Neste mês dedicado à juventude, propusemo-nos trazer, à ribalta, parte da história de vida de mais um jovem angolano, que, fruto da sua determinação e resiliência, construiu um percurso empresarial digno de respeito, podendo ser, por isso, um exemplo a seguir para quem pretender trilhar os mesmos caminhos.
Em quase toda parte da cidade de Luanda, bem como em outras cidades de Angola, é comum ver mototáxis circulando. Em busca de melhores condições de vida, Augusto Kalunga viu-se obrigado a se tornar um mototaxista, superando o preconceito de familiares e amigos para garantir o sustento da sua família e cobrir outras necessidades.
No último ano, a inteligência artificial deixou de ser apenas uma peça de ficção científica ou uma ferramenta restrita aos gigantes da tecnologia e caiu no domínio público.
Na verdade, a inteligência artificial já estava a ser usada no dia a dia das pessoas há anos, mas nem sempre essas tecnologias eram rotuladas com esse nome. As buscas por termos no Google ou assistentes de voz como a Siri são exemplos de inteligência artificial que estão a ser usadas pelo público há muitos anos.
Mas o mundo começou a abrir os olhos para a inteligência artificial a partir de 30 de Novembro de 2022, com o lançamento do ChatGPT e as suas habilidades quase "humanas" de realizar tarefas. O ChatGPT consegue redigir artigos em qualquer formato, como cartas, relatórios ou até mesmo poemas, responder a perguntas complexas ou resumir o conteúdo de determinados textos.
Outras ferramentas que usam a mesma tecnologia conseguem gerar imagens ou sons novos a partir de ordens expressas dos usuários.
Infância
da inteligência artificial
Por mais impressionante que seja o ChatGPT e os seus concorrentes que chegaram ao mercado desde então, como o Gemini do Google e o Copilot da Microsoft, quem trabalha a desenvolver inteligência artificial diz que a Humanidade está apenas na infância desta tecnologia.
Até agora, todos esses sistemas que citamos são exemplos de uma mesma categoria conhecida como inteligência artificial "estreita" ou "fraca". Os computadores conseguem "imitar" o comportamento dos humanos para resolver problemas específicos, como gerar um texto ou analisar grandes volumes de dados.
Mas o próximo passo das empresas de tecnologia e cientistas da computação é mais ambicioso.
Existe uma corrida para se alcançar o que está a ser chamado de Inteligência Artificial Geral (IAG), uma nova geração da tecnologia que virou uma espécie de "Santo Graal” (cálice sagrado, que supostamente tem poderes mágicos) da indústria.
IAG
aproxima ainda mais os computadores
dos humanos
A Inteligência Artificial Geral ainda é uma teoria. Na prática, ela não existe actualmente.
A tecnologia existente, hoje, permite que computadores realizem tarefas específicas, dirijam um carro, joguem jogos complexos ou respondam a perguntas elaboradas.
A Inteligência Artificial Geral aproxima ainda mais os computadores dos humanos, com uma capacidade de usar o conhecimento de forma mais abstracta.
"Temos muita dificuldade de falar sobre essa Inteligência Artificial Geral, porque ainda não conseguimos nem definir exactamente o que é inteligência. A inteligência artificial seria comparável à humana, mas as máquinas já superam os humanos em muitas actividades", disse Esther Luna Colombini, professora do Instituto de Computação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, Brasil).
"Elas fazem cálculos muito complexos em tempo recorde, mas não são necessariamente mais inteligentes. Ao mesmo tempo, elas não têm capacidade para fazer coisas que para nós parecem triviais, como reconhecer a face de uma pessoa ou ser capaz de pegar um conceito que aprendeu e levar isso para outro cenário."
Habilidades
mais sofisticadas
Essas habilidades mais sofisticadas são justamente o que cientistas da área estão a tentar aperfeiçoar.
"A IA Geral vai possuir uma capacidade humana de transformar o conhecimento de uma área para outra", explicou Ana Cristina Bichara, professora de Computação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Brasil). "Isso é uma capacidade humana. Por exemplo, um médico que entenda de uma certa especialidade é capaz de usar esses conhecimentos para resolver outro problema médico."
Além disso, a Inteligência Artificial Geral vai ter uma outra habilidade tipicamente humana: a de entender o que ela ainda não entende e buscar maneiras de se aprofundar nessas lacunas.
"Dependendo de como enquadro o problema, posso achar uma solução ou não. Se eu reenquadrar o problema, posso achar soluções inovadoras em que não tinha nem pensado”, sublinhou.
Essa capacidade de abstração do pensamento permitiria que a Inteligência Artificial Geral realizasse tarefas que hoje são impossíveis, tanto para humanos como para computadores, como encontrar diagnósticos e planos de tratamento específicos para pacientes a partir da análise de dados médicos. Ou descobrir formas de atacar o problema das mudanças climáticas, também a partir de análises aprofundadas sobre dados já disponíveis hoje.
Diante de um problema científico, a actual inteligência "estreita" só é capaz de realizar experiências e testar hipóteses de acordo com ideias elaboradas por humanos. Caso houvesse a inteligência artificial geral, que se pretende criar, a própria máquina seria capaz de elaborar hipóteses, algo impensável nos dias actuais.
Como
chegar lá?
Um dos grandes problemas de se atingir o desejado "Santo Graal” da Inteligência Artificial Geral é que não existe ainda clareza sobre qual vai ser o princípio tecnológico que vai permitir que uma máquina tenha um grau de abstração parecido com o dos humanos.
A actual tecnologia, a inteligência artificial estreita, é baseada num modelo matemático de redes neurais, que segue princípios matemáticos. Algumas das teorias que sugeriam que seria possível chegar a essa tecnologia são bem antigas, ainda dos anos 1950. Mas realizar uma tarefa complexa exigia um nível de processamento de dados que as máquinas só começaram a ter recentemente.
Por exemplo, digamos que se tente fazer um computador reconhecer dígitos escritos à mão por humanos, de 0 a 9. Essa capacidade é banal para uma pessoa, mas razoavelmente complexa para uma máquina.
O processo das redes neurais, que permite que uma máquina faça isso, é separado em diferentes camadas.
Na primeira camada (chamada de "input layer"), é colocada uma imagem do dígito escrito à mão. Na última camada (a "output layer"), coloca-se o dígito correcto, o número que queremos que o computador produza como resposta.
Entre as duas, há diversas camadas ocultas ("hidden layers") que fazem todo o trabalho. Aqui, a imagem é dividida em pequenas partes e cada uma delas é descrita em termos matemáticos. Em cada uma das camadas ocultas, essas partes vão ser estudadas e comparadas com o número final desejado e aprimoradas.
Por exemplo, um dígito "1" costuma ser escrito com um rabisco vertical longo. Ao identificar rabiscos assim, o computador vai "aprendendo" que rabiscos verticais longos provavelmente se referem ao número "1". E ele "aprende" as características de todos os números, baseados nessas pequenas partes.
Essa tarefa é repetida diversas vezes, e, a cada erro, o modelo matemático usado pelo computador vai ser corrigido, até atingir uma eficiência grande.
É esse aprendizado "profundo" que faz com que uma máquina consiga realizar tarefas que parecem humanas.
E no caso da Inteligência Artificial Geral?
No caso da Inteligência Artificial Geral, não existe sequer um princípio teórico bem definido.
Os cientistas estão a testar diferentes ideias que permitiriam que as máquinas estimulassem comportamentos humanos bem mais complexos do que apenas a lógica, como criatividade, percepção e aprendizado.
Alguns acreditam que seria possível alcançar essa tecnologia desenvolvendo ainda mais as actuais redes neurais artificiais, com maior sofisticação dos modelos e maior capacidade de processamento das máquinas. No exemplo anterior, isso seria alcançado aumentando o número de camadas na rede neural.
Mas alguns dizem que isso, por si só, não seria suficiente para se dar um salto tecnológico dessa magnitude no campo da inteligência artificial. Seria preciso, por exemplo, construir modelos e computadores que se assemelham mais com os humanos na forma como percebem o mundo ao seu redor e fazem conexões entre os objectos.
BBC News
Competição entre gigantes da tecnologia
As grandes empresas de tecnologia, Google, Meta, Microsoft e Amazon, além de diversas outras startups, estão numa corrida bilionária para atingir o "Santo Graal" da computação.
Por enquanto, não existe sequer uma perspectiva de quando a IAG vai ser criada. Mas há pessoas preocupadas com o potencial destrutivo que pode vir a ter.
Ian Hogwarth é director de uma fundação recém-criada pelo Governo britânico, para pesquisar a inteligência artificial. Num artigo publicado, no ano passado, no jornal Financial Times, ele alertou que a Inteligência Artificial Geral seria uma espécie de "Deus em forma de inteligência artificial”, por causa dos seus poderes quase ilimitados.
"Recentemente, a competição entre algumas empresas para criar uma IA semelhante a Deus se acelerou muito. Elas ainda não sabem como perseguir esse objectivo com segurança e não estão a ser supervisionadas. Elas estão a correr em direcção à linha de chegada sem entender o que pode estar do outro lado”, alertou o responsável da fundação.
A preocupação é que sistemas de inteligência artificial como esses possam causar grandes danos à Humanidade, seja por serem totalmente imprevisíveis ou por poderem ser desenvolvidos por agentes com más intenções. Preocupações semelhantes estão por trás de um pedido feito, no ano passado, por diversas personalidades do mundo da tecnologia, como Elon Musk e Steve Wozniak, para que pesquisas sobre IA sejam interrompidas por seis meses.
Fazer
do jeito certo
A OpenAI, empresa que criou o ChatGPT, ressalta, na página sobre o seu projecto de Inteligência Artificial Geral, os perigos que existem na tecnologia.
"A IAG também apresentaria sérios riscos de uso indevido, acidentes drásticos e perturbações sociais. Dado que a vantagem da IAG é tão grande, não acreditamos que seja possível ou desejável que a sociedade interrompa o seu desenvolvimento para sempre. Em vez disso, a sociedade e os desenvolvedores precisam de descobrir como fazer do jeito certo”, concluiu.
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