Sociedade

Via reabilitada em Quilengues tira povoações do isolamento

Arão Martins | Lubango

Jornalista

Após 45 anos de isolamento, as povoações de Camulemba e Ngando voltam a estar ligadas à sede municipal de Quilengues, depois da terraplenagem de 50 quilómetros de estrada, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM). A via está a permitir o acesso e a circulação de pessoas e bens, desde a segunda quinzena do mês de Fevereiro.

04/03/2021  Última atualização 08H26
© Fotografia por: Arão Martins | Edições Novembro| Huíla
O agricultor João Camanha gosta de silêncio, mas percebe que a pacata vida das populações de Ngando, município de Caluquembe, e Camulemba, Quilengues, foi alterada com a abertura da estrada.
"Na nossa localidade vive-se muito bem, mesmo para quem tenha uma reforma baixa. Há sempre uma hortinha”, disse, lamentando apenas a falta de farmácia nas aldeias e o facto de que faziam as compras na sede municipal de Caluquembe, que fica mais distante em relação à sede municipal de Quilengues, cenário alterado com a terraplanagem da estrada.

João Camanha gabou-se da qualidade dos produtos locais, principalmente, do feijão, milho, massambala, legumes e as hortaliças. La-mentou o facto das mesmas culturas não serem servidas à mesa de restaurantes, inexistentes nas duas localidades. Salientou que para vender os produtos do campo em Benguela, os agricultores eram obrigados a viajar até ao município de Cacula, em direcção ao Lubango. Com a abertura da via Quilengues, sede, Camulemba/ Ngando, Caluquembe, os produtores vivem uma nova realidade.

O jovem Joãozinho regressou à Camulemba, sua terra natal, depois de vários anos ausente. Ao volante da sua carrinha de marca Toyota Hilux, Joãozinho diz estar a projectar investir numa loja na localidade de Ngando e outra em Camulemba, para vender sal de cozinha, açúcar, entre outros produtos. Segundo ele, era difícil investir na terra porque a via ficou intransitável. Seguindo o lema de que a "vida se faz nos municípios”, Joãozinho entende que com a abertura da estrada, é tempo de em-preender na terra natal para criar emprego.

Outros filhos de Quilengues, os irmãos António e Pedro, cresceram e fizeram-se homens na agricultura. Ao aperceberem-se da abertura da estrada, deslocara-se à Camulemba para  explorarem  oportunidades de investimento. "Já é possível investir na agricultura, com a abertura da estrada que liga Quilengues às povoações de Camulemba e Ngando”, reconheceram.
A viagem entre a sede municipal de Quilengues à Camulemba é atractiva pelas belas paisagens existentes. As curvas e contracurvas fazem lembrar as cordilheiras da Serra da Leba. A tranquilidade e o ar puro são os bens mais apreciados para quem vive ou visita essas localidades.


Produtos agrícolas com mais saída

O administrador municipal de Quilengues, Adriano Pedro, informou que graças às obras, que custaram mais de 150 milhões de kwanzas e que estão inseridas no Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), já é possível circular naquele traçado, que ficou mais de 40 anos intransitável a viaturas.
Adriano Pedro salientou igualmente que as localidades de Camulemba (Quilengues) e Ngando (Caluquembe) são produtoras de milho, feijão, massambala e outros produtos agrícolas. "Com a terraplenagem deste troço, os produtores podem escoar para Benguela as colheitas sem precisar de contornar o município de Cacula, província da Huíla.
De acordo com o administrador de Quilengues, para a abertura da estrada efectuaram-se trabalhos de engenharia, nomeadamente, drenagem, protecção ambiental e desmatagem e limpeza.


Projectos em execução

Os sete projectos em curso no município de Quilengues (145 quilómetros a norte da cidade do Lubango), província da Huíla, no âmbito do PIIM, foram liquidados financeiramente a 54 por cento, informou o administrador municipal.
Adriano Pedro disse que o valor global das acções em curso é de 1, 2 mil milhões de kwanzas e que a execução financeira está de acordo com o cronograma estabelecido. Frisou que todas as obras do PIIM estão em curso no município.

Realçou que está em curso a construção de duas escolas do ensino primário com sete e 12 salas de aula, na localidade de Ukali Muloi, que irão beneficiar 2.084 alunos, dos quais 1.580 para a escola de 12 salas e 504 para a escola de sete salas de aula.
Em curso está ainda o projecto de construção do sistema de água, que vai beneficiar mil habitantes em vários bairros da sede municipal. Adriano Pedro referiu que estão, igualmente, em curso os trabalhos de ampliação e reabilitação da rede de energia eléctrica e iluminação pública, que em breve beneficiarão cerca de dois mil habitantes da sede municipal.
Ressaltou que a paralisação dos projectos, devido a Covid-19 e a demora no pagamento das facturas, provocou algum atraso na execução física, razão pela qual aumentou ligeiramente o prazo dos contratos.

"É imperioso o reequilíbrio económico e financeiro dos mesmos, na óptica de que os contratos foram avançados no ano 2020 e o processo dos cursos feitos em 2019, o que faz com que houvesse desequilíbrio nos custos. Antes, os preços eram satisfatórios. De um tempo a esta parte, os preços dos bens e serviços sofreram alterações bruscas, fazendo com que o valor de alguns projectos chegasse a duplicar”, sublinhou  o administrador municipal de Quilengues, realçando a qualidade das empreitadas, tendo em conta os valores orçados para as mesmas.

Adriano Pedro deu como exemplo o projecto de reabilitação e ampliação da rede de energia e iluminação pública, orçado em 427 milhões 336 mil 901 kwanzas.
"Chegamos à infeliz conclusão de que os custos para aquisição de dois geradores e transformadores são de 783 milhões e 681 mil kwanzas, contra os 355 milhões e 844 mil kwanzas anteriores…”, explicou, em função de uma breve pesquisa de mercado.
O administrador municipal de Quilengues afirmou que a execução do PIIM tem sido boa e que o projecto de construção do sistema de água é o único que tem andado a ritmo lento e com alguns problemas de cumprimento dos cadernos de encargos e termos de referência do projecto.

Para o ano em curso, a Administração Municipal de Quilengues perspectiva a construção do sistema de captação, armazenamento e bombagem de água para a vila de Quilengues, a partir do rio Kutembo.  Há ainda a construção de um sistema de energia limpa, de uma escola de formação técnica profissional, uma escola para o ensino superior, desassoreamento de rios e valas.
Adriano Pedro indicou também a ampliação do hospital municipal, melhoramento das vias secundárias e terciárias, construção de postos policiais e das administrações comunais de Dindi e Impulo.


Obras satisfazem governador 

O governador provincial da Huíla, Luís Nunes, visitou recentemente as obras em curso no município de Quilengues e  mostrou-se satisfeito com o trabalho executado na estrada que liga Quilengues à localidade de Camulemba, passando pela povoação de Ngando (Caluquembe).
"Sentimo-nos felizes ao ver a alegria da população que, depois de 45 anos sem estrada, já sente os efeitos positivos das acções do PIIM. Alegrou-me chegar a uma zona onde não circulava carro há mais de 40 anos”, disse com satisfação.
O governador da Huíla mostrou-se surpreendido com o trabalho desenvolvido no traçado, pela dimensão do trabalho desenvolvido, e reconheceu que o orçamento das obras de terraplanagem do troço é ínfimo.

"Tiro o chapéu ao empreiteiro que realizou a obra. É um trabalho de engenharia, porque houve a necessidade de cortar montanhas com a utilização de equipamentos pesados e mudou-se o curso da estrada em vários sítios. Estamos satisfeitos”, manifestou.
Durante a visita de campo ao município de Quilengues, o governador provincial da Huíla entregou o palácio municipal, completamente apetrechado, visitou as obras de ampliação da rede de distribuição de energia e iluminação pública de Quilengues e as escolas que estão a ser construídas nas localidades de Ukali e Muloi, arredores da sede municipal.

Luís Nunes visitou também as obras de construção do sistema de água de Quilengues, que vai beneficiar cerca de duas mil famílias da sede municipal.
"Estou feliz pelo que vi. É lógico que há algumas correcções numa ou noutra obra. Mas fica a garantia de terminarmos as obras nos prazos estipulados para beneficiar as populações”, assegurou.
Relativamente às obras de construção do sistema de águas de Quilengues, o governador Luís Nunes disse que vai enviar uma equipa encabeçada pelo director do gabinete de infra-estruturas do governo provincial para trabalhar com a administração municipal e averiguar os constrangimentos.

A nível de acompanhamento da execução financeira, o governador da Huíla disse que está a ser feito um trabalho para que a execução física se coadune com a componente financeira.
Reafirmou que as únicas preocupações prendem-se com as obras nos municípios de Caconda e Caluquembe, que os erros verificados nas configurações de algumas obras do PIIM já foram corrigidos.
O governador da Huíla disse que com excepção dos municípios de Caluquembe e Caconda que preocupam, os outros estão a seguir o que está estipulado nos contratos.


Combate à vandalização

O governador provincial da Huíla defendeu o combate à vandalização dos bens públicos, adiantando que é visível a onda de destruição.
"Apesar do actual contexto difícil, o Governo constrói infra-estruturas públicas e estes bens estão a ser destruídos. É preciso promover a educação comunitária para evitar a vandalização que se assiste. Não se pode admitir que indivíduos com fins inconfessos continuem a destruir os bens públicos”, exortou.

Luís Nunes pediu união e uma gestão financeira transparente de todos para a contínua solução dos problemas das populações. "Se cada um tiver de puxar a brasa à sua sardinha, vai chegar uma altura em que a sardinha principal, que é o povo, deixa de ter lume. E é isso que não se quer”, disse, acrescentando que o fim último do servidor público é a satisfação das necessidades das populações.


Antes do retorno às aulas
Antes do retorno às aulas do ensino primário, no dia 10 de Fevereiro, alunos do ensino primário e encarregados de educação de Calungo, comu-na do Cusse, município de Caconda, na Huíla, estavam todos prontos, mas a preocupação, segundo apurou o Jornal de Angola junto da co-munidade, residia no atraso da conclusão das obras de construção da escola de sete salas, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM).

A directora da escola do Ensino Primário da localidade, Isabel Salohana, explicou que a nova escola foi projectada para albergar também alunos do I Ciclo do Ensino Secundário. A responsável lamentou os atrasos verificados na construção do referido estabelecimento escolar, onde serão transferidos os mais de dois mil alunos que, neste momento, estudam em salas provisórias e na escola 1211, em Santa Cruz.

Para este ano já estão matriculados 2.438 alunos, cujas aulas serão assegurados por um total de 26 professores. Isabel Salohana reconhece que a entrada em funcionamento da nova escola vai ser um alívio para os alunos, professores e para  a  comunidade local.
Com 17.315 crianças fora do sistema de ensino, o município de Caconda conta, este ano, com um total de 46.692 alunos matriculados do ensino primário ao II ciclo, para um universo de 96 escolas distribuídas pelas comunas sede, Gungui, Waba e Cusse, e as aulas asseguradas por 943 professores.

Segundo o gestor do município, há toda a necessidade de serem contratados mais de 500 professores e construídas mais de 90 escolas para o ensino primário, e duas para albergar alunos do I e II ciclos do ensino secundário.
Há dias, o governador  provincial da Huíla revelou que a região tem um pacote de 184 projectos, cujo valor global é de 38 mil milhões de kwanzas. Luís Nunes explicou que deste valor já foram gastos mais de 13 mil milhões de kwanzas. "Estamos convencidos que, até Julho deste ano, iremos colocar à disposição da população todas as infra-estruturas em construção  no âmbito do PIIM”, garantiu, reconhecendo que grande parte das localidades da província carece de uma atenção especial, sobretudo nos sectores da Saúde, Educação e vias de comunicação.


Caconda e Caluquembe

No âmbito do PIIM, os municípios de Caconda e Caluquembe beneficiam de nove projectos cada. O administrador municipal de Caconda, Nandim Capenda, referiu que além da construção de escolas o programa abrange a reabilitação e apetrechamento de outros estabelecimentos escolares.
Explicou que o município beneficia de obras de construção de uma escola de quatro salas de aulas, na localidade do Cue I, e de um posto de saúde no sector de Bandeira. A localidade beneficia ainda de acções de melhoramento do sistema de produção e distribuição de energia eléctrica, na sede municipal, e dos sistemas de iluminação pública de todas as sedes comunais. Nandim Capenda disse que os projectos estão avaliados em mais de 1,1 mil milhões de kwanzas.

"Inicialmente, por ser novo na administração, temos estado a agir no sentido pedagógico. Conversamos com todos, inclusive os empreiteiros de obras sociais para encontrar as melhores soluções, sobre os constrangimentos que surgem no município”, disse.
Um novo hospital municipal está a ser construído nas imediações da centralidade da Ca-chicacala, no município de Caluquembe. Erguido numa área superior a mil metros quadrados, a nova unidade hospitalar, cujas obras estão avaliadas em mais de 190 milhões de kwanzas, vai poder albergar mais de 80 doentes internados.

A administradora municipal de Caluquem-be, Mariana Soma, avan-ça que os nove projectos em curso na localidade estão orçados em mais de 1, 4 mil milhões de kwanzas. Do valor global, assegurou, já foram consumidos 807 milhões de kwanzas, cujas obras permitiram criar 239 postos de trabalho.
Na localidade decorrem trabalhos de construção do edifício para o funcionamento da Administração local do Estado, asfaltagem de um quilómetro e meio da estrada, além de acções de apetrechamento de uma escola e reabilitação da central diesel para melhorar o fornecimento de energia à sede municipal.

Há dias, o governador visitou as obras de construção de duas escolas, uma de sete salas de aulas na comuna de Calepi, a 30 quilómetros da sede municipal, e outra de 12, em curso no bairro Eitonga Baixo. Visivelmente descontente com os atrasos e má qualidade de algumas empreitadas, o governador Luís Nunes alertou sobre a responsabilidade que o Executivo tem de cumprir e fazer cumprir com as promessas e propósitos da criação do PIIM.


Constrangimentos da Covid-19

O director-geral da em-presa CT - Construções, Soto Majamba, que executa várias obras em Caconda, alegou que a Covid-19, como uma das principais causas dos atrasos verificados no cumprimento dos prazos de construção das obras no município de Caconda. Outra preocupação, acrescentou o responsável, reside na execução financeira da obra.
"Os prazos, na verdade, não poderão ser cumpridos por causa dos constrangimentos causados pela Covid-19, desde Março do ano passado, que levou-nos a uma paralisação enorme e só retomamos os trabalhos mais tarde”, disse o empreiteiro.

No município de Ca-conda, o governador da Huíla visitou as obras de construção de quatro escolas de sete salas cada, que estão a ser implantadas nas localidades de Calungo, Dengue, Cavava e Holongui. Luís Nunes visitou ainda as obras da escola de 12 salas de aulas, no bairro Cavava, infra-estrutura que deverá ser inaugurada em Março próximo, e do bloco operatório do Hospital Municipal de Caconda, avaliado em 153 milhões e 900 mil kwanzas.

"Não tivemos constrangimentos. Acabamos a obra no dia 22 de De-zembro e já fizemos a entrega provisória da infra-estrutura à Administração Municipal de Caconda, que está a criar condições para a inauguração”, disse Guerra Caputo, fiscal da obra de construção e apetrechamento de uma escola, avaliada em mais de 150 milhões de kwanzas, que conta com de 12 salas de aula, uma cantina, área administrativa, quadra polidesportiva e outros compartimentos.

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