Cultura

Exposição “Kina Muta - Muta Kina” reúne 50 artistas de diferentes disciplinas

Matadi Makola

A exposição “Kina Muta - Muta Kina”, sob curadoria do artista plástico Kabudy Eli, será inaugurada hoje, às 17h00, no Salão Internacional de Exposições do Museu Nacional de História Natural, em Luanda. No total, a exposição reúne 75 obras de 50 artistas da colecção de Álvaro Macieira, que podem ser vistas durante os seis meses que ficará patente, respectivamente pintura, escultura em talha de madeira e em bronze, cerâmica e tapeçaria artística.

22/02/2024  Última atualização 10H20
Exposição de arte vai juntar, no mesmo espaço, 75 obras de meia-centena de artistas, pertencentes à colecção de Álvaro Macieira © Fotografia por: vigas da purificação | edições novembro

Com um acervo de mais de 100 obras adquiridas durante 30 anos, Álvaro Macieira justificou que a escolha propositada dos 50 artistas resulta da vontade desta plêiade celebrar os 50 anos de Independência do país, a ser assinalado no próximo ano. Por outro lado, pretendem, também, celebrar o atelier Kina Muta - Muta Kina, de Álvaro Macieira, que dá nome à exposição de arte.

A exposição traz obras de António Gonga, António Tomás Ana "Etona”, Augusto Ferreira, Ana David "Kiana”, Albino da Conceição, Álvaro Macieira, Benjamim Sabby, Carla Peairo, Camuto, Cláudio Macieira, Dom Sebas Cassule, Domingos Barcas, Grácia Ferreira "Zizi”, Erika Jamece, Fernando de Carvalho "Tozé”, Fineza Teta, Guilherme Mampuya, Horst Poppe, Helena, Helena Justino, Imanni Silva, Jorge Gumbe, Jacinto Coutinho, José Pedro "Tchindje”, Kabudy Eli, Kapela, Kidá, Lino Damião, Luís Damião, Malangatana, Mayembe, Marcos Kabenda, Matondo Alberto, Manuel Ventura, Marcela Costa, Mpanda Vita, Massongi Afonso, Mpambukidi Nlunfidi, Mateus Mário, Márcia Simão, Nelson Paim, Naguib, Paulo Kussy, Paulo Amaral, Patrícia Cardoso, Sozinho Lopes, Toko, VAN, Virgínia Romão e Zan Andrade.

O curador Kabudy Eli sublinhou ser  uma iniciativa de um artista, que teve a vontade  de coleccionar, movido somente pelo amor que nutre pelas artes, reunindo uma representatividade muito grande em termos de nomes.

"Temos aqui obras com temáticas convergentes, que pensam Angola ao longo dos últimos 40 anos, nas quais encontramos o debate e soluções  de várias situações, não só do ponto de vista cultural, mas também económico. Encontramos aqui perspectivas filosóficas, ao nosso modo, da forma e contributo dos artistas para desenvolvimento da sociedade”, observou. 

Kabudy Eli destacou, igualmente, o carácter internacional da exposição, ao congregar obras dos moçambicanos Malangatana e Elias Abdula Naguib, duas referências das artes plásticas no continente africano. O curador espera que os estudantes das escolas de arte, professores e investigadores tenham a possibilidade de conhecer e aprofundar durante seis meses alguns  percursos artísticos, estéticos e  criativos de autores que marcaram e são referências incontornáveis, contribuindo para o desenvolvimento da arte em Angola.

Olho nato para as artes plásticas

Nascido no dia 13 de Maio de 1958, na vila de Sanza-Pombo, na província do Uíge, Álvaro Macieira é jornalista, escritor e consultor cultural.

É membro da União dos Escritores Angolanos (UEA) e da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP). Publicou os livros "Castro Soromenho: Cinco Depoimentos”, "Cantos de Amor” e "Séculos de Amor”. Porém, é como artista plástico que veio a ganhar fama nacional e internacional. Revelou a sua faceta nas artes plásticas em 1998. "De um início de carreira incompreendido por alguns, Álvaro Macieira é actualmente um dos artistas plásticos mais acutilantes no panorama angolano.

A sua frenética produção rompeu barreiras e preconceitos e hoje recebe o merecido reconhecimento da crítica, do grande público e essencialmente dos coleccionadores”, escreveu o artista plástico Benjamim Saby. O artista plástico  Francisco Van-Dúnem "VAN” analisa, num texto de 2009, que "Álvaro Macieira é um pintor raro como é a sua pintura, cheia de sugestões e de combinações, que de imediato irrompeu do Jornalismo para as artes plásticas nos anos 1990, a estrela se deslocando de um ponto da galáxia para o outro”.

Em 2002 ganhou o prémio Ensa-Arte. As obras do artista foram exibidas  em várias capitais do  mundo, com destaque para Washington, Paris, Moscovo, Berlim, Hanôver e Abuja.Com o artista plástico alemão Horst Pope e o angolano Augusto Ferreira fundam, em 2004, o projecto internacional Conexão Cultural. Em oito anos de intercâmbio e diálogo artístico, na Alemanha e em Luanda, com o artista alemão fez várias exposições e pinturas e 108 obras de pequenas e grandes dimensões.

Macieira recordou como o Kinamuta era um espaço frequentado por vários jovens artistas da cena cultural de Luanda, como Benjamim Saby, Lino Damião, Fineza Teta, Erika Jamece e outros. Também frequentavam músicos, como Carlos Lamartine, Maranax e Mamborró. Detalhou que a relação com o artista alemão Horst Pope começa no Kinamuta, garantindo-lhe muita projecção naquele país europeu.

Volvidos mais de 30 anos desde a decisão de abraçar as artes plásticas, Álvaro Macieira é peremptório ao enfatizar que "sempre gostou de arte”.

A sua antiga galeria, baptizada por "Kinamuta/Mutakina” veio a ser um espaço físico significativamente importante na sua relação com os artistas e na sua disposição como produtor e, despretensiosamente, coleccionador, a faceta que agora é tornada pública.

"No final dos anos 1990 e princípios de 2000, eu vivia no Kinamuta, o atelier  que ficava num dos prédios da Avenida de Portugal, sentido Kinaxixi-Mutamba, derivando daí o nome”, explicou. A exposição celebra não apenas o seu "olho nato” para as artes plásticas, como também toda a cumplicidade de sonhos partilhados e vividos a cada pincelada naquele espaço, palco de ensinamento e de início de carreira para muitos jovens artistas da cena cultural angolana.

"Por exemplo, a minha obra Clamor pela Paz foi pintada em 2001, no terraço do prédio. Enquanto eu pintava, recebo uma visita do crítico Adriano Mixinge, que manifestou a vontade de levar a peça a Paris. E assim fez. Em 2002 tivemos paz. Hoje a peça está no nosso Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro”, recordou.

Para lá do culto ao belo, da invocação à fecundidade e pluralidade de estilos, aponta como grande objectivo mostrar a união entre os artistas.

Porém, a exposição da colecção de Álvaro Macieira encerra um fim maior, respectivamente manifestar o contributo dos artistas na consolidação dos 50 anos da Independência Nacional, a ser assinalado no próximo ano.

Álvaro Macieira também traz a público este quinhão da sua colecção particular com o propósito de suscitar um debate sobre a importância de um Museu de Arte Contemporânea, uma estrutura ainda em falta no cenário artístico nacional.

"A colecção foi acontecendo espontaneamente. Nunca teve um plano como tal, foi mero amor pelas artes”, justificou. 

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