Opinião

Uma conquista que merece ser valorizada

António Cruz *

Director Executivo-Adjunto

O acordo de paz assinado no dia 4 de Abril de 2002, no Luena, província do Moxico, marcou a mudança para um novo ciclo. Enterrou o machado da guerra em definitivo e encerrou uma escalada de violência de anos a fio, que provocou muita dor aos angolanos.

07/04/2024  Última atualização 09H59

O conflito interno em Angola gerou violações flagrantes aos direitos humanos, mortes de civis inocentes, viúvas, órfãos, mutilações e prejuízos materiais incalculáveis. As minas colocadas nas estradas e nos caminhos para os rios e as lavras impediam a locomoção e a possibilidade de as famílias acederem às principais fontes de sustento.

O fim da instabilidade trouxe alívio e abriu portas para uma convivência mais salutar. Foi um processo longo e demorado, com altos e baixos, mas, no fim, acabou bem.

Algumas iniciativas revelaram-se infrutíferas, mas serviram de lição. Aprende-se, sempre. É de Nelson Mandela a expressão: "Eu nunca perco. Ou ganho, ou aprendo”.

No dia 31 de Maio de 1991, o então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e o líder da UNITA, Jonas Savimbi, assinaram o Acordo de Bicesse, assim chamado por ser rubricado na localidade portuguesa com essa designação. Portugal mediou e os Estados Unidos da América e a União Soviética observaram.

O acordo previa o cessar-fogo imediato, os princípios para a instauração da paz e relativos ao acto eleitoral, a extinção das FAPLA e das FALA para dar lugar a criação de novas Forças Armadas, criação da Comissão Conjunta Político-Militar, o estatuto das estruturas administrativas existentes e a garantia de segurança durante o período de transição até às eleições, entre outros aspectos.

As novas Forças Armadas e a Comissão Conjunta Politico - Militar foram criadas e as primeiras eleições multipartidárias realizadas. O MPLA ganhou. A UNITA não aceitou os resultados e o país conheceu uma nova onda de violência, que se estendeu até 2002.

O colapso não inibiu os angolanos de ensaiarem outras iniciativas para o fim do conflito. O acordo de Luena ganhou corpo e encerrou 16 anos de instabilidade militar. Teve a particularidade de ser uma solução interna, dos angolanos, sem mediação e de acordo com a realidade do país.

Foi um sinal de que os angolanos estavam cansados da situação e decidiram colocar uma pedra sobre o assunto. Os dois intervenientes no processo mostraram isso no abraço entre ambos naquele importante dia para o país. Os generais Abreu Muengo "Kamorteiro" e Armando da Cruz Neto estavam na condução, um do lado da UNITA e outro das Forças Armadas Angolanas (FAA). Momento marcante e significativo. Os abraços estenderam-se em muitas famílias pelo país dentro, onde irmãos, outrora limitados pelas fronteiras do conflito, professavam ideologias diferentes.

A paz falou mais alto e operou transformações significativas no ambiente vigente. Inimigos passaram a irmãos. Só não se sabe como ficaram os fanáticos que chegaram adoptar nomes de guerra ao nível de "Mata Kwacha” e "Come FAPLA”, para citar alguns. O espírito reconciliador terá, certamente, proporcionado a saída desejada.

O calar das armas abriu a possibilidade de união e trabalho conjunto para a reconstrução do país, proporcionando um futuro melhor para as crianças que não tiveram a oportunidade de se sentar numa carteira para estudar. Permitiu reedificar e construir escolas, estradas, hospitais e outras infra-estruturas necessárias à vida das populações, como água e energia eléctrica, que são direitos humanos fundamentais.

O processo de desminagem envolveu os dois lados. Com o início da execução definitiva do processo de paz, Angola ratificou, em 2002, o Tratado de Ottawa, sobre o perigo das minas, que tinha assinado em 1997.

Os ódios, as mágoas, diferenças e outros sentimentos afins passaram a fazer parte do passado. Espera-se que fiquem lá enterrados, sem hipótese de retoma.

Os ódios e as mágoas fazem mal tanto a quem os possui quanto às pessoas ao redor. Soe dizer-se que as pessoas somente dão o que têm e um coração cheio de ódio e mágoa apenas dissemina estes sentimentos.

Valorizar esta grande conquista é uma obrigação geral e isso ficou patente nas celebrações alusivas à data, durante a semana finda. Todos, independentemente das cores partidárias, credos religiosos ou raças, manifestaram o ardente desejo de preservar este importante bem para todos os angolanos.

As viagens, neste fim-de-semana prolongado, testificam os ganhos na livre circulação de pessoas e bens pelo país, algo que, entretanto, precisa de ser melhorado tendo em conta as perspectivas de desenvolvimento do turismo.

Apesar de todos os constrangimentos próprios das dinâmicas sociais, é importante reconhecer que o Povo Angolano é, por natureza, vencedor, realidade que pode ser comprovada pela longa lista de conquistas, das quais a Paz é a maior e obirga permanete manutenção.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Opinião