Opinião

O último a rir

O pouco que vai do corrente ano tem sido fértil em acontecimentos que podem deixar antever períodos mais ou menos tensos até à realização das próximas eleições gerais, em 2022. De repente, parece que se esqueceu que estamos em meio de uma pandemia que acentuou a crise económica e financeira que a antecedeu e que trouxe consigo uma crescente carência social que não está a poupar ninguém.

21/02/2021  Última atualização 10H23
Nem mesmo o facto da existência de vacinas para prevenir a disseminação da peste, que se espera venham a chegar ao nosso país a todo o momento e cujo programa deveria merecer a atenção e discussão dos diversos agentes, consegue baixar a tensão política que vem subindo, perigosamente, nestes dois primeiros meses.

Discutir ou questionar qual ou quais as vacinas que serão administradas, como, a quem prioritariamente (não imitando o mau exemplo da Guiné Equatorial, país onde os governantes passaram para a frente) e quando se estima obter a imunização geral; o que está previsto para o relançamento da economia pós-pandemia? Parecem não ser assuntos  que interessem a certos políticos, mais preocupados com a tomada do poder a qualquer preço.

As eleições só devem acontecer em 2022, mas há quem queira alterar as regras a meio do jogo e tem feito tudo para ver se será possível uma solução antes que não passe pela vontade popular. Desde manifestações sem razão aparente, à destruição dos bens públicos e desrespeito dos símbolos e autoridades, até a motins, campanhas de desinformação e alianças espúrias, que se podem vir a revelar contraproducentes.

O mal não parece estar no facto do MPLA ser a força política no poder desde a Independência. Isso, além de ser uma verdade incontestável, decorre da soberania do voto e da vontade  da maioria dos angolanos que impediram, com a sua vida e sangue, a pretendida divisão do país. Esse é apenas um pretexto para justificar a tal alternância por que se batem para concretizar o seu sonho de vingança e ambição de se apoderar, descaradamente, das riquezas do país, talvez inspirados na acumulação primitiva de capital que seguiram e também beneficiaram.

Aqui chegados, vemos que a grande barreira nos seus propósitos está na campanha contra a corrupção e a impunidade, lançada pelo próprio MPLA, cônscio de que poderia ser bastante atingido, e encabeçada pelo Presidente João Lourenço. Por isso, buscam todos os meios para não apenas beliscar a imagem do Presidente da República, seus familiares e colaboradores, como para questionarem e, preferencialmente, travarem a cruzada  contra a corrupção, no que contam com apoios de desafectos de ontem, que estão a ver as riquezas  construídas na base do descaminho do erário e da ilicitude serem recuperadas pelo Estado.

É esta aliança que tem estado na base de campanhas de desinformação no estrangeiro contra o Estado e os seus dirigentes, maculando-lhes a imagem para inibir prováveis investimentos estrangeiros, enquanto, internamente, procuram criar o caos, o pânico e a desordem social, condicionantes do bom ambiente de negócios.

E como a ocasião faz o ladrão, os  aspirantes saltam logo das tocas para reproduzir as suas  encomendas, com os mais duros e incendiários discursos de condenação, pouco se importando com a veracidade dos factos: o importante é agitar as águas e acoalhar o combate contra a corrupção, socorrendo-se de todos os episódios que lhes possam dar palco.

Foi assim com os  acontecimentos na região diamantífera de Cafunfo, cujas mortes se lamentam, onde o "ouvi dizer” deu lugar a certezas com listas fantasmagóricas, inflamadas com cenas provocadas para chamar a atenção, como um pretenso relatório de uma consultora de vão de escadas que serviu na perfeição para atingir a honra do Presidente da República, procurando coagi-lo a abandonar a política que visa tornar Angola num país normal e não mais a "república das bananas”, onde uma selecta casta sequestrou o Estado e fez e desfez a seu bel-prazer, privando a maioria da satisfação das necessidades básicas.

Depois de sacramentarem publicamente a  conjura, por certo que os conspiradores  estarão a ter noites de insónias, ao tomar conhecimento que, afinal, o que vinha no tal relatório não passava de uma encomenda mal elaborada e que, concretamente, os Estados Unidos da América estão cada vez mais  engajados no apoio à cruzada contra a corrupção, incentivando até a sociedade civil a envolver-se mais nela,  na boa governação e na diversificação  dos seus investimentos em Angola, além do petróleo, como aconteceu recentemente nas telecomunicações. 

É mais do que  evidente que se está num período pré-eleitoral e que as movimentações nos bastidores apontam claramente nesse sentido, com as mudanças em algumas forças políticas e o regresso da tese do "todos contra um”, já ensaiada em outras ocasiões, mas que, na prática, se tem mostrado inviável, tal a ambição com que alguns se atiram ao assalto ao poder.

É uma lapalissada dizer que em política não vale tudo, mas  o momento aconselha a que se faça recordar isso aos nossos políticos, porque há um país que precisa de soluções para os seus imensos problemas, que não passam ou aguardam apenas pela realização de eleições.

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