Entrevista

Entrevista

“A nossa situação financeira é caótica”

Juscelino da Silva

Jornalista

Equipa militar não foi para além do segundo lugar do Campeonato . O vice-presidente para o basquetebol do 1ºde Agosto Fernando Barbosa, mais conhecido nas lides desportivas por “Barbosinha”, abriu as portas do gabinete e numa conversa amena e descontraída, falou da situação actual da equipa sénior masculina do Rio Seco, que continua a perder jogadores por causa da crise financeira.Dentre outras questões, abordou ainda as saídas e entradas de atletas bem como os dois anos de salários em atrasos de treinadores e de jogadores.

26/05/2023  Última atualização 07H00
Vice-presidente para o basquetebol do 1ºde Agosto Fernando Barbosa © Fotografia por: Agostinho Narciso | Edições Novembro
O dirigente garantiu que a direcção do clube liderada por Carlos Hendrick vive uma situação delicada, razão pela qual tem criado muitos embaraços nas contratações, bem como na manutenção de atletas. O antigo internacional angolano garantiu ter já assegurado alguns jogadores para atacar a próxima época. Por outro lado, frisou que a situação não tem permitido a direcção argumentar para impedir que os jogadores deixem o clube da Maianga.

 

Que 1ºde Agosto teremos  na próxima época?

 Sabe que na BAL só vai o campeão de cada país, coisa que não acontecia antigamente. Por isso, o nosso objectivo é construir uma equipa forte para vencer o campeonato nacional e chegar à maior competição de clubes. Portanto, para a próxima época, teremos um 1º de Agosto forte e estamos a trabalhar para isso. A situação não tem sido fácil, como é do conhecimento de todos, mas já estamos na fase de construção da nova equipa. Existem negociações avançadas com alguns atletas. É um processo que demora um pouco, porque há sempre condições que se impõem quer por parte da direcção, quer dos agentes e atletas. E dentro das nossas limitações financeiras, vamos abrir as mãos ou fechar até que se encontre um denominador comum para chegar a acordo com os atletas.

 

Que avaliação faz da época passada?

O balanço só pode ser positivo, pois conquistámos o segundo lugar, depois de dois anos a sair em terceiro e quarto. A nossa aposta era conquistar o Campeonato Nacional, mas tivemos algumas dificuldades financeiras que não nos ajudaram a cumprir com o objectivo. Do ponto de vista geral, achamos que tivemos uma boa participação, competimos de igual para igual com o nosso principal rival, vencemo-lo no primeiro jogo e perdemos noutros. No decorrer da época, recebemos dois reforços que nos ajudaram a criar um grupo forte e juntos conseguimos subir ao pódio.

 

Têm já contratados alguns jogadores para atacar a próxima época?

 Temos alguns jogadores já assegurados e existem outros que estão em negociações avançadas com o clube e posso adiantar os nomes daqueles, cujo acordo já está selado. Falo de Edson Ndoniema, Malick Cissé, Tarcio Domingos, Hermenegildo Santos, Bamba Cissé, Macachi Brás, só para citar esses. Portanto, como disse, os outros estão a negociar e penso que nos próximos dias vamos anunciar a contratação ou as saídas.

 

Já existe uma lista de jogadores que serão dispensados?

Estamos a trabalhar na lista de dispensa de jogadores. Nos próximos dias, vamos torná-la pública. Neste momento apenas a saída do Felizardo Ambrósio "Miller” é pública. Já agora, aproveito para dizer que o caso do Felizardo Ambrósio foi uma opção do atleta, porque, como sabeis, os jogadores têm início e fim de carreira.

 

O caso Felizardo Ambrósio tem várias versões. A direcção ainda contava com o jogador. Houve inclusive, negociações para baixar o salário. A outra versão é de que o técnico Lazare Adingono já não o queria, sobretudo, depois de uma discussão entre ambos num dos treinos. Que comentário faz?

Olha, não posso confirmar essa informação. O que posso confirmar é que o Felizardo Ambrósio "Miller”, na altura quando o treinador José Carlos Guimarães orientava a equipa principal, o próprio assumiu que iria jogar mais uma época, no caso, a que terminou. A direcção do clube, assim como a equipa técnica, liderada pelo técnico Lazare Adingono, acharam que não era conveniente, pela idade e as lesões, continuar a contar com ele. Chamámos o atleta para se decidir o futuro. No encontro, disse que não continuaria a jogar e que encerraria a carreira. Estávamos a marcar uma data para a despedida que seria no Torneio Victorino Cunha. Queríamos homenageá-lo pelos anos que representou o clube. Passados alguns dias, ouvi uma versão do próprio, na Rádio Cinco, completamente diferente, onde dizia que daria sequência à carreira. No entanto, é livre de recuar na sua decisão.O mesmo já aconteceu com o Eduardo Mingas, que chegou a garantir que já não jogaria mais e depois foi ao Interclube, onde encerrou a carreira.

 

Fizeram algum convite para abraçar outros projectos?

Essa possibilidade ficou por cima da mesa no dia em que reunimos, mas surpreendentemente, ouvimos que vai dar seguimento à carreira. Logo a nossa proposta ficou por terra. É bom que se diga: respeitamos a sua decisão. Por outra, ficou conversado que não existe mais nenhuma ligação com o clube.

 

Confirma a dívida avaliada em mais de 65 milhões de kwanzas?

Não posso precisar o valor, mas temos dívida relativa a salários, prémios de jogos, campeonatos, Supertaça e Taça de Angola. Os valores estão a ser avaliados pela direcção de basquetebol, bem como pelos recursos humanos e o representante do atleta. O clube vai fazer um esforço para regularizar não de uma só vez, mais de forma faseada. Isso é extensível para os demais jogadores.


"Vamos manter  a equipa técnica”
Quando arrancam os trabalhos de pré-época?

A pré-época vai arrancar na segunda quinzena de Junho, como é habitual. Vamos realizar os exames médicos e, em seguida, os trabalhos físicos. Acredito que até lá já teremos o plantel definido.

 

A equipa técnica será alterada ou vão mantê-la?

Vamos manter a nossa equipa. Lazare Adingono, Miguel Lutonda e Vladimir Ricardino continuarão a comandar os destinos da equipa na próxima época. Quanto ao balanço da época passada, claro que é positivo e estamos bastante felizes com tudo aquilo que o plantel produziu; podíamos fazer melhor, mas do outro lado estava um adversário com um plantel bem recheado em termos de jogadores experientes.

Como está a questão de pagamentos da dívida contraída com o técnico José Carlos Guimarães?

 Quanto a isso, devo dizer que esta dívida já começou a ser paga de forma faseada. Portanto, houve uma reunião com o treinador e definimos os moldes de pagamento que já começaram a ser feitos.

 

Este ano teremos o Torneio Victorino Cunha?

Esse Torneio faz parte do calendário de competições da Federação Angolana de Basquetebol e já estamos a trabalhar para a realização do evento, que deve acontecer em Outubro ou Novembro.

 Alguns agentes e jogadores reclamam a forma como a direcção dá tratamento às negociações. O que se lhe oferece dizer sobre o assunto?

Nós tratamos sempre bem quer os agentes quer os jogadores. Diante da nossa situação financeira, não temos muitas voltas a dar. Procuramos sempre ser o mais transparente possível. Eles apresentam-nos as propostas e rebatemos até chegar a um tecto, que seja favorável para nós. Trabalhamos com o orçamento que a direcção põe à nossa disposição. Não podemos passar o nosso limite ou vender sonhos para quem quer continuar a jogar aqui.

Que mensagem deixa aos adeptos do 1º de Agosto, que estão preocupados com as constantes saídas de jogadores. São cinco que deixaram a vossa agremiação: Jilson Bango, Jerónimo Luís, Keneth Manuel, Wilson Ambrósio e Felizardo Ambrósio.

A mensagem é de esperança. As dificuldades são enormes por causa da nossa condição financeira, mas acreditamos em dias melhores. Por essa razão, estamos a montar o próximo plantel com muita cautela.

"Queremos  montar uma equipa competitiva”
Com a actual situação financeira, como é que estão a negociar com os jogadores, sobretudo, os que estão em final de contrato?

 Queremos montar uma equipa competitiva para que haja desenvolvimento. Repare que se não houver três equipas competitivas, quem perde é o basquetebol e a Selecção Nacional. Para haver evolução, tem de existir competição e algum equilíbrio para que apareça acima de tudo patrocínios. Por essa razão, devemos ter um plantel equilibrado para competir. Sabemos que o Petro de Luanda lidera a lista dos melhores plantéis e  queremos chegar lá. A tarefa não tem sido fácil, pois, temos de ajustar alguns contratos. Estamos a negociar com alguns atletas e, quando tivermos a certeza quanto a sua permanência, vamos traçar os objectivos.

A direcção estabeleceu um tecto salarial para os jogadores ?

Temos um valor estabelecido para negociar e é ajustável ao orçamento do clube. Portanto, todos os jogadores que quiserem entrar ou permanecer no clube têm de aceitar as condições que temos. E quanto a isso, tem havido boa compreensão por parte dos atletas. Repare que a equipa que disputou o Campeonato Nacional, na época passada, teve essa compreensão. Aliás, reunimos com todos eles e houve compreensão. Só por isso é que houve a boa campanha que culminou com o segundo lugar, pese embora com alguns atrasos nos salários, mas que foram caindo. Portanto, não vamos construir um plantel fora das nossas possibilidades financeiras ou vender sonhos aos jogadores.

 

Vão contratar algum jogador angolano que actue no exterior do país?

 Não. Estamos a negociar apenas com atletas que fizeram parte da nossa equipa na época passada, sobretudo, os que se destacaram. Por isso, adiantei alguns nomes dos atletas que já assumiram compromisso connosco.

 

Milton Valente e Islando Manuel saem ou ficam no clube?

Estamos a negociar com alguns jogadores. Claro que não é fácil convencê-los a ficar por causa da nossa condição financeira. Estamos a negociar e, no final deste processo, vamos anunciar os que vão sair e os que vão continuar connosco. Existe a intenção da direcção e da equipa técnica para que continuem. Agora, é importante dizer que até ao momento o Islando Manuel não nos comunicou que vai deixar o clube.Se isso acontecer, estamos tranquilos, porque as saídas vão sempre acontecer. São coisas normais. A nossa intenção é manter os melhores e este é um esforço que estamos a desenvolver.

 

Confirma o regresso do extremo Wilson Ambrósio e a rescisão do atleta Keneth Manuel?

Não. Não confirmo o regresso do atleta, mas devo dizer que ele foi formado no nosso clube e foi jogar para o Interclube. Agora, se pretende regressar, as portas estão abertas e será bem-vindo. Não há contacto nenhum com o Wilson Ambrósio. Quanto à rescisão com Keneth Manuel, está confirmada.Estivemos reunidos com o agente, apresentou uma carta de rescisão, aceitámos e na ocasião manifestou o desejo de levar o jogador para actuar fora do país. Em relação à dívida, garanto que será paga tão logo haja disponibilidade financeira.

 

Nico Clareth e Jordan Aboudou continuarão a representar as cores do clube?

Os jogadores já regressaram. O Jordan Aboudou saiu mais cedo, porque tem uma nova equipa no seu país. Nico saiu apenas na semana passada. Regressou aos Estados Unidos. Quanto à continuidade na equipa, vai depender muito da forma como vamos montá-la para a próxima época. A ideia é colocar os jogadores mais cedo no plantel para se ambientarem, mas isso vai depender do treinador. É nossa intenção reforçar o plantel com dois jogadores estrangeiros.   

 


Treinador Lazare Adingono


SALÁRIO DO TREINADOR

"Nunca diria quanto ganha Adingono”

É verdade que o treinador Lazare Adingono aufere um salário de nove milhões de kwanzas por mês e que tem os ordenados todos em dia?

(Risos) Não posso confirmar esta informação. Como disse, inicialmente, o treinador Lazare está nas mesmas condições que os demais. Portanto, o nosso treinador também não recebe os ordenados regularmente. Em relação ao que ganha, nunca iria anunciar isso numa entrevista.

 

Qual é o ponto de situação de pagamentos de salários aos treinadores, sobretudo, nos escalões de formação?

Tivemos uma reunião e reconhecemos as dívidas com os nossos treinadores e já começámos a pagá-las, claro que não tem sido na totalidade, mas de forma faseada, ou seja, mensalmente. Na nossa academia, temos apenas dois treinadores e o procedimento é o mesmo: ninguém recebe mais do que os outros.

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