Em quase toda parte da cidade de Luanda, bem como em outras cidades de Angola, é comum ver mototáxis circulando. Em busca de melhores condições de vida, Augusto Kalunga viu-se obrigado a se tornar um mototaxista, superando o preconceito de familiares e amigos para garantir o sustento da sua família e cobrir outras necessidades.
O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, reconheceu, sábado, no município de Caungula, província da Lunda-Norte, que ao longo dos 22 anos de paz e reconciliação nacional, o país conseguiu alavancar muita coisa, mediante à criação de boas infra-estruturas, tendo apontado a ausência da construção da mentalidade humana como o “elo mais fraco“ nesta importante caminhada para a construção integral da vida dos angolanos.
Os heróis da histórica Batalha do Cuito Cuanavale clamam por mais valorização e reconhecimento da parte do Executivo, tendo em conta o grande contributo que deram para a defesa do país, a independência da Namíbia, a libertação de Nelson Mandela e o fim do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul.
A batalha, que se desenrolou de 15 de Novembro de 1987 a 23 Março de 1988, no município do Cuito Cuanavale, província do Cuando Cubango, envolveu as Forças Armadas de Libertação de Angola (FAPLA), com apoio das tropas cubanas, contra o braço armado da UNITA e o exército sul-africano.
O Jornal de Angola ouviu alguns antigos combatentes que lutaram contra o exército sul-africano.
Luís Mariano, de 58 anos de idade, lamentou o facto de, até ao momento, não receber nenhuma pensão de reforma, por ter participado na batalha do Cuito Cuanavale.
O antigo militar conta que, na época, tinha apenas 22 anos de idade e ostentava a patente de subtenente das FAPLA.
Além da pensão de reforma, Luís Mariano apela ao Executivo a apoiar os heróis da Batalha do Cuito Cuanavale com meios que incentivem o auto-emprego, para o aumento da sua renda e evitarem mendigar.
"Urge a necessidade de se valorizar os protagonistas da Batalha do Cuito Cuanavale, através de acções que contribuam para o desenvolvimento socioeconómico, promoção e incentivo ao associativismo corporativo, fundamentalmente no sector agro-pecuário”, defendeu.
A fonte entende ainda que o Governo devia atribuir casas nos projectos habitacionais do Estado, na modalidade de renda resolúvel e passar para a reforma os oficiais reconhecidos pelos órgãos de pessoal e quadros, a fim de serem inseridos na Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (FAA).
Vitória de todos os africanos
Com 34 anos de idade na altura, Armando Fulai ostentava a patente de capitão e ocupava o posto de comissário da 6ª Região Militar e responsável pelo armamento do tipo D-30, de 130 milímetros, com alcance para mais de 40 quilómetros de distância.
Questionado, disse que a Batalha do Cuito Cuanavale representa uma grande vitória para todos os africanos.
Para honrar os heróis daquela Batalha, tanto os vivos como os mortos, acrescentou, não basta construir um Memorial ou outras infra-estruturas, mas sim dignificar com programas e projectos que visam melhorar as suas condições de vida e das suas famílias.
"Foi importante honrar os combatentes mortos através da construção de um memorial, mas os vivos devem ser inseridos na Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas, para que possam usufruir de pensões de reforma”, apelou.
Segundo Armando Fulai, muitos combatentes morreram, outros tornaram-se incapacitados, tendo deixado viúvas e órfãos. "Para que sejam devidamente honrados, urge institucionalizar o título de herói da Batalha do Cuito Cuanavale, através de diploma legal”, disse.
Armando Fulai sublinhou que os heróis da Batalha do Cuito Cuanavale cumpriram com as palavras do primeiro Presidente, Agostinho Neto, que afirmava que "na Namíbia e na África do Sul está a continuação da nossa luta”
O antigo militar lamentou o facto de, até ao momento, não beneficiar da sua reforma, situação que perdura desde 2009 e que já levou ao conhecimento do governador do Cuando Cubango, José Martins.
Pagamento dos ordenados
O major reformado Pedro Agostinho de Paiva, que no desenrolar da Batalha tinha a patente de 1º tenente das FAPLA e exercia o cargo de chefe de Finanças da 1ª Brigada de Infantaria Motorizada, disse que nunca esteve directamente ligado aos confrontos e ia apenas às matas para fazer o pagamento dos ordenados das tropas.
Naquela época, lembrou, os ordenados eram pagos em mão e, apesar da guerra, os militares gostavam de receber os seus salários mesmo na mata, alegando que "o dinheiro é melhor no bolso do dono e é bom morrer com ele”.
O pagamento, prosseguiu, era efectuado com vários meses de atraso e, normalmente, nos períodos em que havia uma pequena pausa nos combates, sendo obrigado a deslocar-se através das trincheiras, ao encontro dos batalhões para poder pagar os ordenados. "Começava a pagar a tropa a partir das 17 horas de um dia e terminávamos às 5 horas do dia seguinte, em todas as brigadas, unidades e batalhões”, disse, acrescentando que era obrigado a ir ao encontro das tropas, porque estavam sempre em acção combativa e era impossível fazer o pagamento nas unidades a que pertenciam.
Além do pagamento dos ordenados, Pedro Agostinho de Paiva era também responsável pela compra dos alimentos para os combatentes que estavam na linha da frente durante a Batalha do Cuito Cuanavale.
Marco histórico
Em relação à data que hoje se assinala, o mesmo afirma ser um marco histórico para a África Austral e, principalmente, para os angolanos. "É necessário honrar os combatentes enquanto vivos e não depois de falecerem”, apelou.
"Já nos prometeram muito e até ao momento nunca nos deram nada. Não sabemos mais o que fazer, se um dia seremos honrados ou não pelos feitos que fizemos para a conquista desta histórica batalha”, lamentou.
Os antigos combatentes, disse, precisam, pelo menos, de kits de trabalho para os ajudar a ter alguma fonte de renda, além da sua inserção em projectos habitacionais. "Não pode ser reconhecida apenas a data que terminou a Batalha do Cuito Cuanavale, mas também as pessoas que estiveram envolvidas nesta guerra que contribuiu para a libertação da África Austral”, apelou, lembrando que esse reconhecimento deve abranger as viúvas e órfãos dos que pereceram.
Jovens defendem maior divulgação da Batalha do Cuito Cuanavale
Mais de 180 jovens de diferentes pontos do país defenderam a necessidade do Executivo promover acções e programas que visam divulgar as distintas batalhas que assolaram o país, com realce para a do Cuito Cuanavale, que teve um grande impacto na região da África Austral.
Os jovens falaram no final da palestra com o tema "Antecedentes políticos, económicos e militares no contexto nacional, regional e internacional da Batalha do Cuito Cuanavale”, promovida pelo Ministério da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, em alusão às celebrações do 36º aniversário da Batalha do Cuito Cuanavale e que teve como prelector o general reformado das Forças Armadas Angolanas Higino Carneiro.
Segundo o jovem Paulo Santinho, da província do Namibe, o Executivo deve disseminar a informação sobre os conflitos armados que aconteceram no país e os principais protagonistas, para que a História de Angola não se apague ou se esqueça com o tempo.
A Batalha do Cuito Cuanavale e outras guerras que aconteceram, disse, estão "mortas”, e é necessário que haja mais divulgação, com a realização de palestras, colóquios e elaboração de livros, que podem ser divulgados nas escolas e expostos em bibliotecas.
Para o jovem do Namibe, o Executivo deve apoiar a publicação de livros sobre as batalhas que durante anos ocorreram no país, para que o mundo possa conhecer a verdadeira história que levou à conquista da paz.
Jandyr Pimentel, da província do Cuanza-Sul, disse ser a primeira vez que ouve falar sobre a Batalha. Defendeu a realização de mais colóquios em vários pontos do país, principalmente em escolas do ensino médio e superior, para que os jovens possam conhecer mais sobre o período de guerra que Angola viveu.
Durante o colóquio, disse, aprendeu muito sobre as Batalhas do Cuangar, Cuito Cuanavale, Baixa de Cassange e os principais protagonistas. "Com o contar da verdadeira história, muitos jovens jamais pensarão em voltar ao passado, mas, sim, olhar para o futuro”, destacou.
Ouvir as histórias das guerras que assolaram a nação durante vários anos, acrescentou, não é suficiente. "É necessário elaborar-se obras literárias para que as gerações vindouras possam aprender, através dos mestres mudos, sobre o que aconteceu ao longo dos anos e o seu contributo para que muitos países de África se tornassem independentes”, apelou.
Hélder Neto, da província do Cuanza-Norte, enalteceu a iniciativa do Ministério da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, ao juntar um público juvenil de diferentes províncias, para aprenderem mais sobre a história de Angola.
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