A ministra das Finanças chefiou uma delegação angolana que participou, desde segunda-feira passada até domingo, em Washington, nas reuniões de Primeira do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à Rádio Nacional e ao Jornal de Angola, Vera Daves de Sousa fez um balanço positivo das reuniões – oitenta, no total –, sendo que, numa delas, desafiou a Cooperação Financeira Internacional (IFC) a ser mais agressiva e ousada na sua actuação no mercado angolano. O vice-presidente da IFC respondeu prontamente ao desafio, dizendo que até está a contar ter um representante somente focado em Angola e não mais a partilhar atenção com outros países vizinhos na condução local do escritório do IFC. Siga a entrevista.
Kaissara é um poço de revelações quase inesgotável, como a seguir verão ao longo desta conversa, em que aponta os caminhos para um futuro mais consequente da modalidade; avalia o presente das políticas adoptadas sobre a massificação e formação. Mostra-se convicto de que o país pode, sim, continuar a ser a maior potência africana do Hóquei em Patins
Ana Paula Tavares é hoje uma referência incontornável em todo o espaço da Língua Portuguesa, sendo autora de uma vasta obra literária em prosa, poesia e textos científicos. A professora universitária está a ser homenageada, em Portugal, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, cujo programa decorre desde quarta-feira até amanhã, no anfiteatro da instituição que acolhe a exposição homónima “Viva no tempo e no espanto: homenagem a Ana Paula Tavares”.
Quem é Ana Paula Tavares?
Meu
nome é Ana Paula Tavares, sou uma angolana radicada em Lisboa há já algum
tempo, mas continuo com os pés bem assentes na nossa terra. Já agora, aproveito
para saudar o Jornal Cultura, que acompanho, porque os bons amigos me vão
mandando e é uma forma de estar ligada ao que se passa na nossa terra.
A professora já cá está há um bom par de anos. E em termos académicos tem uma formação diversificada, desde a História, Letras e Antropologia. Como é que consegue lidar com estas distintas áreas do saber?
Às
vezes não é fácil, sobretudo quando uma pessoa se dedica activamente numa área
do saber, sem mais tempo para se actualizar ou escrever o resultado de alguma
reflexão sobre aquilo que se vai passando. Mas,
por várias circunstâncias, fui passando por várias áreas disciplinares. E a vantagem é que
isso abre alguns horizontes. No entanto, fiz a minha licenciatura em História,
posteriormente fiz um mestrado em Literatura e, finalmente, o Doutoramento em
Antropologia. Essas disciplinas e áreas de estudos obrigaram-me a repensar no
país, na terra, nas pessoas e no conhecimento de maneira diferente. Muitas
vezes, o facto de poder cruzar várias áreas do saber, dá maiores possibilidades
para pensar e reflectir sobre as coisas. Para além de alargar em muito o marco
teórico que me vai ajudar a formar, por vezes também me perco no meio de tantas
áreas disciplinares. Como sabe, tem surgido muita coisa nova sobre o nosso
continente, que é preciso saber e ler de forma crítica, e nem sempre tantas
áreas disciplinares permitem acompanhar
tudo que se vai fazendo nesses mesmos
domínios, mas trabalhar de forma transdisciplinar é um desafio, e procuro ser coerente com este
mesmo desafio…
Em termos de marcos teóricos, onde se posiciona melhor, na História, Literatura ou Antropologia?
Neste
momento e por razões profissionais, em função das aulas que ministrei ao longo
desses anos aqui na Faculdade de Letras, fui obrigada a actualizar-me em
diversos campos teóricos, que eram só os que eu tinha. Cada aula exige uma
forma meticulosa, cada disciplina tem a sua própria área de investimento. Por
questões de trabalho estive mais ligada por um lado à História do continente
africano e à História de Angola, em particular. No entanto, queria dizer-lhe
que a disciplina de História de Angola foi aberta nesta Faculdade por mim.
Criei o programa com ajuda de um colega especialista em História de Angola e Literaturas.
Dei e convoquei também, de certa maneira, os alunos a reflectirem sobre o
programa que lhes foi proposto e ao mesmo tempo conhecer a nossa literatura,
que é vasta e cheia de propostas. Portanto, estes dois campos de investigação foram aqueles com os quais mais trabalhei nos
últimos anos.
Enquanto pesquisadora das áreas das Literaturas, como é que estamos em termos literários?
Olha,
há coisas que avançaram muito, há conhecimentos que avançaram muito, sobretudo
quanto aos estudos pós-coloniais. O aumento de investimento e o pensamento
crítico permitiram um alargamento das propostas de estudo. O número de autores
estudados aumentou porque antigamente havia um número reduzido de autores que
eram estudados. Hoje, há uma preocupação e interrogação teórica; a crítica
também variou muito, quem escreve, para quem escreve, as vantagens e os limites
de escrever em língua portuguesa, a problemática das línguas nacionais nos
diferentes países, todas estas questões teóricas, práticas e de reflexão
contribuíram para o alargamento do campo de estudo nos últimos tempos.
Este alargamento teórico, a que faz referência, resulta do surgimento das Faculdades de Letras no caso angolano, em particular?
Bem,
no caso angolano penso que sim, no entanto, acompanho da maneira que posso, não
consigo acompanhar tudo que se passa em Angola, mas reconheço que os colegas
que trabalham nas Universidades angolanas fazem um grande esforço, porque
embora tenhamos hoje ajuda da internet, o livro em Angola tornou-se num
instrumento caro, de difícil acesso. Os alunos têm muitas vezes dificuldades em
chegar aos autores, aqueles que produzem
a matéria sobre a qual eles vão reflectir. Mas tenho acompanhado este esforço
que reconheço ser notável, da mesma maneira que também procuro acompanhar o
ensino da História de Angola na nossa terra. Procuro igualmente informar-me
sobre coisas que vão saindo sobre esta matéria, sobretudo artigos muito
interessantes que são escritos, não só por especialistas angolanos, mas também
em grande parte produzidos por especialistas brasileiros.
Na sua opinião, já temos uma crítica literária em Angola, comparável com a sua produção?
Não
tenho conhecimento… Acho que falta uma crítica literária. Nós começámos muito
bem, logo nos anos pós-independência, tivemos críticos literários de pena fina,
muito exigentes, como por exemplo David Mestre, que escreveu a sua visão
angolana sobre os novos escritores que começaram a escrever e a produzir
naquela altura. Acho que os tempos actuais precisavam de mais crítica literária,
uma crítica de malha fina, que permitisse que tudo que vai surgindo passasse
por uma peneira entre a boa literatura, aquela que acabará por ficar e aquela
que é efémera, que pode surgir de uma ou de outra maneira, mas que não vai
sobreviver. No entanto, há algumas coisas boas que tenho lido ultimamente, não
só de gente muito jovem que está a escrever poesia, como romance. Acabo de
tomar conhecimento do trabalho do jovem Israel, que são novidades muito
agradáveis e surpreendentes. A maneira que os jovens que fazem e propõem coisas
ligadas a Slum poetry, ou seja, o verso dito, a performance, me tem
surpreendido de forma muito agradável..
Ainda sentimos a falta de Eugénio Ferreira e Mário Pinto de Andrade, no que diz respeito à crítica literária?
É
verdade, temos essa falta. Temos alguns, outros que fazem um bom trabalho. É
verdade que precisávamos de mais gente a fazer crítica literária em Angola.
Fora de Angola há uma grande produção, há gente que trabalha nos antigos e que,
mesmo sem ter abandonado estes, continua atenta ao que se faz de novo e vai
produzindo trabalho de crítica. Mas acho que em Angola precisamos de mais
crítica literária, que esteja sobretudo escondida nos livros da especialidade,
aquela crítica literária que o jornal pode levar rapidamente ao conhecimento de
um maior número de pessoas. Enquanto que o livro é mais difícil, como lhe
disse, os livros são caros em Angola, as bibliotecas não estão actualizadas.
Por conseguinte, os jovens têm menos acesso à crítica literária. Mas acho que
algumas pessoas, como José Luís Mendonça, continuam não só a fazer a sua
própria produção, como a fazer crítica literária, e alguma de fina pena, de
crivo apertado, o que me agrada.
Enquanto antropóloga, acha que o domínio dos códigos linguísticos facilita a crítica literária?
Eu
tenho muitas limitações do ponto de vista de linguística e do conhecimento das
nossas línguas nacionais, mas sinto que faz falta uma continuação do trabalho
que o Instituto de Línguas Nacionais realizou e avançou muito, na possibilidade
da codificação e normas de algumas línguas nacionais, porque este fenómeno me
preocupa, não só enquanto antropóloga, mas sobretudo enquanto angolana.
Inquieta-me e até mesmo preocupa-me a possibilidade de algumas das nossas
línguas poderem desaparecer, sem que elas possam ser fixadas, gravadas e
recuperadas para serem futuros arquivos e terem a possibilidade de futura
consulta.
O Ministério da Cultura de Angola criou, há já alguns anos, uma equipa multidisciplinar para História da Literatura angolana. A professora fez parte desta iniciativa. Porque é que o referido projecto se perdeu?
Olhe,
eu não sei. A única coisa que lhe posso dizer é que havia uma equipa
multidisciplinar muito grande e que a cada um dos membros da equipa foi
distribuída uma tarefa. No meu caso, trabalhei com o meu colega Cornélio Caley, e com a professora
catedrática Laura Padilha, e ficamos com a "Geração Cultura e Mensagem”. O que
nos cabia foi feito e entregue, o resto não posso dizer, porque eu não estava
na parte da coordenação. Foram consultados todos os números do Cultura e
Mensagem, foi feito um levantamento daqueles anos e foi feito um trabalho sobre
o ensaio. Mas aquilo era para ser uma parte de um enorme livro que desse conta
de toda a literatura angolana, isto é, em termos cronológicos.
Que elementos se podem subtrair da pesquisa que fizeram sobre a Geração da Mensagem?
Na
altura deu-nos muito prazer fazer, porque foi preciso consultar jornais,
revistas, enfim; mesmo que o nosso trabalho tenha desaparecido, há o trabalho
posterior de Irene Guerra Marques e Carlos Ferreira, que é muito bom para os
jovens, onde eles fac-similaram todos os números do Cultura e está disponível
em livro. Era algo que só poderíamos ter acesso indo aos arquivos, à Torre do
Tombo ou à Sociedade de Geografia de Lisboa. Felizmente agora os jovens se
quiserem pegar, já não é preciso, pegam no livro e têm acesso a tudo. Portanto
foi um trabalho notável feito por estes dois investigadores, a professora
Irene Guerra Marque e o poeta Carlos
Ferreira.
Que avaliação faz da produção literária nos países africanos de língua portuguesa?
Felizmente
há boas perspectivas nestes países, temos boas novidades da Guiné-Bissau, país
do qual quase nunca se fala, mas tenho notícias de livros que me vão chegando
às mãos da produção de escritores como
Abdulai Sila e outros escritores, o que me agrada. Cabo Verde continua a
ser um caso excepcional, que muito me agrada porque a produção é contínua,
vasta e diversificada. Felizmente eles têm algumas editoras em Cabo Verde;
editam lá os seus livros. São Tomé terá talvez menos nomes, mas os que têm
continuam a produzir. Acaba de sair um livro novo da grande escritora Conceição
Lima. Angola e Moçambique são os que produzem grandes novidades.
Entre os países africanos de língua portuguesa numa perspectiva da produção literária, qual deles mais se destaca?
Bom! Esta é uma pergunta difícil, mas por questões
profissionais e sobretudo por causa das aulas, tenho pensado muito na situação
de cada um dos países onde se escreve em língua portuguesa. É evidente que há
situações de grande desigualdade, que muitas vezes não só tem a ver com
imperativo da escrita - tenho a certeza que em cada um desses países há jovens
que produzem, mas tem a ver também com todo circuito da publicação, da
existência ou não de editoras e livrarias e sobretudo do preço do livro. Na
minha opinião tem a ver muito mais com as instâncias de consagração, pois o
resultado é pouco conhecido fora daquele circuito onde se fala, e se
apresentam. Porque a publicação não se faz, as livrarias não existem, as
editoras não existem e o livro se tornou objecto caro para cada um dos nossos
países. É verdade que Angola e Moçambique se destacam pelo número de livros
editados e produzidos em relação aos outros países, mas há um movimento
editorial muito curioso de novas vozes a
surgir em Cabo Verde, para o qual é preciso estar atento, só que cada vez mais
nos conhecemos pouco uns aos outros e sabemos pouco do que se passa em cada um
dos nossso países.
Em termos de estilos literários, entre Angola e Moçambique, qual das categorias mais se despontam entre Angola e Moçambique?
Acho
que as duas estão bem representadas. Em Moçambique, ultimamente tem vindo a ser
produzido mais romances, não me estou a referir da qualidade, e Angola tem
produzido mais poesia, embora também haja romancistas a fazer o seu trabalho e
a publicar. Não quero excluir desta afirmação
todos os jovens que de certa maneira voltaram à poesia, à palavra falada
e ao poder dessa palavra falada, estou a falar de todos movimentos da Slam
poetry ou spoken word. Não tem um termo em português que seja elucidativo deste
novo fenómeno que, em meu entender, tardou a chegar a Angola. Eu tinha
conhecimento destes movimentos na África do Sul, na Nigéria e eu perguntava-me porquê que este movimento
não chegava a Angola. Agora acho que chegou e em força: há muitos jovens a
usarem Slam poetry, a chamada poesia dita, que seria recuperada de uma tradição
da oralidade e a servirem-se disso como meio de expressão. Por outro lado,
sabemos muito pouco sobre movimentos que a modernidade permite, pois os jovens
que não publicam em formato de livro, publicam na internet, começando pelos
antigos blogues que hoje já são coisas de velhos, mas passando para outras
instâncias, como whatsapp, facebook, instagram, todas estas plataformas que os
jovens usam. Não temos ainda capacidade para avaliar o impacto que estes
movimentos terão na poesia do futuro, o que eu considero é que a poesia está
viva, tem propostas novas, há uma grande produção que está fora do nosso
controlo de estudiosos, não sabemos bem como nos aproximar desta realidade que
nos escapa quase completamente.
Estes nossos territórios de comunicação, que são as redes sociais, facilitam os jovens por este intermédio, dar azo à sua criatividade e colocar por via da internet as obras no mercado virtual?
Acho
que sim, temos que estar preparados. Por muito que eu seja já da geração do
livro, do livro impresso, gosto do livro em formato físico, que muito gosto do
seu cheiro, por muito que seja desta geração, percebo igualmente que há um
movimento cuja dimensão eu não consigo acompanhar. Os jovens servem-se desta
grande possibilidade que têm nas mãos que são os telemóveis, que permite gravar
e fazer circular de forma mais fechada ou mais aberta toda uma produção que
ainda não consigo avaliar.
Qual é a força que tem a oralidade na criação literária?
Para
mim é muita, é total, sendo eu da geração da escrita, eu aprendi a ler pequena,
fiz a escola formal, fiz todo caminho da escolaridade voltada para escrita. Fui
à procura desta mesma oralidade e de certa maneira submeto a minha escrita às
instâncias da oralidade, isto é,
provérbios, os contos, etc. Há um certo património da oralidade que de
certa maneira regula a minha escrita, não sou capaz de escrever um poema sem ter em conta a memória de um lugar, a
estratégia de sobrevivência de uma série de ensinamentos e de complexidades de
um lugar. Sou fiel a este universo de oralidade. Agora, é evidente que só
consigo expressar-me pela escrita, isto traz em si uma enorme contradição: eu
aproprio-me desta mesma oralidade e submeto-a às regras da escrita, e de
certeza que significa perda para este universo da oralidade, mas não consigo
trabalhar de outra maneira.
"Algumas
das nossas línguas estão ameaçadas sem que tenha havido tempo de as salvar”
Até
que ponto é que são úteis a escrita em línguas nacionais, sobretudo nas
comunidades onde a comunicação em língua portuguesa é limitada?
Eu
tenho uma grande preocupação com a situação das línguas nacionais no nosso
país. Penso que as línguas nacionais perderam terreno, foram se perdendo ao
longo desses anos, porque uma língua que não se usa, é uma língua que está
condenada a morrer, pelo menos algumas das nossas línguas estão ameaçadas sem
que tenha havido tempo de as salvar. Salvar aquilo que se torna
absolutamente necessário, para que mais cedo ou mais tarde pudesse haver chaves
de compreensão dos universos que estas línguas escondem, que elas descodificam
e decifram. Portanto , penso que já devia haver no nosso país programas
escolares que contemplassem o ensino das línguas, a nível generalizado na
escola elementar. O acesso das pessoas às línguas devia ser generalizado,
deveriam existir programas em línguas nacionais para lá daqueles que existem e
até sobreviveram, como aqueles que temos nos noticiários que existem em línguas
nacionais. É necessário um maior investimento na divulgação dessas mesmas
línguas, usar a rádio que ainda é escutada em todo sítio no nosso país, talvez
mais do que a televisão. Usar como forma não só de divulgar, como também de
chamar a atenção das pessoas para o património que estamos em vias de perder.
Falando em património, sabemos que fez o relançamento do livro Sangue de Buganvília, um retrato dos seus lugares de memória em Angola. São crónicas que foram escritas para rádio. Que significado teve para si este relançamento da obra?
É
verdade, o livro tem um conjunto de crónicas que foram feitas para serem lidas.
Inicialmente, foram feitas para serem lidas na rádio, houve uma primeira edição
em Cabo verde, que se esgotou, e não havia cá, tive sempre muito receio de
fazer a reedição. Achava que já havia cumprido a sua função num determinado
momento e que não tinha sobrevivido à dimensão de futuro que separa da sua
primeira vida desta nova vida que tem agora. Olhando bem, as crónicas podem significar o pensamento e o esforço de
trazer para o presente coisas que fazem parte da memória colectiva e eu falo de
memória colectiva de um determinado lugar, uma vez que a nossa terra é feita de
várias memórias colectivas. Falo em trazer para o presente essa mesma memória,
assumo que é uma interpretação muito pessoal de todas estas memórias. É a minha
memória das memórias que me foram ditas
e transmitidas num certo momento da minha vida.
Quanto à questão da tradução literária, até que ponto é que a tradução de uma obra pode retirar a suculência?
Bom,
há até uma frase feita que diz que traduzir é trair. Nós também temos uma
tradição da tradução, ou seja, muitos dos nossos escritores traduziram outros
escritores, lembro de um livro que foi muito importante para uma geração dos
anos 70 e 80. "A Laranja Mecânica”, a primeira tradução em língua portuguesa
deste livro foi feita por Luandino Vieira. Um grande escritor angolano que
traduz o livro da literatura do mundo, Ruy Duarte de Carvalho, fez aquilo que ele chamou de versões. Ele
debruçou-se sobre o património da oralidade de vários universos africanos e
reformulou e de certa maneira poetizou-os, se me permite este neologismo,
portanto, há uma tradição ou uma vontade, um movimento dentro de escritores
angolanos que também tiveram experiências na tradução. O Lopito Feijó tem feito
trabalho para dar a conhecer escritores que são nossos vizinhos, os da
República Democrática do Congo, e da República
do Congo, são nossos vizinhos que nós não os conhecemos. Por outro lado,
a tradução tem outras vertentes, que é dar a conhecer ao mundo traduzindo para
outras línguas escritores angolanos que escrevem em língua portuguesa. Nós
temos alguns autores muito traduzidos e outros que ainda não são traduzidos. Há
muitas vezes a necessidade de se explicar o português angolano, porque não é só
de agora, já tem uma certa tradição, é muito antiga, uma forma angolana de
falar o português. É evidente que este universo da tradução é importante, que
estes autores angolanos à espera de serem traduzidos e que poderiam ser
traduzidos, pelo menos para serem conhecidos para lá das nossas fronteiras,
mesmo que seja dentro do continente africano.
Agora que falou do português angolano, o professor Michel Laban dizia que quando dava as aulas aos seus estudantes de literaturas africanas, dava Luandino Vieira. Os estudantes, a princípio, recebiam isso com muito dificuldade. Depois de superarem, estavam preparados para perceber tudo…
É
verdade, digamos que é o Luandino que inicia essa forma muito particular de
escrever à maneira angolana, de ver o mundo à maneira angolana. Esta situação
era há muito discutida pelos nossos mais antigos, por todos aqueles da geração
da Cultura, da geração da Mensagem, do Vamos Descobrir Angola. Este último
movimento foi todo ele montado em torno de criar uma literatura ou fazer uma
literatura que dissesse Angola da maneira como
era Angola. No entanto, Luandino é um participante ou é um filho destes
movimentos, ele é um iniciador desta maneira tão particular de contar estórias
à maneira angolana, numa linguagem que de certa maneira subverte o português
colonial, o dito português padrão, como se houvesse algum português padrão. Sou
absolutamente contra esta ideia do português padrão, uma vez que a língua é de
quem a usa, ela é de quem a usa e como a usa. A sobrevivência da língua portuguesa no mundo vai dever-se muito mais
àqueles que a usam à sua maneira, como a maneira brasileira, angolana,
moçambicana e todas às outras maneiras que existem de falar português.
Até que ponto é que a crítica literária, feita de forma endógena, facilita a interpretação dos códigos linguísticos dos autores locais?
Claro
que quem conhece a realidade tem mais facilidade em decodificar as afirmações,
todo um conjunto de símbolos que o escritor usa. Quem não está dentro do
contexto local não consegue decodificar. Mas gostava de chamar atenção que por
vezes o universo da cidade de Luanda não é equivalente a Angola. Há muitas
maneiras de dizer Angola, não é só a maneira Luandense de dizer Angola. Talvez
esta seja a mais conhecida, mais activa e dinâmica, mas há muitas maneiras de
dizer Angola, fora de Luanda.
Hoje, aqui na Faculdade de Letras, pelo menos à vista desarmada, há uma maior adesão de estudantes brasileiros, em detrimento dos portugueses, a que se deve?
Olha,
não sei se é verdade porque não tenho os
números, mas é verdade que o Brasil, sobretudo a partir do primeiro governo do
Lula, despertou para o continente africano, na medida em que foi obrigado por
lei a ensinar História de África, literatura africana nas universidades. Antes
disso, alguns especialistas brasileiros já se tinham dedicado ao estudo da
diversidade das literaturas africanas escritas em português. Destaco nomes como
da Laura Cavalcante Padilha, da Carmen Lúcia Tindó Seco, Tânia Macedo, Rita Chaves, que há
muitos anos se dedicaram e fizeram todo percurso académico estudando Angola ou
Moçambique, Guiné e Cabo Verde, os seus estudos e investigação. Na Faculdade de
Letras, não diria que há uma maioria assim evidente de estudantes brasileiros a
procurar, pelo menos na licenciatura, os estudos africanos. É verdade que ao
nível da pós-graduação há uma grande procura, por vezes a resposta não é tão
eficaz, mas que há uma grande procura,
há.
Por via das literaturas, também se pode chegar aos estudos africanos?
Sim,
porque o curso de estudos africanos é reestruturado de maneira a responder a
várias dessas perguntas. Tem uma componente histórica grande, virada para o
estudo da história do continente africano, mas tem uma vertente da literatura.
A literatura e os estudos literários antecederam inclusive a criação dos
estudos africanos, primeiro existiu uma cadeira de introdução às literaturas
africanas, ainda no tempo do Emmanuel Ferreira, só depois se partiu para um
alargamento dos estudos africanos nas diferentes áreas.
Hoje, os especialistas em literaturas fazem por concorrer com antropologia, na medida em que muitos especialistas acabam por ficar ligados aos estudos culturais?
Não,
eu não aceitaria isso de forma pacífica, até porque julgo que os professores
que existem, cujo trabalho conheço, têm o cuidado de alertar e criar a
consciência crítica do que Hountondji nos propõe, o que é isso de estudar
estudos africanos? Como estudar estudos africanos, há uma grande consciência
crítica de que não se pode começar uma coisa e depois resvalar para o campo de
etnografia ou seja, todas as ciências
são autónomas, umas mais do que as outras, embora no seu conjunto, podemos
sempre beber umas das outras. É bom saber que estes campos se contaminem, se
enriqueçam, as boas intenções são essas,
é esta consciência crítica para não cair nos mesmos erros do passado.
Cláudio Fortuna |
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LoginEm entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, fez a radiografia do sector, dando ênfase aos avanços registados em 22 anos de paz. Neste período, houve aumento do número de camas hospitalares, de 13 mil para 41.807, e da rede de serviços de saúde, que tem, actualmente, 3.342 unidades sanitárias, das quais, 19 hospitais centrais e 34 de especialidade. Sobre a realização de transplantes de células, tecidos e órgãos humanos, a ministra disse que, com a inauguração de novas infra-estruturas sanitárias e a formação de equipas multidisciplinares, o país está mais próximo de começar a realizar esses procedimentos
Assume-se como uma jornalista comprometida com o rigor que a profissão exige. Hariana Verás, angolana residente nos Estados Unidos da América há mais de 20 anos, afirma, em exclusivo ao Jornal de Angola, que os homens devem apoiar as mulheres e reconhecer que juntos são mais fortes e capazes de construir uma sociedade equitativa e próspera. A jornalista fala da paixão pela profissão e da sua inspiração para promover as boas causas do Estado angolano, em particular, e de África, em geral.
Por ocasião do Dia Nacional da Juventude, que se assinala hoje, o Jornal de Angola entrevistou o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Isaías Kalunga, que aconselha os jovens a apostarem no empreendedorismo, como resposta ao desemprego, que continua a ser uma das maiores preocupações da juventude angolana.
No discurso directo é fácil de ser compreendida. Sem rodeios, chama as coisas pelos nomes e cheia de lições para partilhar com as diferentes áreas e classes profissionais. Filomena Oliveira fala na entrevista que concedeu ao Jornal de Angola em Malanje sobre a Feira Agro-industrial, mas muito mais da necessidade de os organismos compreenderem que só interdependentes se chegará muito mais rápido aos objectivos.
Pelo menos 21 pessoas morreram na sequência de um naufrágio que ocorreu no Rio Lufira, na zona sudeste da República Democrática do Congo (RDC), tendo 11 dos passageiros conseguido salvar-se, noticia hoje a agência espanhola EFE.
O Festival Internacional de Jazz, agendado para decorrer de 30 deste mês a 1 de Maio, na Baía de Luanda, tem já confirmada a participação de 40 músicos, entre nacionais e estrangeiros, e o regresso da exposição de artes visuais com obras de 23 artistas plásticos, anunciou, sexta-feira, em conferência de imprensa, no Centro de Imprensa da Presidência da República, CIPRA, o porta-voz da Bienal de Luanda, Neto Júnior.
A judoca angolana Maria Niangi, da categoria dos -70 kg, consegui o passe de acesso aos Jogos Olímpicos de Verão, Paris'2024, ao conquistar, sexta-feira, a medalha de ouro no Campeonato Africano de Judo que decorre na Argélia.
A representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Angola, Denise António, destacou, sexta-feira, em Luanda, a importância do Governo angolano criar um ambiente propício para a atracção de mais investidores no domínio das energias renováveis.
O artista plástico, João Cassanda, com a obra “Mumuíla Feliz”, e o escultor Virgílio Pinheiro, com a escultura “Piéta Angolana”, são os vencedores da 17.ª edição do Grande Prémio ENSA-Arte 2024, tendo arrebatado uma estatueta e um cheque no valor de seis milhões de kwanzas.
Nascido Francis Nwia-Kofi Ngonloma, no dia 21 de Setembro de 1909 ou 1912, como atestam alguns documentos, o pan-africanista, primeiro Primeiro-Ministro e, igualmente, primeiro Presidente do Ghana, mudou a sua identidade para Nkwame Nkrumah, em 1945, com alguma controvérsia envolvendo o ano de nascimento e o nome adoptado.