Opinião

Os nossos mais velhos

A terceira idade, para os que lá chegam e para pessoas próximas, constitui um ganho e um activo nem sempre devidamente aproveitado atendendo à experiência de vida, ensinamentos e conselhos que serviriam para as gerações mais novas.

15/01/2021  Última atualização 08H25
Esta realidade, muitas vezes minimizada e fomentada  sob a falsa ideia de se associar a velhice ao descartável ou desprezível, estende-se um pouco por toda a sociedade, onde os nossos mais velhos, as "bibliotecas vivas” da nossa sociedade e as nossas referências, em muitos casos, se sentem pouco valorizados. 

Na verdade, trata-se de um desafio, a contínua valorização e dignificação do papel das pessoas de terceira idade, um pressuposto vital para a continuidade da vida em comunidade, fundada na oportuna e correcta transmissão de testemunho de geração para geração. Com a reabilitação completa do Beiral, lar de assistência à pessoa idosa, localizado no Distrito Urbano do Rangel, o Executivo envia um sinal claro que, no quadro dos esforços para a construção de uma sociedade solidária, fraterna e justa, tudo faz para que os nossos mais velhos não fiquem para trás. A iniciativa de reabilitação, capitaneada pelo malogrado governador da província de Luanda, Luther Rescova, constitui um exemplo  de que, para a melhoria dos lares de acolhimento e dignificação  das pessoas de terceira idade, deve ser replicado por todo o país, ali onde existam espaços vocacionados para o fim que aqui se descreve. 

Mas, insistimos, trata-se de um desafio de toda a sociedade para que as pessoas idosas se sintam como parte activa, no papel que lhes cabe, da nossa sociedade. É hora de, a partir de cada família, olharmos para os nossos mais velhos de maneira diferente na medida em que precisamos todos de preservar as nossas referências, as "fontes de aconselhamento” e os pilares em que assentam a caminhada dos mais novos à terceira idade. Sabemos todos como, em muitos casos, as pessoas idosas têm sido tratadas nos agregados familiares em que se encontram e quantos não acabaram expulsos pelos descendentes, mesmo sendo proprietários do espaço em que coabitavam com os familiares. É evidente que grande parte da crise de valores, que grassa hoje pela sociedade angolana, também resulta da descontinuidade, em determinadas alturas, das relações  geracionais envolvendo os mais velhos e mais novos. Destes últimos, cresce a percepção de que podem prescindir dos ensinamentos  e conselhos das gerações mais velhas, realidade que acaba por causar a fractura, muitas vezes difícil de repor  o que seria um papel mais interventivo e influenciador dos mais velhos. 

Esperemos que com gestos como o que sucedeu com o Beiral de Luanda, cuja reabilitação  serve também como uma mensagem à sociedade no sentido de que temos todos responsabilidades para com os nossos mais velhos. "Os cidadãos idosos têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem ou superem o isolamento e a marginalização social”, diz a Constituição da República, no número 1 do artigo 82º , realidade que temos todos o dever de tornar exequível e efectiva para bem da vida dos nossos mais velhos. 

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