoado como vencedor do Top dos Mais Queridos em 2008, e o "Tio Paciência” é importante. Olha que no ano anterior com "Te Juro” fiquei na segunda posição e o Matias Damásio ganhou com "Porquê”. Portanto, o Top dos Mais Queridos é um dos concursos mais almejados pelos artistas angolanos, todos querem ganhar não tanto pelos prémios mas pelo estatuto que te dá. Com "Tio Paciência” estou muito feliz e tenho ainda hoje em minha casa o prémio, o kumbú já acabou mas continua aquele galardão que para mim simboliza muito.

Sente que o Top dos Mais Queridos ainda mantém a mística ou deve ser revisto?

Olha, prefiro não argumentar sobre isto, porque cada casa tem a sua gestão e a Rádio Nacional de Angola tem os seus critérios e os seus porquês. O que poderia falar é que tudo bem que se queira massificar, mas não podemos esquecer que noventa porcento da música que se escuta no país é feita em Luanda.

PERFIL
Maya Cool

Lucas de Brito Pereira da Silva, ou simplesmente Maya Cool, é um músico que, ainda criança, começou a despontar no universo musical infantil. A sala piô da Rádio Nacional de Angola (RNA) e outros shows infantis, do dia 1 de Junho, foram a rampa para a sua projecção musical. Neste emissora que "abriu-lhes as portas” ao mercado angolano, o cantor conviveu com outros artistas renomados, na época, como Ângelo Boss, Mamborrô, Joseca, Lopes Cortez, Mara Max, entre outros.

Maya Cool, depois de transitar da música infantil, na sala piô da Rádio Nacional de Angola, viajou para Portugal, onde foi recebido por Eduardo Paím que se tornou o seu mestre. Aprendeu a tocar vários instrumentos e produziu o seu primeiro disco, começando a trilhar um caminho de sucesso, numa altura em que o music hall angolano era dominado por Paulo Flores, Ken Boys, Tropical Band, Versáteis, Don Kikas, Tony Amado, Zé Mónica e Fernando Santos.

Na voz de Maya Cool surgiram sucessos como "Lágrimas”, "Te Juro, "Dia D”, , "País Novo”, "Boca Azul”, "Liguei” "Maca grande na sanzala” "Peló Peló, "Ancoró”, "Junta Ma Nois” e outros como "Ti Paciência” que o consagrou vencedor do Top dos Mais Queridos em 2008. Grande parte dos sucessos estão nos cinco álbuns no mercado, "Lágrimas”, "Igual a Ti”, "Anjo”, "Amores” e "Certeza”, assim como projectos de outros colegas.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Entrevista