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Cabo Verde deve reforçar a “exploração da água”

Associações ambientalistas cabo-verdianas disseram, nesta segunda-feira, que a captação de água deve ser uma prioridade do novo Fundo Climático do país, a ser criado pelo Governo, em breve.

20/02/2024  Última atualização 09H55
Especialistas estimam que o fundo climático vai ajudar a conservar a pouca água disponível © Fotografia por: DR

"Esse fundo deve ser aplicado na mobilização de água e na protecção do ambiente e biodiversidade", referiu Januário Nascimento, presidente da Associação para a Defesa do Ambiente e Desenvolvimento (ADAD).

"Somos um país árido", justificou Nemias Gonçalves, director para as áreas de Ambiente e Alterações Climáticas na associação ambientalista Quercus Cabo Verde, cita a Lusa. A aposta em investimentos que permitam a Cabo Verde preservar recursos hídricos é o denominador comum na lista de prioridades de ambas as organizações.

O arquipélago conta apenas com uma curta estação de chuvas, entre Agosto e Outubro de cada ano, com uma precipitação média de 230 milímetros por ano, muito irregular, chegando a haver anos seguidos sem chuva nalgumas ilhas. Além da captação de água, o mar surge como pano de fundo natural do resto da lista.

A Quercus Cabo Verde alertou para a necessidade de tratamento de plásticos para prevenir a poluição costeira e marítima, numa agenda de sustentabilidade que deve privilegiar a transição para energias renováveis. Sublinhado que as questões ambientais são transversais a toda a sociedade, Nemias Gonçalves disse que o país deve apostar ainda em campanhas de sensibilização para preservação de praias, controlo e gestão de recursos naturais e construção em locais apropriados -- combatendo a que prolifera, de forma desordenada, em várias ilhas.

"Incutir na cabeça das pessoas [que há] locais apropriados para construção", é importante, referiu, porque Cabo Verde "é um país vulnerável" a eventos extremos, com paisagens montanhosas, de elevados declives, palco de cheias repentinas e potencialmente destrutivas. "Estamos a construir em locais de risco e isso aumenta ainda mais a vulnerabilidade da população e do país", avisou o ambientalista.

O Governo cabo-verdiano espera criar em breve o novo fundo climático e ambiental, para a respectiva capitalização arrancar em Março com um perdão de dívida inicial de Portugal, no valor de 12 milhões de euros. O montante corresponde ao valor que seria entregue pelo Estado cabo-verdiano, como reembolso de capital, no âmbito do Contrato de Consolidação da Dívida de Cabo Verde a Portugal, celebrado em 01 de Fevereiro de 2022.

"Nós entendemos que a negociação da dívida pública se reveste de muita importância", salientou o presidente da ADAD, que desde o início tem acompanhado a proposta de reconversão da dívida pública de Cabo Verde em financiamento climático. Por seu lado, o director do ambiente e das alterações climáticas da Quercus Cabo Verde considerou que a capitalização anunciada "já é um bom início" e espera que outros países sigam o exemplo de Portugal.

"Eu acho que Cabo Verde daria um passo muito importante na preservação do ambiente e na luta contra as alterações climáticas", enfatizou o porta-voz da associação, que ainda não foi formalmente ouvida para dar a sua opinião sobre o fundo, mas tem a expetativa de que isso venha a acontecer. Tanto a ADAD como a Quercus Cabo Verde entendem que o Fundo Climático e Ambiental chega ao país "numa boa altura", em que muito se fala sobre as alterações climáticas e menos de dois meses depois da cimeira das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28).

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