O Festival Internacional de Jazz, agendado para decorrer de 30 deste mês a 1 de Maio, na Baía de Luanda, tem já confirmada a participação de 40 músicos, entre nacionais e estrangeiros, e o regresso da exposição de artes visuais com obras de 23 artistas plásticos, anunciou, sexta-feira, em conferência de imprensa, no Centro de Imprensa da Presidência da República, CIPRA, o porta-voz da Bienal de Luanda, Neto Júnior.
O artista plástico, João Cassanda, com a obra “Mumuíla Feliz”, e o escultor Virgílio Pinheiro, com a escultura “Piéta Angolana”, são os vencedores da 17.ª edição do Grande Prémio ENSA-Arte 2024, tendo arrebatado uma estatueta e um cheque no valor de seis milhões de kwanzas.
A projecção do Museu Regional do Dundo, pela então Companhia de Diamantes de Angola (DIAMANG), no longínquo ano de 1936 com o início do processo de recolha do acervo museológico, contou com uma grande participação das comunidades locais, com vista à adequação aos padrões mundiais.
Na sua génese, contemplou a criação de áreas conexas, em função da dimensão apresentada pelos mentores. Entre elas, destacam-se a Aldeia Museu, os jardins zoológicos, botânicos, aclimatação, a Estação Arqueológica de Bala-Bala, o laboratório biológico para o estudo da taxonomia tropical em África e outras áreas as que se estendem desde os rios Luachimo, Chicapa, Chiumbue, Luembe, Luarica até ao Maludi.
A Aldeia Museu, uma das principais componentes do Museu Regional do Dundo, tinha sido instalada, na altura, no actual bairro das casas pré-fabricadas, concretamente nas imediações onde funcionou a antiga divisão da Polícia de Viação e Trânsito, por detrás dos primeiros andares, na conhecida rua da Rádio.
Em declarações ao Jornal de Angola, o director do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos da Lunda-Norte, José Fernando Pinto, falou da dimensão histórica e a importância da Aldeia Museu, na continuidade da valorização e aumento do acervo do Museu Regional do Dundo.
José Fernando Pinto disse que a Aldeia Museu tinha uma própria projecção como uma área para dar espaço a todos os criadores do artesanato. Além da produção de novas obras, disse, a mesma tinha como finalidade assegurar a manutenção de todas as peças identitárias da cultura Lunda-Cokwe.
O director explicou que era uma espécie de "santuário”dos fabricantes das obras-primas e guardiões do acervo museológico local, dotados de uma mestria invejável. José Fernando Pinto destacou como grandes peritos da arte Cokwe, que, na altura, representavam a Aldeia Museu, o mais velho Sandequeji que foi o soba da Aldeia Museu e o mestre Canhanga, este último, considerado um dos melhores artesãos da região pelo antigo funcionário da administração colonial portuguesa, José Redinha, colocado no posto administrativo do Chitato. Apaixonado pela cultura cokwe, Redinha passou uma boa parte da vida a coleccionar obras, a desenhar cenas e a fazer retratos do quotidiano dos povos da região Lunda-Cokwe.
Em 1936, quando decidiu regressar para Portugal, José Redinha ofereceu a sua colecção à ex-companhia de Diamantes de Angola (DIAMANG), a actual Endiama. Em jeito de homenagem, os colegas realizaram uma exposição na Casa de Pessoal da Diamang (hoje, Casa de Pessoal da Endiama).
José Fernando Pinto sublinhou que a Aldeia Museu tinha a sua importância porque concentrava os artesãos e todos mestres do mosaico cultural Lunda-Cokwe.
Transferência da Aldeia Museu
Em função da densidade populacional, depois da independência, começaram a surgir nas imediações do espaço atribuído à Aldeia Museu novas edificações que levaram a transferência da mesma a outra zona, designada por Cabemba, actual Samanhonga, próximo do antigo jardim zoológico.
De acordo com os relatos, segundo o interlocutor, na zona do Samanhonga, apesar de o espaço ter sido atribuído aos agentes culturais, sobretudo aos artesãos, músicos, dançarinos e até adivinhadores, não foi preservada a essência do objecto social e cultural. Por isso, à semelhança do anterior local, o novo acabaria também por sofrer uma grande invasão da população.
José Fernando Pinto explicou que o surgimento de casas de construção definitiva e precárias acabou com o figurino de uma aldeia que tinha sido projectada, com finalidades específicas, voltadas para produção, valorização e divulgação da cultura dos povos. Dada a grandeza e importância histórica, o Governo da Lunda-Norte trabalha na projecção de uma nova Aldeia Museu, afirmou o director do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos.
As perspectivas, disse, apontam que a mesma venha a ser erguida nas proximidades da Estação Arqueológica de Bala-Bala. De acordo com o responsável, pretende-se, com isso , assegurar as condições para a concentração dos artesãos, com vista à revitalização das iniciativas de produção de peças necessárias para o acervo do Museu Regional do Dundo, incluindo a comercialização às pessoas interessadas pela cultura Lunda-Cokwe. "É um projecto inserido no âmbito da renovação da instituição museológica. O Governo local aposta neste sentido para que a Aldeia Museu venha a ser novamente erguida por fazer parte do leque dos projectos de renovação do Museu, afirmou.
No quadro das iniciativas de financiamentos para a materialização dos projectos de apoio ao Museu do Dundo, foi, em Outubro do ano passado, assinado um memorando de entendimento e cooperação com a Fundação Brilhante para o apoio aos projectos da instituição museológica.
Promoção da cultura
O músico Manuel Vungo, da Banda Os Mimbo, disse que a Aldeia Museu era um espaço para recriação, desenvolvimento e promoção da cultura Lunda-Cokwe que agrupava várias personalidades ligadas à identidade dos povos daquela região.
O artista lembrou que após a transferência da Aldeia para uma área próxima ao Museu Regional do Dundo, nas imediações do Jardim Zoológico, na época com a designação de Mandavos (Macacos), o espaço foi dividido.
Uma parte ficou atribuída à Aldeia que passou a ser designada de Samanhonga, com o propósito de não se deixar morrer o valor cultural do espaço. Na divisão feita, foram atribuídos espaços para os músicos da nova geração, bailarinos, artesãos e adivinhadores que todas as tardes e aos fins-de-semana, eram realizadas actividades culturais, explicou Manuel Vungo.
Os eventos, disse, serviam para a exibição de danças como a Tchianda, Cisela e Candowa. A Aldeia funcionava também como uma escola, onde muitos jovens e adultos aprendiam um determinado estilo de dança e música.
A falta de incentivos para os fazedores da cultura continuarem com as actividades, foi apontada por Manuel Vungo, como um dos factores que contribuem para o desaparecimento dos precursores que garantem a continuidade das manifestações culturais e recreativas na aldeia. Gradualmente, disse, foi deixando de ser uma aldeia atractiva, por falta de actividades culturais.
As pessoas apreciavam o Luanzo, a estatueta de Tambue wa Mumeia (Crocodilo) e aprendiam também como fundir o ferro. O também fundador da Banda Os Mimbo disse que com o passar do tempo, a Aldeia Samanhonga foi perdendo o impacto que tinha por falta de atenção. O artista destacou a importância da mais velha Mualhingueno, fundadora dos grupos Akixi e Cianda, que muito promoveu e incentivou a prática das danças tradicionais.
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