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Cabo Verde quer Campo do Tarrafal como Património da Humanidade

Cabo Verde quer avançar, em 2025, com a candidatura do campo de concentração do Tarrafal a Património da Humanidade da UNESCO, numa iniciativa conjunta com Portugal, Guiné-Bissau e Angola, noticiou, segunda-feira, a Lusa.

19/03/2024  Última atualização 10H13
O campo foi criado em 1936 e recebeu os primeiros presos políticos a 29 de Outubro de 1936 © Fotografia por: DR

"Anunciaremos, em breve, o desenrolar deste processo, esperando o envolvimento de Portugal, Guiné e Angola”, os outros países de origem dos presos políticos, disse o ministro da Cultura cabo-verdiano, Abraão Vicente.

"Não nos cabe agora fazer o anúncio”, o projecto está "em amadurecimento”, mas há "uma janela de oportunidade” para que a candidatura seja entregue até 2025, referiu, ontem, na Praia, numa conferência de imprensa com os embaixadores de Portugal e Guiné-Bissau, para anunciar as comemorações dos 50 anos de libertação dos presos políticos do Tarrafal. A ambição da candidatura à Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura já existe há vários anos, mas, até 2022, havia limitações às candidaturas a nível global. Agora, "já há abertura” para se poder avançar "com o dossier técnico”, referiu a presidente do Instituto do Património Cultural (IPC), Ana Samira Baessa.

"Queremos fazê-lo com muita pressa estratégica, porque, a partir de 2028, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) já estabeleceu novas directivas, o que vai alongar muito mais os prazos para a submissão de candidaturas”, disse.

O antigo Campo de Concentração do Tarrafal, hoje um município da Ilha de Santiago, tem sido beneficiado enquanto espaço museológico, de acordo com propostas da UNESCO.

O campo foi criado em 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos a 29 de Outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956. Reabriu em 1962, com o nome de "Campo de Trabalho de Chão Bom”, destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Ao todo, foram presas no "campo da morte lenta” mais de 500 pessoas: 340 antifascistas e 230 anticolonialistas.

Numa lápide evocativa erguida no interior do campo, estão inscritos os nomes de 36 pessoas que morreram no campo: 32 portugueses, dois guineenses e dois angolanos.

Após a sua desactivação, o complexo funcionou como centro de instrução militar, desde 2000 alberga o Museu da Resistência e em 2004 foi classificado Património Cultural Nacional e integra a lista indicativa de Cabo Verde a património da UNESCO.


Lançadas comemorações do 25 de Abril

O Governo cabo-verdiano apresentou, ontem, o programa de comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e da libertação dos presos políticos do Tarrafal, como forma de dizer "não” a qualquer limitação de liberdades no mundo.

"Fazemo-lo também com esta ideia: ‘Tarrafal nunca mais’. A frase que ecoou pelo período revolucionário do 25 de Abril”, em contraste com o que disseram, "tristemente, alguns candidatos nas legislativas (deste mês) em Portugal”, disse Abraão Vicente, ministro da Cultura de Cabo Verde.

"O Tarrafal não pode ser nomeado em nenhuma nova tentativa de trazer o fascismo, o totalitarismo, quer para Portugal, quer para outro território. E cabe-nos a nós, com estas celebrações, encerrar, definitivamente, qualquer devaneio público, de qualquer político”, acrescentou.

Hoje, o Tarrafal é "um espaço de memória, um espaço museológico, um espaço de reflexão e de diálogos, nunca mais um espaço onde a nossa dignidade humana seja posta em causa”, declarou.

Bruno Fialho, presidente do Alternativa Democrática Nacional (ADN), partido português sem representação parlamentar, defendeu, numa entrevista durante a campanha para as eleições legislativas em Portugal, que alguns crimes e figuras deviam ser punidos com penas no Tarrafal. Abraão Vicente falava numa conferência de imprensa, na Praia, ladeado pelos embaixadores de Portugal e da Guiné-Bissau, co-organizadores das comemorações, juntamente com Angola, países de origem dos presos políticos.

Paulo Lourenço, diplomata português, adiantou que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já aceitou o convite de José Maria Neves, Chefe de Estado cabo-verdiano, para estar presente na cerimónia de 1 de Maio, para a qual também disse ter sido convidado o Presidente João Lourenço.

Ibrahima Sanó, embaixador da Guiné-Bissau, disse, ontem, que o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, também já aceitou o convite que lhe foi endereçado.

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