A ministra das Finanças chefiou uma delegação angolana que participou, desde segunda-feira passada até domingo, em Washington, nas reuniões de Primeira do Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI). Em entrevista à Rádio Nacional e ao Jornal de Angola, Vera Daves de Sousa fez um balanço positivo das reuniões – oitenta, no total –, sendo que, numa delas, desafiou a Cooperação Financeira Internacional (IFC) a ser mais agressiva e ousada na sua actuação no mercado angolano. O vice-presidente da IFC respondeu prontamente ao desafio, dizendo que até está a contar ter um representante somente focado em Angola e não mais a partilhar atenção com outros países vizinhos na condução local do escritório do IFC. Siga a entrevista.
Kaissara é um poço de revelações quase inesgotável, como a seguir verão ao longo desta conversa, em que aponta os caminhos para um futuro mais consequente da modalidade; avalia o presente das políticas adoptadas sobre a massificação e formação. Mostra-se convicto de que o país pode, sim, continuar a ser a maior potência africana do Hóquei em Patins
Apresentamos mais uma conversa, com muitas histórias,com angolanos que saíram do desconhecido para conquistar um lugar ao sol. Antero Moisés Ekuikui e Guilherme dos Anjos Maurício “Mito” são os componentes do Duo Canhoto. Ambos são antigos militares das extintas Tropas de Guarda Fronteira de Angola (TGFA).
Jornal de Angola (JA) - Quem são os integrantes do Duo Canhoto?
Ekuikui - Antero Moisés
Ekuikui, nascido no Huambo, município do Mungo, na aldeia de Catchau, comuna do
Candengo, em 1962.
Mito - Sou Guilherme dos
Anjos Maurício "Mito”, do Cuanza-Sul, município do Cazengo. Muitos dizem que
nasci em Bolongongo, que é uma zona bonita, onde já estive muitas vezes.
JA - Quando olhamos para o Duo Canhoto a imagem que surge é a da unidade nacional...
Mito - É o que se faz sentir
e carregamos isto até hoje. Aliás, é um dos eixos que nos conduzem...
JA - Vocês são fruto da guerra civil e trazem um lado pouco analisado da guerra, que é o de ter permitido a unidade nacional...
Ekuikui - Bem dito. Eu diria
que somos o fruto da graça na desgraça, porque dentro de uma desgraça há sempre
uma graça. E da graça da desgraça que
foi a guerra surge o Duo Canhoto. Acho que se não fosse a guerra não teríamos
existido, não é? Nós somos este fruto.
JA - Ekuikui traz aqui um pouco de filosofia umbundu...
Ekuikui - Penso que sim,
porque bebi muito dos meus avôs na minha infância e os meus pais foram
professores. Foi o terceiro irmão do meu pai (não tio), com quem eu cresci, que
me ensinou este provérbio em umbundu: "é kohali ku uolo”, que significa que em
qualquer sofrimento há sempre um momento de graça. Então, na palavra
encontramos dez graças numa desgraça.
JA - É verdade que pertence à família real?
Ekuikui – Sim, eu faço parte
da família do Rei Ekuikui II do Bailundo, mas nasci no Mungo, que fica a 65
quilómetros. A minha família paterna vem essencialmente do Bailundo.
JA - Como foram os vossos primeiros contactos com a música?
Ekuikui - É uma pergunta pertinente. Nasci numa família de músicos. O meu pai foi um excelente instrumentista, tocava piano, flauta, gaita e saxofone, e também fabricava flautas de bambu. E a minha mãe era corista. Eles eram primos e foram formados na Missão do Dondi. Portanto, nasci no meio da música. Tínhamos o piano em casa,a minha mãe cantava, mas a guitarra só surgiu um ano depois da morte do meu pai, em 1977. Os caçulas da minha mãe e do meu pai tocavam guitarra e eles influenciaram-me. Mas eu, por ser canhoto, desencorajavam-me e nem me permitiram a aprendizagem. Por pensar nesse passado, actualmente estou a fabricar a minha guitarra de lata de um litro e outra de cinco litros, para mostrar de onde viemos e talvez as crianças possam ficar estimuladas à criatividade.
Mito - Olha que há coisas em
que nós temos coincidências, não apenas por sermos canhotos, mas também em relação aos nossos familiares. Eu sou
cantor porque a minha mãe era cantora e também pertencia ao coro. Tenho um
irmão que me influenciou a tocar guitarra, o Luís Pimentel. Com ele fui
aprendendo algumas técnicas, mas não foi fácil. Ele não admitia que eu tocasse
na guitarra, mas quando ele saísse ou se distraísse eu aproveitava e imaginava
mais ou menos como tocava, sendo ele destro, e depois adaptava. Eu digo que a
minha aprendizagem teve duas fases, com o meu irmão e depois com este mestre, o
Ekuikui.
JA - Lembram-se das primeiras violas?
Ekuikui - Sim, eu aprendi a tocar numa guitarra de lata de azeite doce e,depois de ter aprendido o básico,então o meu tio arranjou-me uma de lata de cinco litros. Muito depois destas é que saltei para as guitarras modernas, mas só em 1978 ou 1979. Eu tive sorte porque fazíamos parte da JMPLA e no Bailundo beneficiámos das primeiras guitarras que nos foram oferecidas, porque tínhamos um pequeno grupo. E aí comecei a desenvolver melhor. Depois fui rusgado na sala de aulas para a tropa, venho parar em Luanda e o que trazia do Huambo serviu para dar continuidade ao que fazemos hoje.
Mito - Nunca me esqueço da
minha primeira guitarra, que me foi dada por um funcionário da Cultura, o
senhor Santos Cardoso. Ele era director do espaço onde está hoje o Centro
Cultural Njinga Mbande. Ele ficou entusiasmado quando me viu a tocar com uma
guitarra em péssimas condiçõese depois fez uma requisiçãopara enviarem dez
guitarras de Cuba, das quais uma foi para mim.
JA - Quando é que sentiram que a parceria entre os dois colegas militares poderia ser uma coisa séria?
Ekuikui - Penso que desde a
primeira aparição pública, quando nos denominaram Duo Canhoto, no Namibe,
começou a surgir a responsabilidade e aquilo que tocou no preâmbulo, a unidade
nacional, primávamos muito pelo lema "Um
Só Povo, Uma Só Nação”. Começamos a fazer das tripas coração para "criarmos com
os olhos secos” e para que este dueto fosse o mais distante possível. Quando
passamos à disponibilidade em 1995 e
ganhamos o Festival Nacional de Trova da
Rádio Nacional, aí entramos com maior responsabilidade,e depois veio o Prémio
Liceu Vieira Dias.
Como trovadores
"aquecíamos as fogueiras do combatente"
JA - Como foi que vocês se
encontraram?
Mito - Eu antes era atleta, pertencia ao Grupo Desportivo dos Dínamos, na modalidade de atletismo. E quando houve a oportunidade de ser mancebo, entrei para a tropa como desportista, mas com o tempo inverti e fui para a Cultura. É assim que integrei o "Colectivo de Artes 26 de Agosto”, onde encontro o Ekuikui, que pertencia a um grupo musical, e depois apareço nas fogueiras dos combatentes e revelei-me como trovador.
Ekuikui – Conhecemo-nos
entre 1982 e 1983. Eu entrei no agrupamento como baixista mas,
independentemente deste instrumento, eu era trovador. Depois o Guilherme e os
colegas puxaram-me para a trova. Como o agrupamento não foi muito mais além, os
colegas que repararam que éramos esquerdinos sugeriram para nós o nome Duo Canhoto.
O nosso primeiro concerto ao vivo foi em 1985, no Namibe, porque antes apenas
actuávamos nas fogueiras dos combatentes em unidades militares, nunca para
outra plateia.
JA - Estamos a falar dos festivais militares da canção política?
Mito - É importante falarmos das actividades que existiam,que o Ministério da Defesa fazia com as unidade militares e eram chamados Festivais de Trova. Foi aí que apareceram Zé Kafala, Moisés Kafala, Zé Fixe, Manuel Corado, Sabino Henda, Gabriel Tchiema e tantos outros.
Ekuikui - Temos de realçar
que as Direcções Políticas militares eram movimentos muito dinâmicos e que cada
uma das unidades tinha sempre agrupamentos musicais e programas culturais. Nós
fazíamos visitas aos hospitais, cadeias e havia convergência de vários grupos
nos festivais anuais de trova, dança, teatro e outras actividades que
facilitavam esse cruzamento. Por exemplo, eu fiz parte do primeiro Festival
Nacional de Trovadores da Segurança de Estado, que aconteceu de 15 a 17 de
Outubro de 1985, em Cabinda. Dentre os participantes estavam Jacinto Tchipa,
Brandão Hamalata, que foi uma das descobertas, e outros, que tiveram o suporte
do agrupamento "26 de Agosto”.
JA - Como entram na Brigada Manguxi?
Mito – Lembro-me que num dos
últimos festivais,que aconteceu no Lubango, me encontro com o Moisés Kafala,
que tinha sido membro do júri nesta
edição. Quem venceu foi um concorrente de Benguela, não me lembro do nome, mas
do segundo classificado sim, foi o Gabriel Tchiema. Eu não fui como concorrente, porque não pertencia ao
Ministério da Defesa, mas sim ao da Segurança de Estado. Depois Moisés
Kafala convida-me para pertencer à
Brigada Manguxi, mas eu disse que trabalhava com um parceiro que só não actuou
porque estava numa missão e foi assim que depois passamos para a Brigada
Manguxi.
JA - Estamos a falar de uma fase importante da trova, mas este movimento não acontecia apenas nas hostes militares.
Mito - É verdade. Aliás,
foram pessoas não militares que muito nos incentivaram. Falo do Beto Gourgel,
Tonito Fortunato, Waldemar Bastos, Rui Mingas, Filipe Mukenga, o Zeca Sá, o
nosso kota e amigo escritor Manuel Rui Monteiro, o kota Zé Viola, assim como o
Zé Fixe e o Diabick, que também foram do nosso movimento, que estava ligado à
poesia. No Lubango estavam o Acácio e o Namanga, em Benguela o Trio Viqueia.
JA - Por isso a vossa relação com a União dos Escritores Angolanos?
Ekuikui – Olha, havia sempre
as feiras do livro que proporcionavam este casamento de leitores de um lado e
trovadores do outro. Os músicos divulgavam muitos poemas de escritores, o que
nos incentivou até agora. Nós fizemos parte dos lançamentos das obras de uma
boa parte dos escritores nacionais.
JA - Os tempos são diferentes, mas estamos também para fazer história. Falem de coisas inusitadas que aconteciam nas digressões militares...
Ekuikui - Uma das coisas
muito engraçadas foi durante uma das nossas passagens por Benguela. Tocámos no
Nimas 500, numa altura em que nós só usávamos farda. Aí conhecemos o pai dos
Impactus 4, foi ele que nos convidou para este espectáculo. Tivemos de arranjar
roupa civil, mas não conseguimos sapatos. Depois do concerto, apareceu um fã
que disse ter apreciado o concerto e depois foi sincero connosco: "Kotas, vão
ter de trabalhar muito nos pés”. Subir ao palco com botas militares e roupa
civil, este é um dos factos engraçados que marcaram a nossa vida.
Mito - Assim como depois de
tocar muito tempo durante a noite e com frio, à madrugada dormir num berço tipo
de criança. Nesta viagem para Benguelafomos de barco e passámos toda a noite a
cantar.
O percurso fora do ambiente
castrense
JA - Qual foi o primeiro
sucesso do Duo Canhoto?
Ekuikui - Foi o "Curiom
Bambi”, tema com que vencemos o festival. E apresentamos em kilapanga. É
importante lembrar que antes já tínhamos a Tchinina, que cantava esta música de
uma forma diferente das nossas velhas, que cantam pisando milho nas pedras e
carrego esta parte com alguns fragmentos.
JA - Ekuikui tem sido bem sucedido nas recolhas que traz...
Ekuikui - São recolhas de
canções da nossa terra e eu vivi estes temas. E volto a fazer mais tarde no
"Omboio”, outro grande sucesso também na voz da Pérola, numa interpretação
cedida pelo Duo Canhoto. E nós também gravamos aquela obra que deu sucesso à
Pérola. O "Omboio Ikola” é uma recolha que o Duo Canhoto faz de quatro canções
populares e seus fragmentos, que resulta numa única música que denominamos
"Omboio”.
JA - Muitos jovens buscam inspiração no Duo Canhoto...
Ekuikui - Muita gente vem e
diz que foi por nós que eles surgiram. O que nós fazemos é algo que vem da alma
e as viagens fizeram de nós outra coisa, as mesmas pessoas mas não a mesma
coisa.
JA - Quais foram as viagens mais marcantes?
Ekuikui - Todas foram especiais. Por exemplo, na primeira oportunidade que tivemos de viajar para o exterior surgiram dois convites, para a Expo’98 e para o Festival Mundial da Juventude na Costa da Caparica, em Portugal, e em meses seguidos, Julho e Agosto.
Também marcante foi a viagem
à Argélia, onde participamos no segundo Festival Pan-Africano. Foi marcante
porque tivemos a oportunidade de realizar espectáculos em várias províncias e
conviver com músicos e cidadãos de diversas nacionalidades africanas. Outra foi o Quinto Festival de Cultura de
Xai-xai, em Moçambique, onde fomos os convidados especiais e também participou
o grande Hugh Masekela. Foi daí que surgiu o convite para a Argélia. Depois
fomos para Moscovo e outros destinos: Índia, Japão, São Tomé e Príncipe,
Zâmbia, Coreia do Sul, Suíça, Cuba... Até ao Cazaquistão fomos.
JA - E depois os fãs começam a perguntar para quando o disco...
Ekuikui - Exactamente. Não
estava fácil.
Carlos Lopes, a mão direita do "Lado Esquerdo”
JA - Como aconteceu o encontro com o Carlos Lopes?
Ekuikui - Numa actividade na
embaixada portuguesa. Antes apenas ouvíamos algumas músicas dele. Neste
encontro, conversámos e ele manifestou a intenção de fazer uma música connosco.
Ficamos um tempo sem contacto até que fomos convidados pelo comandante Paiva,
que foi nosso chefe nas TGFA, para
fazermos alguns eventos nas cadeias do Cuanza-Sul. Foi num dos momentos de
lazer em que estávamos num restaurante que Carlos Lopes nos reconheceu. Tivemos
uma conversa séria em que ele perguntou pelo disco, nós respondemos que estávamos
na luta. Ele não prometia tudo, mas garantia alojamento, gravação total e
edição do disco em Lisboa e pediu que arranjássemos alguns apoios para as
passagens. Depois tivemos de bater algumas portas. Não podemos esquecer a TAAG,
a Fundanga, os nossos amigos Álvaro Macieira e o comandante Ekuikui.
JA - E deste modo temos o disco "Lado Esquerdo”...
Ekuikui - É verdade. Fizemos a gravação em Dezembro de 2004 e foi lançado no dia 17 de Julho de 2005. Não imaginam o quanto o senhor Carlos Lopes fez por nós!Não sabemos como retribuir. É uma dívida moral que não tem preço.Como retribuir, apenas cabe a Deus, porque não é fácil.
Mito – Olha, agradecemos às
rádios que até hoje continuam a tocar as nossas músicas "Sara”, "Teresa”, "Não
me provoques”, "Canto sofrido” e outras.Quanto aos escritores, estivemos nos
lançamentos de muitas edições literárias. Temos a Chô do Guri, Roças da Costa,
Luís Pimentel, Raul David. Nós temos a particularidade de tocarmos vários
estilos, vamos desde a kilapanga, tchisosi, ao semba e muito mais.
Segundo álbum: "Primeiro os pentes depois os parentes”
JA - Passados dezanove anos a luta continua. Em que pé está o segundo disco?
Ekuikui: É complicado falar
disso. Para lhe ser sincero já nem gostaríamos de comentar. Vê que estamos há
mais de dez anos nesta segunda obra, em que tivemos o apoio de vários amigos,
algumas instituições como os ministérios da Cultura e do Interior, que deram
algum suporte, o que facilitou para darmos entrada no estúdio.
JA - O que aconteceu?
Ekuikui - Encontramos estes
entraves: primeiro a crise, depois a
Covid-19 e agora a nova crise. Primeiro os pentes, depois os parentes. Amúsica
passou para depois e os apoios ficaram adiados. O mundo de hoje exige alguma
qualidade não só de captação mas também de imagem e estamos agora nesta guerra,
não apenas para sair o áudio mas também os vídeos. Diferente do primeiro disco,
em que não apostamos muito na
imagem,queremos reverter isso. Mas tudo passa por dinheiro.
JA - O que tem este disco?
Mito - Temos doze faixas bem gravadas, com uma diversidade musical enorme. Não tem nada a ver com o primeiro trabalho. Temos David Songo, um poeta que não é tão conhecido mas tem uma obra muito linda, que é o "Kamutra”. Como sempre há uma boa parte de recolha do cancioneiro angolano,não da forma como devia mas à nossa maneira,porque o mundo é dinâmico e carregamos apenas alguns fragmentos de forma que este passado não morra. Há muitas parábolas e provérbios. Por exemplo, falamos do "Ngombe ya Tate” (O boi é do papá),que é a dívida dentro de nós, em muitas famílias.
Lembro que na minha banda, havia mais velhos que tinham muitas cabeças de gado, muitos dos filhos não estudavam e iam pastar o gado. Também outros que depois de uma certa idade iam para o serviço voluntário na colheita do café no Uíge,mas para isso acontecer tinham de ter passagens. Alguns vendiam os bois com a intenção de conseguir o dinheiro para adquirir as passagens e mais tarde devolver, mas não é isso que acontecia. A vida traz connosco outros paradigmas e aí adquirimos a dívida grande, "Ngombe ya Tate”. E como existe aquele momento em que a saudade fala mais alto, decides esquecer esta dívida para regressar a casa. Olha que na fase da tropa havia quem entrava voluntariamente e outros que eram apanhados, mas tambémhavia aqueles que arranjavam problemas em casa e fugiam porque pensavam que quando voltassem da tropa já ninguém mais os incomodaria ou já não pagariam as dívidas. Mas isto às vezes não acontece.
Tem o "Alô Mamã”, que é a
história de um indivíduo que sai da zona rural para experimentar a vida na cidade e aqui chegado encontra grandes
dificuldades. Ele não consegue enquadrar-se e diz que pretende voltar. São
estas coisas do quotidiano que também apresentamos.
JA - Foram à busca do Dodó Miranda para trabalhar na produção do disco?
Ekuikui – Sim, porque ele é um amigo de carreira que carrega consigo algum conhecimento técnico e confiamos nele. Tentamos partilhar esta caminhada, agora caberá ao público aprovar este casamento.
Mito - Devemos enaltecer e
engrandecer, o Dodó Miranda é uma pessoa muito humilde,porque pelo tempo que
começamos o trabalho e pelas condições financeiras que apresentamos, numa
altura em que não estava bem alicerçado, se fosse outra pessoa desistiria.
"Apostar na trova é uma morte social”
JA - Com estas dificuldades todas nunca sentiram a tentação de saírem da trova?
Mito - É uma pergunta muito pertinente. Olha, isto faz-se sentir no próximo disco. Muitos dirão que o Duo Canhoto desviou-se, mas não é nada disso. Temos algumas músicas que requerem mais suporte instrumental, mas a nossa base, que é o violão, a guitarra, a voz e a poesia, está lá.
Ekuikui - A verdade é que,
falando sem tabus, apostar na trova aqui em Angola é uma morte certa, socialmente ela não rende.
Mas lá fora pode render, porque a proposta é para os grandes festivais
internacionais.
JA - Isto está visível no primeiro disco, que é uma visão para o exterior. Este é o alvo do Duo Canhoto?
Ekuikui - Temos obras que
servem para participar em qualquer festival do mundo, mas existem outros grupos
e artistas nacionais também com capacidade suficiente para participar, mas isto
é trabalho para alguém que deve acompanhar o calendário dos festivais que
existem pelo mundo para levar artistas adequados a estes festivais. Por exemplo, nós temos recebido convites, mas
a questão do transporte inviabiliza. Temos recorrido a algumas entidades, mas
infelizmente nem sempre estão
receptivas.
JA - O que falta então?
Ekuikui -Os artistas
cumpriram a sua parte. Estes fazem até uma determinada parte, porque a
divulgação e a promoção destes ou de outros valores culturais é uma questão do
Estado, de empresários, de pessoas com visão que procuram por estes festivais.
É isto que sinto que falta.
Sexta de Trova no Palácio e
os seus contornos
Como nasceu o projectoSexta de Trova no Palácio?
Ekuikui - Devo dizer que os
dentes falaram mais alto.Não contávamos com quem nos veio solicitar, o João
Vigário. Já trabalhámos com ele noutros projectos, como a Trienal de Luanda.
Tivemos sempre uma familiaridade e amizade muito próximas, e ele sempre mostrou
o interesse em nos ajudar e revitalizar o movimento da trova, que está em risco
de extinção. Foi assim que em Novembro do ano passado ele disse que não podia
aceitar isto e que ele oferecia o espaço do Palácio de Ferro para todas as
sextas-feiras garantir o palco para o Duo Canhoto e seus convidados. Quando
perguntou se estávamos dispostos, nós não tínhamos como negar. Olha,eu, natural
do Mungo,ter a sorte e a oportunidade de ter um espaço como este em Luanda, com
garantia de palco, som, iluminação, cachet, transporte e alimentação nos dias
de concertos, imagine o quanto é importante. Começamos do nada e agora cabe ao
público julgar o quanto se tem feito. Devemos agradecer aos convidados que nos
têm ajudado, dando esta imagem, a partir da Ângela Ferrão, as irmãs Judith e
Esther, Gabriel Tchiema, Zé Fixe, Júlio Gilberto, Dodó Miranda, Dino Ferraz,
Unekka e tantos outros a quem não sabemos como agradecer. Só mesmo a Deus.
JA - Este projecto dá uma grande responsabilidade ao Duo Canhoto neste processo de revitalização da trova...
Mito - A nossa ousadia e
teimosia pelos anos que passaram...Não está sendo fácil, ainda existem pessoas
que encaram a trova como sendo algo para fazer dormir. Com este movimento
muitas pessoas estão a perceber que é um género que deve ser preservado,
mantido, no sentido de que há
espiritualidade não apenas noutros estilos de música mais mediáticos. É
como disse um amigo: a trova deveria ser vendida na farmácia pela sua carga
terapêutica e a quem sabe tirar proveito dela. Temos um grande amigo, o kota
Manuel Rui Monteiro, que disse que este tipo de música lhe dá inspiração para
fazer poemas bonitos.
JA - E como olham para os novos trovadores?
Mito - Nós nascemos num movimento de trova. O que se faz hoje está muito distante, nem estou a falar da temática, que será mais política, mas falo das técnicas de composição.
Ekuikui – Há falta de
trovadores natos. Penso que ainda existem, nas aldeias há coisas boas, mas hoje
só se divulga aquilo que ‘está a bater’,não há aquele incentivo. Olha o Man Ré,
olha para a música dele que toda a gente cantava, o Dadão que em uma ou duas
semanas conquistou muita gente... Há muitos artistas anónimos e lanço aqui um
alerta para que os jornalistas busquem aqueles que andam a fazer coisas.
JA - Esta pergunta poderia ser das primeiras mas deixei para o fim. Porque que não alteraram as cordas das guitarras ou porque não tocam nas adaptadas para canhotos, que surgiram depois?
Ekuikui - Porque quando aprendemos, os nossos tios diziam que não podíamos tocar e isto criou-me o desafio de que eu iria tocar. Não tínhamos guitarra para canhotos e, segundo, é que eles desafinavam a guitarra para não mexermos. Primeiro gravei a tonalidade de cada corda, depois aprendi a jogar a criptografia de como ele movimentava os dedos, as manobras que fazia e depois transportar isso para o meu interior.
Depois passei para o lado esquerdo e um dia chamei o tio e disse-lhe que eu já sabia tocar guitarra. Para comprovar deu-me a guitarra, mas eu pedi que desafinasse porque era o que ele fazia, foi assim que afinei e toquei algumas notas. Ele foi ter com a minha mãe e disse: "Mana cuidado com este rapaz, temos aqui um génio muito estranho, ele tocou na minha guitarra sem trocar as cordas e agora se o vir a pegar nela não o incomode e vamos ver onde ele vai chegar”. E aqui estou hoje.
Mito - A vantagem de não tocarmos em viola invertida é que caso rebente uma corda podemos facilmente substituir. Ou um destro pode emprestar a sua guitarra.
Seja o primeiro a comentar esta notícia!
Faça login para introduzir o seu comentário.
LoginEm entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, fez a radiografia do sector, dando ênfase aos avanços registados em 22 anos de paz. Neste período, houve aumento do número de camas hospitalares, de 13 mil para 41.807, e da rede de serviços de saúde, que tem, actualmente, 3.342 unidades sanitárias, das quais, 19 hospitais centrais e 34 de especialidade. Sobre a realização de transplantes de células, tecidos e órgãos humanos, a ministra disse que, com a inauguração de novas infra-estruturas sanitárias e a formação de equipas multidisciplinares, o país está mais próximo de começar a realizar esses procedimentos
Assume-se como uma jornalista comprometida com o rigor que a profissão exige. Hariana Verás, angolana residente nos Estados Unidos da América há mais de 20 anos, afirma, em exclusivo ao Jornal de Angola, que os homens devem apoiar as mulheres e reconhecer que juntos são mais fortes e capazes de construir uma sociedade equitativa e próspera. A jornalista fala da paixão pela profissão e da sua inspiração para promover as boas causas do Estado angolano, em particular, e de África, em geral.
Por ocasião do Dia Nacional da Juventude, que se assinala hoje, o Jornal de Angola entrevistou o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Isaías Kalunga, que aconselha os jovens a apostarem no empreendedorismo, como resposta ao desemprego, que continua a ser uma das maiores preocupações da juventude angolana.
No discurso directo é fácil de ser compreendida. Sem rodeios, chama as coisas pelos nomes e cheia de lições para partilhar com as diferentes áreas e classes profissionais. Filomena Oliveira fala na entrevista que concedeu ao Jornal de Angola em Malanje sobre a Feira Agro-industrial, mas muito mais da necessidade de os organismos compreenderem que só interdependentes se chegará muito mais rápido aos objectivos.
Pelo menos 21 pessoas morreram na sequência de um naufrágio que ocorreu no Rio Lufira, na zona sudeste da República Democrática do Congo (RDC), tendo 11 dos passageiros conseguido salvar-se, noticia hoje a agência espanhola EFE.
O Festival Internacional de Jazz, agendado para decorrer de 30 deste mês a 1 de Maio, na Baía de Luanda, tem já confirmada a participação de 40 músicos, entre nacionais e estrangeiros, e o regresso da exposição de artes visuais com obras de 23 artistas plásticos, anunciou, sexta-feira, em conferência de imprensa, no Centro de Imprensa da Presidência da República, CIPRA, o porta-voz da Bienal de Luanda, Neto Júnior.
A judoca angolana Maria Niangi, da categoria dos -70 kg, consegui o passe de acesso aos Jogos Olímpicos de Verão, Paris'2024, ao conquistar, sexta-feira, a medalha de ouro no Campeonato Africano de Judo que decorre na Argélia.
A representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em Angola, Denise António, destacou, sexta-feira, em Luanda, a importância do Governo angolano criar um ambiente propício para a atracção de mais investidores no domínio das energias renováveis.
O artista plástico, João Cassanda, com a obra “Mumuíla Feliz”, e o escultor Virgílio Pinheiro, com a escultura “Piéta Angolana”, são os vencedores da 17.ª edição do Grande Prémio ENSA-Arte 2024, tendo arrebatado uma estatueta e um cheque no valor de seis milhões de kwanzas.
Nascido Francis Nwia-Kofi Ngonloma, no dia 21 de Setembro de 1909 ou 1912, como atestam alguns documentos, o pan-africanista, primeiro Primeiro-Ministro e, igualmente, primeiro Presidente do Ghana, mudou a sua identidade para Nkwame Nkrumah, em 1945, com alguma controvérsia envolvendo o ano de nascimento e o nome adoptado.