Opinião

2021: “Prognósticos só no fim”

Adebayo Vunge

Jornalista

A expressão prognóstico tornou-se um jargão futebolístico repetido várias vezes por jogadores e treinadores ante a dificuldade de fazerem uma previsão sobre os grandes derbys.

04/01/2021  Última atualização 08H06
No entanto, a palavra que deriva do grego significando literalmente conhecimento antecipado. É também muito utilizada na medicina para referir-se aos exames que nos permitem antecipar o diagnóstico de uma doença e assim facilitar o seu tratamento.
Como é óbvio, é sempre muito difícil o exercício da futurologia. Ainda assim, e como forma de facilitar a nossa organização colectiva é importante que a sociedade se estruture na base do planeamento, no timing mínimo que seja: uma semana, um mês, três meses, seis meses, um ano, enfim, no que for. Termos uma noção clara de eventos previsíveis e sobre os quais nos possamos antecipar.

É óbvio que o ano de 2020 deixou uma grande lição a este respeito. Todo o exercício de previsibilidade caiu em saco roto. No entanto, 2020 deixou uma grande mensagem para a civilização humana: A vitória da ciência e da tecnologia. Deixando de lado todas as teorias de conspiração quanto à origem do vírus – inclusive o famoso TedX de Bill Gates onde previa há cerca de cinco anos que a humanidade entraria em crise ante uma pandemia biológica e não necessariamente informática como é seu metier – a verdade é que a coligação e a solidariedade dos principais laboratórios mundiais permitiu que em tempo record fosse produzida uma vacina para fazer face ao problema actual provocado pela pandemia.

Em simultâneo, falamos da vitória da tecnologia que foi a grande forma de contornarmos o isolamento social em que estivemos confinados durante largos meses. Foi possível trabalharmos, foi possível convivermos e mantermos algum afecto seja pelo contacto visual das câmaras e dos smartphones seja ainda porque a Internet revelou-se um instrumento poderosíssimo para sustentar a nossa subsistência. Curiosamente, o contacto físico entre os humanos deu lugar ao touch, que é uma forma de contacto verdadeiramente revolucionária e ao qual todas as gerações actuais já mais ou menos aderiram. Portanto, longe dos efeitos de outras pandemias, até aqui subsistimos colectivamente, mesmo se da OMS vem uma nova ameaça quanto aos riscos do aparecimento de uma nova pandemia, ainda pior do a do Covid-19 e suas variantes agora emergentes.

Ora, tal como alguém escreveu numa rede social, esperamos todos que 2021 não seja a segunda temporada de 2020 e que nos permita voltar a socializar, sentindo o carinho e afecto dos nossos pais, irmãos, amigos, camaradas, colegas enfim. Advinha-se que haja uma onda eufórica pelo consumo, especialmente a partir do final do primeiro semestre altura em que os países mais afectados poderão estar a atingir a imunidade de grupo, com os principais grupos de risco completamente vacinados.

Não obstante as incertezas quanto à durabilidade dos efeitos das vacinas, do impacto financeiro para as multinacionais do ramo, a verdade é que há uma grande esperança para que 2021 seja efectivamente um ano que nos devolva também os primeiros sinais de recuperação económica de Angola pois estamos já a viver de forma dramática os efeitos sociais de uma crise que está a levar tempo demais e a corroer os "ganhos da paz”. Não há dignidade possível na pobreza, no desemprego e na ausência de esperança, esta que acredito que poderá estar de volta ao lar de muitos angolanos já em 2021 se tirarmos do papel alguns projectos estruturais, como é o caso da refinaria de Cabinda, do lançamento de alguns projectos mineiros, da conclusão das obras do PIIM e até do metro de superfície, como referi num dos meus recentes artigos neste matutino.

Com os números do OGE-2021 a revelarem um aumento da preocupação social, especialmente em matéria de educação, saúde e protecção social, esperamos que haja uma atenção especial à organização dos sistemas. A humanização dos serviços de saúde, o alargamento da rede devendo esta chegar mais próximo dos cidadãos com um serviço de melhor qualidade, a melhoria do sistema de ensino tornando o professor no centro da transformação e dotando-o de melhores condições e ainda com alguma preocupação com os segmentos mais carenciados seja por via do Kwenda como de outras programas sobre as quais devem trabalhar as administrações municipais, mediante os recursos do programa de combate à pobreza. Este seria também um sinal importante em matéria de desconcentração administrativa sentida na prática e no quotidiano dos cidadãos.

É verdade que "os prognósticos só no final”, mas fica aqui expressa a minha esperança para que 2021 seja efectivamente um ano melhor. Façamos por isso. Mobilizemo-nos em prol do que é nosso. Que não haja mais pandemia que nos retire o sorriso e a esperança.

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