Especial

Teresa Nassoma: A jornalista mais antiga do Cuando Cubango

Carlos Paulino | Menongue

Jornalista

Teresa Nassoma, de 54 anos, é a jornalista mais antiga da província do Cuando Cubango. Diariamente, assume, em exclusivo, a responsabilidade de recolher e tratar as matérias para a apresentação do seu programa em língua nacional Umbundu, na Emissora local do grupo Rádio Nacional de Angola (RNA).

11/03/2024  Última atualização 08H27
© Fotografia por: Carlos Paulino | Edições Novembro

Quadro da Rádio Cuando Cubango há mais de 29 anos e actualmente a funcionária mais antiga desta casa, Teresa Nassoma é natural da província do Huambo e chegou às ”Terras do progresso” quando tinha apenas 16 anos por intermédio do seu irmão mais velho, já falecido, que para aí foi colocado na função de Procurador Civil.

Naquela altura, tinha apenas a 6.ª classe.Após ter concluído o Ensino Médio na escola 22 de Novembro  (Puniv), em Menongue, Teresa Nassoma teve o seu primeiro emprego em 1990, no Coverno da província, na altura Comissariado provincial, na secção de telecomunicações. Trabalhou cerca de cinco anos, mas foi obrigada a deixar devido ao problema constante de dores nos ouvidos por causa do barulho dos auscultadores que usavam para receber e transmitir mensagens nas Administrações Municipais e Comunais sobre o ponto de situação da guerra e da população.

Em 1994, ouviu um comunicado na Rádio Cuando Cubango que estava a recrutar novos quadros. Teresa pediu a sua desvinculação da área das telecomunicações do Governo da província, para entrar na rádio. Assim aconteceu e recorda ter sido de "braços abertos” pelo então director, de feliz memória, Miguel Alves Pereira.

Tia Teté, como é carinhosamente chamada, é considerada, também, a mãe de todos os funcionários da Rádio Cuando Cubango. Conta que quando foi admitida encontrou apenas quatro mulheres, sendo duas auxiliares de limpeza, uma jornalista e outra na área da discoteca, onde na altura começou a trabalhar. Passados alguns meses, a sua companheira de trabalho procurou outro emprego, por questões salariais, tendo em conta que naquela altura a RNA pagava salários muito baixos.

Ela continuou e hoje, passados 29 anos de trabalho, ocupa o cargo de editora e chefe do programa da língua nacional Umbundu na Rádio Cuando Cubango.

O seu sonho de se tornar jornalista, recordou, aconteceu com a vinda ao Cuando Cubango, em 2005, do ex-director da RNA o apoio às emissoras provinciais, Miguel Brás, já falecido, que pediu que a mesma saísse da área da discoteca para a área de produção e locução em português, onde viria a assumir anos depois a chefia.

Em 2012, depois do único locutor do programa de língua nacional Umbundu ir para reforma, e por falta de condições financeiras para o recrutamento de um novo quadro, Teresa Nassoma, por falar muito bem o Umbundu, assume o programa, e realiza até hoje, com brio e profissionalismo.

Tia Teté apresenta, de segunda a sexta-feira das 15h às 15h30, o noticiário em língua Umbundu. Aos domingos das 5h às 6h, dirige um programa de entretenimento que já conquistou os ouvintes, pelos elogios que tem recebido destes, o que lhe serve de incentivo para continuar a prestar um serviço de qualidade.

Teresa Nassoma diz que graças a sua resiliência, hoje, tornou-se mãe, conselheira e um exemplo a ser imitado, porque não é fácil uma mulher ser jornalista e ao mesmo tempo uma dona de casa.

Desafios ao longo da profissão

Tia Teté recorda que enfrentou muitos desafios ao longo do seu percurso profissional. "Houve um tempo em que a Rádio Nacional de Angola estava muito mal, financeiramente, e devido a esta situação poucas pessoas aguentaram, e deixaram a rádio, mas eu permaneci e jurei que não importa as dificuldades iria aguentar até a minha reforma”, disse.

Segundo ela, o jornalismo é uma profissão em que  a pessoa se deve entregar de corpo e alma, porque o profissional só sabe a hora de entrar no serviço e não sabe a hora de voltar para a casa. Por isso, diz ser uma profissão muito difícil para as mulheres, que vêem os seus lares abalados por causa do tempo que, por vezes, não têm para cuidar dos deveres de casa, do marido e dos filhos.

Com a Teresa Nassoma, a coisa não é diferente. Recorda que muitas vezes teve problemas no lar, pois o seu companheiro ficava aborrecido pela sua ausência constante.

Até hoje, diz ela, a situação não tem sido fácil, mas é superada por meio do diálogo que é a base fundamental nos casais. Em sua opinião, as mulheres que quiserem se afirmar nesta profissão têm de ser resilientes.

A par do desafio do trabalho, Teresa Nassoma decidiu também dar continuidade aos seus estudos e em 2014 concluiu o curso superior de Enfermagem na Universidade Cuito Cuanavale. Apesar de ser uma área que não tem qualquer ligação com a profissão que exerce, fê-lo, porque quando aquela instituição académica começou a funcionar na província, na altura como Universidade Mandume Ya Ndemufayo, só contava com os cursos de Matemática, Enfermagem e Biologia.

Olhando para trás, da-quilo que passou desde a sua entrada na Rádio, Teresa Nassoma sente-se uma verdadeira mulher resiliente, porque teve que enfrentar com coragem várias vicissitudes no trabalho e no lar. Tia Teté é mãe de cinco filhos, um dos quais que está a frequentar o último ano do curso de Comunicação Social no Instituto Superior Politécnico Privado de Menongue (ISPPM) e já está a estagiar na Rádio Cuando Cubango.

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